Quando a Escola rechaça o Neoliberalismo, caridade e resiliência caem por terra

Tiago Tristão Artero

A força do mercado é obscurantista e pode, de tempos em tempos, ser violenta, beligerante, a fim de gerar consentimento. Nega a ciência a fim de satisfazer interesses próprios, fortalecendo mecanismos de opressão.

Somos, ao mesmo tempo, oprimidos e opressores e a escola deve buscar entender e superar esta contradição, como diversas autoras e autores indicam, dentre eles, Paulo Freire. Negar o Neoliberalismo é uma questão de ética e permite que abandonemos a doação das migalhas – com o nome de caridade – e a aceitação das mazelas sociais – chamada, genericamente, de resiliência.

O mais bizarro é que estamos dispendendo muitos esforços para manter um sistema predatório e, sem reflexão, patrocinamos o sofrimento da maioria da população e a tirania legitimada pelas instituições. O desprezo pela riqueza e recursos naturais chega ao extremo a ponto de vivermos num mundo com abundância de recursos e mercadorias, mas que, propositalmente, não chegam a todos. Vivemos tempos de escassez, mesmo em meio à abundância.

A “mão invisível” que deveria regular o mercado é a mesma que mata. A Escola não pode se furtar de fazer estas reflexões e agir articulada à sociedade.

Não poderia a Matemática calcular quanto um entregador, num trabalho intermitente via aplicativo, poderá dispor de tempo livre e de elementos que indicam qualidade de vida?

A Educação Física não poderia demonstrar que a cultura corporal não advém somente dos esportes (atualmente, trabalhado sistematicamente nas escolas, pois aguça a competitividade), mas de toda e qualquer manifestação corporal presente nas mais diversas culturas e regiões do país e do globo? (*aliás, nunca vi, durante um ano, uma professora ou professor alterar a supremacia dos esportes no ambiente escolar e desenvolver uma dança diferente em cada bimestre, durante o ano letivo todo – ou uma luta ou modalidade circense por bimestre).

A História, por sua vez, não poderia ser ressignificada pela cultura oral de diversos povos, distanciando-se do discurso dos colonizadores?

Os conhecimentos em Geografia já não estão desenvolvidos o suficiente para incorporar de maneira plena em seu currículo que a condição de subdesenvolvimento de inúmeros povos e nações assim se apresenta devido aos mecanismos impostos pelo capital (e indicar estes mecanismos, bem como formas de superação)?

A Física, juntamente à Informática, já não têm condições de demonstrar o quanto a tecnologia pode ser utilizada em suas funções sociais?

As orações proferidas nas escolas e nas mais diversas instituições (mesmo que de maneira equivocada, dado que estamos em um Estado Laico) deveriam ter como pauta a superação da mais-valia, visto que está promovendo, como nunca, a depressão e os suicídios, mata mais do que a pior das guerras.

Se a escola está, de alguma forma, ligada ao trabalho é sofrível perceber que sua organização concorre, em boa parte das vezes, para a formação de indivíduos que irão naturalizar a prática de um trabalho alienado, alienante.

Elencado estes pontos, rechaçar o Neoliberalismo é uma questão que determina diretamente o quanto humanizadas estão nossas instituições de ensino. A humanização deve reverberar nos mais diversos processos que ocorrem nestes locais.

A naturalização da ideia de que fora do capitalismo não há outra opção é um sintoma de que estamos doentes enquanto seres humanos. Aliás, em termos históricos, o capitalismo é algo recente.

Na tentativa de humanizar as relações e fazer algum tipo de compensação, a caridade é indicada como forma de “ajudar” aqueles que encontram-se em situação pior do que a nossa (na verdade, acho mesmo é que promove algum alívio de consciência).

Diversas linhas da Psicologia indicam a resiliência como maneira de “sobreviver” neste mundo (uma espécie de redução de danos), de aguentar o sofrimento quieto, sem se rebelar, sem buscar mudanças estruturais. Setembro Amarelo continuará indispensável, à medida que as pessoas adoecem mais e tiram a própria vida, no bojo da mentira da meritocracia.

A Escola deve rechaçar o Neoliberalismo e caminhar para o desenvolvimento de novas tecnologias sociais. Isto não é uma opção, é fundamental para que a destruição da vida humana não avance juntamente a do meio ambiente.

Por fim, rechaçar o Neoliberalismo é um dos caminhos para garantir que a tecnologia não sirva para oprimir, que a ciência cumpra sua função social e que a caridade e a resiliência não sejam usadas por igrejas para manter o status quo.


Imagem de destaque: Hennie Stander/Unsplash

www.zp-pdl.com female wrestling www.zp-pdl.com http://www.otc-certified-store.com/analgesics-medicine-europe.html

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *