Ao perceber o que relata Foucault em sua obra ‘Vigiar e Punir’ – na qual é realizada uma análise da importância dos corpos dóceis na sociedade como forma de controle e, consequentemente, na educação, utilizando-se de uma chamada ‘disciplina’ que “garante” o processo de aprendizado do indivíduo e um ajustamento ideológico – um ambiente que concorre para o crescimento do aluno deve ser pensado a partir do seguinte pressuposto: se aprender é um processo criativo, só aprende quem se expressa.
Carteiras enfileiradas, alunos cada vez mais desmotivados, repetência, um abismo cada vez maior entre o desenvolvimento do necessário conhecimento científico e aquilo que, de fato, o aluno pode (ou consegue) desenvolver; uma muralha cada vez mais alta entre o objetivo do professor e o que é alcançado durante uma aula. Os alunos protestam com sua indiferença (corpos dóceis/disciplinados) ou rebelam-se com sua desmotivação. Não aprendem e, se aprendem, não sabem por que estão aprendendo (para passar no vestibular!!!), e, se sabem por que aprendem, talvez não tenham aprendido aquilo que concorre para a formação de um ser humano integral, uma formação holística.
Se entendermos que o uso de estratégias cognitivas – e, mais do que isso, do desenvolvimento de uma mente capaz de analisar nossa sociedade – advém de um ambiente no qual o ser humano possa aprender, temos que conceber uma comunidade escolar ciente de que, por mais que os(as) professores(as) se esforcem, o trabalho de criar (utilizar-se de seus canais cognitivos para estabelecer relações lógicas/associativas) é do aluno.
A dúvida que se coloca é: estão os(as) professores(as) cientes de que aprender é um processo criativo e se dá, principalmente, por parte do aluno? E que isso ocorre mesmo em aulas nas quais o(a) professor(a) não foi criativo (ou coerente) em sua elaboração? Podem, inclusive, discordar destas premissas.
Se aprender é um processo criativo, o aprendizado envolve alguma forma de expressão, mesmo que, em muitos casos (infelizmente), seja uma expressão silenciosa. O ser humano pode expressar-se por meio da palavra (oral ou escrita), via equações matemáticas, utilizando-se da pintura, do desenho, do corpo, do movimento, das relações sociais (e habilidades interpessoais, ou socioemocionais), dentre outras possíveis formas de expressão.
A dúvida que se coloca é: estão os(as) professores(as) cientes de que para aprender é preciso se expressar? Os alunos são avaliados nas suas mais variadas formas de expressão relativa ao seu conhecimento? É possível que alguns discordem que para aprender é preciso se expressar de alguma maneira, mas isso seria descartar a necessidade do ser humano comunicar-se e transmitir seu conhecimento como forma de sobreviver e de desenvolver suas funções psicológicas superiores (conceito encontrado em Vigotski).
O professor José Pacheco (conhecido por seu trabalho na Escola da Ponte), cita em várias de suas palestras (que podem ser encontradas na internet) a possibilidade do aluno escolher a forma com que será avaliado (de acordo com a melhor maneira encontrada pelo aluno de expressar determinado conhecimento). Penso que, na verdade, no processo avaliativo, o aluno pode escolher a forma na qual sente-se capaz de expressar o conhecimento. Não o conhecimento pronto, mas um saber que se renova, inclusive no momento em que o aluno está sendo avaliado.
O conhecimento pronto, achatado em escaninhos, concebido de uma única forma e, no caso do ambiente escolar, avaliado a partir de um único viés, é aquele que, comumentemente, é praticado nas instituições educativas.
Mas como expressar-se em salas de aula pré-concebidas como um modelo fabril? Mesmo em escolas técnicas, o trabalho com o ser humano advém de relações humanas, não entre sujeitos pré-programados. O conceito de corpo-máquina e de corpos dóceis (citado por Foucault) necessita ser pensado e repensado (e já foi… ou ninguém conhece Charles Chaplin?). Por isso e por tantos outros fatores o ser humano definha… apequena-se mentalmente. Muitas das vezes não aprende, não cria, não se expressa.
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