Pedagogia, paisagem e patrimônio: aulas de excepcionalidade, representatividade e legitimidade

Vagner Luciano de Andrade

 

O entendimento de que é possível o desenvolvimento educacional sustentável a partir da premissa do geoturismo e da interpretação ambiental traz novos cenários e perspectivas. Em Minas Gerais, importantes recortes do patrimônio geológico são apropriados por mineradoras, consolidando cenários de impactos e conflitos. Historicamente, a degradação de muitas paisagens ambientais e culturais é um resumo da mineração, com seus mandos e desmandos sobre territórios referenciais para camponeses, indígenas e quilombolas. Não é preciso nem se lembrar das tragédias de Bento Rodrigues (2015) e Córrego do Feijão (2019) para evidenciar esta questão, quando pessoas foram expropriadas de sua ancestralidade e de sua paisagem simbólica. Essa concepção utilitarista do lugar é uma herança dos tempos coloniais, onde os elementos espaciais possuíam importância apenas se gerassem divisas à Coroa Portuguesa.  Hoje, além de ouro de outrora, o estado protagoniza grande parte dos minérios necessários às indústrias, sobretudo, as internacionais por meio de saídas da commodity. Assim o entendimento do território vai além das prerrogativas capitalistas de reservas minerarias ampliando-se enquanto um recorte educativo interdisciplinar, com novas palavras-chave se fazendo presentes como a geoconservação, a geopedagogia e o geoturismo evidenciando novos horizontes e cenários para comunidades tradicionais.

Quando se vislumbra as perspectivas educativas dos territórios e dos patrimônios geológicos empreende-se discussão a favor da conservação dos legados que permitem compreender a história de formação do planeta Terra. Tais regiões geológicas possuem o inenarrável valor histórico da formação do planeta que pode ser bem apropriado para fins pedagógicos e turísticos. Serras, picos e demais formas do relevo são provas cabais das distintas modificações que o planeta sofreu. Assim, não podem ser vistos apenas como fonte de minerais estratégicos para a sociedade urbano-industrial dos tempos atuais. Nesse ensejo, fazem-se relevantes considerações metodológicas que permitam o uso desses territórios, além da efêmera prática capitalista minerária, e assim ponderar a conservação para fins de aprendizagem e contemplação dos marcos singulares geológicos na paisagem geomorfológica. E a Rede Ação Ambiental, através do Programa Agente Ambientais em Ação, tem empreendido ações destinadas à valorização destes espaços em conjunto com demais movimentos sociais mobilizados na Grande BH. A ideia é a criação do Circuito Ecológico e Cultural do Quadrilátero Aquífero, potencializando a ação pedagógica e turística dos territórios do Quadrilátero Ferrífero evidenciando novos panoramas, usos, sentidos, significados e apropriações.

Nessa linha de amplitudes de usos, os geoparques são uma proposta ímpar para os geopatrimônios ou geossítios. Geoparque tem a importante função de preservar paisagens e patrimônios evidenciando sua função pedagógica e exponenciando a excepcionalidade, a representatividade e a legitimidade de cenários ameaçados pela irresponsável mineração. Quando se discute o uso pedagógico de uma paisagem e/ou patrimônio geológico, muitas tessituras se formatam, com ênfase nos agrupamentos culturalmente inseridos nos espaços com os quais interage e dialoga permanentemente. Diante do exposto, o tempo presente apresenta as possibilidades e potencialidades do Quadrilátero Ferrífero – MG convocando e mobilizando a tod@s. O território tem aspectos ambientais como a Pedra Grande, elevação à Noroeste da capital do Estado localizada entre os municípios de Igarapé e Itatiaiuçu. Esta região de preservação ambiental dos mananciais das represas do Rio Manso e Serra Azul,centro das Minas Gerais dimensiona impactos significativos decorrentes da mineração. Suas paisagens do trabalho agrícola se caracterizam por múltiplos aspectos vinculados às tradições camponesas e quilombolas.

As localidades de Pequi e Sousa são importantes redutos da mineiridade, produzindo importantes hortifrutigranjeiros e materializando riquezas culturais como a relação com o pequizeiro, à festa do Congado dentre outros saberes e fazeres. A cultura material e imaterial se amplia com possibilidades e potencialidades em todas as áreas do Quadrilátero Ferrífero – MG expondo cenários que possam contribuir para a sua conservação. São paisagens naturais e culturais que protagonizam a premissa do desenvolvimento educativo sustentável. Alguns estudos respectivos às paisagens e patrimônios tem apoio financeiro das mineradoras, como contrapartida pelos estragos ocasionados e pelas ameaças existentes. Mas novos estudos devem se concentrar em entender quais os impactos minerários sobre as localidades e sua cultura, e como a mineração afeta jeitos de ser e estar no mundo, em espacial quando ocorre o topocídio, o assassinado do lugar. Além de apresentar sobre o pico da Pedra Grande, Noroeste do QF, suas singularidades culturais e ecológicas propõem-se novos olhares e questionamentos pedagógicos sobre paisagem e patrimônio. A partir da geopedagogia, do geoturismo e da interpretação ambiental, novas facetas didático-pedagógicas se consolidam socializando a excepcionalidade, a legitimidade e a representatividade de paisagens e patrimônios. Ecopedagogia ou Geopedagogia, termo proposto por Moacir Gadotie outros teóricos está relacionado como uma visão geopolítica e geoestratégica para a educação, para além da economia, da ecologia e da sustentabilidade. O conceito inclui abordagens da planetaridade, educação para o futuro, cidadania planetária, virtualidade e a Pedagogia da Terra com enfoque nos paradigmas da Terra como uma comunidade global. Os princípios incluem processos de “co-educação”, como marco da cultura sustentável, dentro e fora das escolas, além das relações com o ambiente, quotidiano da vida, profundo valor da existência e projetos de vida apropriados para a construção coletiva da Carta da Terra.

Sendo excepcional, um adjetivo de dois gêneros, cotado como “fora do comum, além dos limites estabelecidos, normais, frequentes ou corriqueiros” ou ainda “excelente, muito acima do padrão ou da qualidade normal”, ressalta-se que tanto a paisagem, quanto patrimônio agregam elementos de excepcionalidade, que legitimam sua percepção, apropriação e respectiva conservação, sendo legados de valor inestimável e bens coletivos.Em conformidade à legislação vigente, e área inerente ao Direito, a legitimidade de paisagens e patrimônios vai além das questões de caráter, estado ou qualidade do que é legítimo. Fundamentam-se como aspecto de sua legalidade, com vistas à preservação e salvaguarda de sua essência e de sua originalidade. Por fim entende-se que tanto a paisagem, quanto o patrimônio são agentes de seu tempo e de seu espaço efetivando diferentes categorias de representatividade. A paisagem e o patrimônio correspondem a signos, significados e significantes para comunidades, tecendo relações de subjetividade, de pertencimento, de partilha, de conexão, de afetividade, de ancestralidade. E a educação se faz e refaz em meio à múltiplas paisagens e patrimônios evidenciando riquezas únicas e indispensáveis à coletividade.


PARA SABER MAIS

A Ecopedagogia como pedagogia apropriada ao processo da Carta da Terra – Moacir Gagotti/UFMT

Imagem de destaque: Cachoeira dos Antunes. Fonte: Blog da professora Ivani Ferreira

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