Sobre palácios, corredores e portas abertas…

Marileide Cassoli

Elaine Teixeira

 “Depois, escuridão. Valente tem o rosto sobre a relva. A escuridão é menos fechada: é vermelha. O olho do herói mais próximo da terra vê dois ou três fios de relva grossos com troncos”.

“Aproxima-se um soldado, sussurra para Valente que o morro foi conquistado. Por Valente agora falava o autor: ‘O que significa morrer?’ É a palavra, em geral, que faz medo. Mas quem morre, e sabe disso, não sente nem calor nem frio nem dor.” Sabe apenas que cumpriu com seu dever e que a Loma que conquistou portará seu nome. (…) Cheguei ao fim dos meus anos de primário, que se concluíam com a morte de Valente. Os livros do ginásio eram menos interessantes, falando sobre reis de Roma ou dos polinômios e, fascista ou não, você tem que dizer mais ou menos as mesmas coisas. Mas havia alguns cadernos de “Crônicas” do ginasial. Houve algumas reformas nos programas e não se exigiam mais redações com tema fixo, éramos evidentemente estimulados a contar episódios de nossas vidas. E mudara também a professora, que lia cada crônica e, com um lápis vermelho, escrevia não uma nota, mas um comentário crítico sobre o estilo ou a criatividade. Por certas desinências das observações (“fui surpreendida pela vivacidade com que …”) percebia-se que lidávamos com uma mulher. Certamente uma mulher inteligente (talvez a adorássemos, pois lendo aquelas mensagens em vermelho sentia que ela devia ser jovem e linda e, só Deus sabe por quê, amante de lírios-do-vale), que tentava nos estimular a ser sinceros e originais”.¹

O Palácio da Memória. É com este belo título que o também escritor, Marco Lucchesi, inicia a apresentação do romance de Umberto Eco: A misteriosa chama da Rainha Loana. Nele, se misturam as memórias de Yambo-Eco. A viagem empreendida pelo personagem, Yambo, de volta à casa onde viveu sua infância e parte da juventude, com o objetivo de recuperar a memória afetiva perdida após meses em coma, conduz aqueles que o acompanham nesta viagem ao universo de um menino, Eco, durante a ascensão do fascismo e da II Guerra Mundial. Personagem e autor se fundem e descortinam um fabuloso universo de “lembranças, de suspiros (mitigados) e saudades”.²

A Coluna Entrememorias vem, mais uma vez, convidar a que se aventurem pelo “palácio da memória”. Percorram seus corredores, abram suas portas e nos permitam adentrá-las. Assim como Yambo-Eco nos brindem com suas lembranças dos tempos de escola e/ou de seus percursos como profissionais da educação.

Que as portas se abram, e que as lembranças pessoais se tornem peças de um grande quebra-cabeças da educação no Brasil.

Editoras da Coluna Entrememórias

¹ECO, Umberto. A Misteriosa Chama da Rainha Loana. Rio de Janeiro; São Paulo: Editora Record, 2005. p. 209-210.

²LUCCHESI, Marco. O Palácio da Memória. Contracapa. In: ECO, Umberto. Op. cit.


Imagem de destaque: Grupo Editorial Record https://zp-pdl.com/how-to-get-fast-payday-loan-online.php zp-pdl.com https://zp-pdl.com/how-to-get-fast-payday-loan-online.php http://www.otc-certified-store.com/antifungals-medicine-europe.html

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