‘Situação é de crise, mas o que fazer com alunos?’

‘Situação é de crise, mas o que fazer com alunos? ‘

A frase acima foi dita ao jornal O Dia, do Rio de Janeiro, pelo professor Roberto Leher quando de uma de suas primeiras  entrevistas depois de eleito Reitor da UFRJ, e serviu de chamada principal do jornal para o assunto.

Se, àquela altura, 9 de maio de 2015, a pergunta do professor já era emblemática, imagine hoje o que estarão perguntando não apenas o reitor da maior universidade federal do Brasil, mas os reitores de todas as universidades e institutos federais espalhadas pelo país. De lá para cá, em meio à crise política e econômica e à contínua falta de sintonia do governo federal com as forças que elegeram a Presidente Dilma Rousseff para um segundo mandato à frente do país, a situação das instituições federais de ensino piorou significativamente.

Continua muito atual a pergunta sobre “o que fazer com os alunos?”, já que as universidades foram convidadas (ou obrigadas?) a aderirem ao “esforço” de reestruturação das universidades, o REUNI, aquele programa que, segundo o ex-Ministro da Educação, Fernando Haddad, foi encomendado por Lula em dezembro e entregue pelo  ministério  em março(!). No fundamental, o REUNI foi tão somente um grande programa de expansão das universidades por meio do aumento de vagas. Ocorre que em muitas instituições, os alunos já chegaram  mas os  prédios, os professores e demais condições para acolhê-los com qualidade não  vieram.

Resultado: prédios inacabados,cursos sem professores suficientes para atender aos alunos, salas superlotadas, impossibilidade de políticas e ações de assistência, insuficiência de bolsas acadêmicas etc etc etc.

Mas, quem acompanha o dia-a-dia das universidades e dos institutos federais sabe que a dúvida que atormenta os professores, os alunos e os técnicos não é apenas “o que fazer como os alunos?”. É muito mais do que isso! Os funcionários estão há quase 4 meses em greve,  muitas pesquisas foram suspensas ou correm o risco de serem interrompidas por falta de recursos, bolsas em atraso, laboratórios caros correndo o risco de se tornarem obsoletos, dentre outras situações igualmente importantes para o funcionamento dessas instituições.

Essa pequena caracterização, que a alguns pode parecer alarmista, certamente não reflete minimamente os diagnósticos que são feitos de norte a sul do país a respeito dessas instituições. Mas, se o presente se apresenta assim tão desolador, não menos preocupante são as expectativas de muita gente com o futuro das universidades e centros federais de ensino.  Sobretudo no que toca às universidades, o país demorou décadas, e pagou caro, para construir um sistema de ciência e tecnologia ancorado justamente nessas instituições, e corre o risco de ver esse esforço esvair-se rapidamente pela incompetência para evitar a crise e, uma vez que esta se instalou,  em sua gestão.

Cortar simplesmente no orçamento, sem critérios e sem a pactuação de prioridades significa não apenas uma traição aos acordos anteriormente estabelecidos com as instituições, mas, também e, sobretudo, uma forma das mais fáceis de comprometermos nosso futuro. Se em tempos de vacas gordas a política foi a de implementar  “mais do mesmo”,  neste  momento de vacas magras é necessário um mínimo de coragem e de disposição para fazer diferente.

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