Trabalho, greve e professores: um olhar – exclusivo

Tiago Tristão Artero

Força, professores! O brado retumbante já está sendo escutado nos quatro cantos do país. Força para buscar melhores condições de trabalho. Força para fazer o melhor trabalho. Força para buscarem qualificação. Nossa sociedade está carente do profissional que tem o maior poder em garantir o crescimento social de um país: o/a professor/a!!!

A formação do ser humano, o desenvolvimento de sua cultura, de seus costumes e de seus relacionamentos sofreu influência marcante da sua forma de trabalho. Entenda-se trabalho como toda ação que está condicionada à sua sobrevivência, às possibilidades de agir, transformar e criar para estar neste mundo. A subsistência permite isso em sua forma mais pura. Pois bem, com o passar do tempo e a especialização da mão de obra, tornou-se preciso alugar a força de trabalho. Isso para que, com o valor do aluguel do meu trabalho,sepudesse adquirir o que os outros produzem. Essa análise é possível a partir do estudo das teorias sociais.

A atividade docente encaixou-se no aluguel de mão de obra, já que ser professor não exige a produção de arroz, feijão e salada para nos alimentarmos. A grande dúvida que surge é: o que determina o valor do aluguel desta mão de obra? Sua importância? A demanda? O equilíbrio da procura e da oferta?

Viajando para os dias presentes, espera-se que com o salário do docente ele (professor, professora)possa adquirir requisitos básicos para viver na sociedade atual. Logo, qual o valor do trabalho do professor?

O professor, por certo, está presente em todas as profissões, não somente no ensino infantil ou fundamental, mas também na graduação e pós-graduação. Logo, todo profissional, mesmo sendo especialista, aliás, principalmente por ser especialista, precisou dos serviços de seus professores, por vezes, colegas de trabalho da mesma área. A atividade docente está contida em todas as áreas. Outra dúvida é: o que faz um grupo de professores ganhar mais do que outro?

Em nossa sociedade, dizer que dá aula para crianças pode gerar um estranhamento, tanto por não ser uma atividade valorizada no meio social, quanto por não ser valorizada salarialmente. A desvalorização salarial transpassa a educação infantil e ensino fundamental e chega às universidades, ondeprofessores doutores e pós-doutores não são tão bem remunerados quanto profissionais com a mesma formação, mas que não atuam na área docente ou na pesquisa.

Assim é como se sentem os professores que estão em greve.

Afinal, para que alugamos nossa força de trabalho? Seria melhor começarmos a roçar e sobrevivermos à base de troca? Assim, não haveria produtos taxados de impostos e nem mesmo serviços públicos… então, estaríamos retrocedendo.

O que inquieta a profissão dos professores é que, decidindo-se ser professor, tenhamos que atuar restritamente, caso queiramos obter um desenvolvimento profissional que nos permita termos o mínimo para sobreviver com dignidade.

Recorrente são os discursos dos políticos e secretários de educação que associam a profissão de professor a um serviço social ou caritativo. Duvidoso é, quando alguém nos parabeniza por sermos professores e ficamos sem saber se o “parabéns”foi dado por exercermos uma atividade relevante na formação da sociedade ou por nos dedicarmos tanto e estudarmos tanto, ganhando tão pouco.

O trabalho é nosso ofício. A justiça reivindicada pelos professores tem por base salários grandiosos que vemos em outros setores do serviço público. Ser um servidor público, de fato, não nos dá direito de querermos juntar grandes fortunas, pois a máquina pública não suporta isso. O que se pede é dignidade, não somente para os professores servidores, mas para todos.

O que ocorre relativamente ao serviço público é que em setores que ganha-se 20, 30 salários mínimos a formação requisitada é a mesma do que a exigida para ser professor, ou seja, nível superior. Não condeno aqui os profissionais que buscam esse tipo de remuneração, mas se a possibilidade existe, por que não diminuir essa distância… esse abismo salarial que existe entre um profissional que ganha valores muito acima dos que os professores ganham?

O discurso de que o salário do professor não garante a qualidade no ensino pode ser em parte real, mas… queremos tudo. Salário melhor, condições dignas e formação de qualidade, tanto para os docentes, quanto para os dicentes.

O Brasil depende de nós, professores.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *