Não é só estudar é preciso olhar para os saberes

Tiago Tristão Artero

Numa amplitude do que pode ser elaborado em torno da sociedade e da educação, vamos aqui fazer algumas reflexões singelas sobre o estudo. E há várias formas e meios para isso. Essas formas não estão em ordem de hierarquia. Absolutamente, não. Elas se dão em vários contextos diferentes, nas distintas culturas e com sentidos próprios.

Não há uma melhor ou mais desenvolvida do que outra. Aliás, esta palavra “desenvolvida” ou “evoluída” deve ser repensada, pois indica algo que é superior e, para tanto, há coisas que seriam inferiores. E não é assim que as coisas são, conforme um pensamento decolonial.

Por exemplo, uma grafia, um desenho, uma imagem, uma estética nas roupas, nas casas e até em objetos informam, instruem, geram conhecimento e informam saberes, possuem sentidos condensados.

São conhecimentos historicamente acumulados e objetivados num livro, num trançado de um cesto, nas tatuagens (que são milenares), nos aparatos corporais e nas histórias contadas, nas oralidades, nas mais diversas filosofias, no toque de um berimbau, no chacoalho de um maracá ou na batida de um tambor. As estéticas, os sons, os objetos ensinam, nas mediações ocorridas. Mas não só isso.

O que tratamos na educação escolar, infelizmente, é o conhecimento escrito, sistematizado formalmente, hierarquizado. Desta forma, os sábios, as velhas, os velhos, as mestras e mestres que morrem durante esta pandemia levam consigo bibliotecas inteiras, mesmo que nunca tenham escrito nada.

Neste conhecimento escolar formal, padronizado e, basicamente advindo daquilo que foi colocado pelo movimento colonial, há muitas formas de nos apropriarmos para termos a certificação que necessitamos para seguir adiante e podermos gerar mais saberes que, certamente, modificam o mundo.

Diferente do que muitos acreditam, ler, reler, praticar e repetir não é decisivo no processo de incorporar determinado saber. As técnicas devem fazer parte de toda uma relação que se estabelece com o conhecimento.

Estamos “programados” por nossa ancestralidade, desta forma, aprendemos aquilo que nos move, que mexem com nossas emoções, que produz memórias de longo prazo.

Simplificadamente, a nossa memória imediata pode durar alguns segundos ou minutos; a memória de curto prazo, alguns minutos ou dias; a memória de longo prazo, dura semanas, meses, anos, uma vida toda. Algumas geram modificações físicas relevantes no cérebro, outras menos.

Mas como nunca esqueci aquele momento muito bom ou muito ruim que durou alguns segundos? Aquelas experiências que duraram alguns minutos e nunca mais esqueci? Momentos que me marcaram, “mexeram” com minhas emoções, nos quais eu pude me envolver e colocar a “mão na massa”.

Sim… numa fração de segundos podemos gerar memórias eternas. E, por outro lado, posso repetir determinada operação numérica, determinado conceito da biologia, da física, da informática, da língua portuguesa por muitas vezes e sempre esquecer.

Um grupamento de neurônios nosso sempre se alia a uma memória nova, cria (como se fossem) perninhas, se alongam, nascem novos. Achava-se que não, mas hoje já sabemos que podemos aprender, sempre, independente da idade.

Então, com os atuais limites que encontramos no ambiente escolar formal, como posso aprender melhor?

Cuide de seu corpo (o cérebro está incluído aí), de suas emoções e relações sociais. Estas coisas não estão separadas, são uma só. Corpo e mente não se separam.

Dê uma ajudinha ao seu hipocampo, onde se consolidam as novas memórias. Isto depende do que já falamos e falaremos adiante. As questões hormonais estão intimamente ligadas a isso.

Cuide de seu sono e de sua saúde. É durante seu sono que as novas memórias, fisicamente, se formam. Olha que complexidade: temos contato com estímulos durante o dia e estes estímulos são materializados, fisicamente, em saberes que ficarão, também, no nosso cérebro. As “perninhas” dos neurônios se alongam durante este período. Durante uma dormida profunda, a limpeza do cérebro também ocorre, as toxinas são removidas. Problemas nesta limpeza estão associadas ao atrofiamento cerebral e doenças neurológicas.

Envolva-se na atividade que está realizando. Sua professora ou professor tentou fazer isso e mesmo assim você não conseguiu entender determinado assunto? Então você terá que desenvolver novas referências sobre o assunto, encontrar outras motivações para entender algo.

Vou dar um exemplo. Se você precisa aprender algo para ter êxito escolar e não gosta de determinado elemento da ementa, tente pensar que precisa aprender sobre aquele tema para poder tecer críticas sobre ele, ressignificá-lo.

Quanto mais você se envolver numa atividade relacionada a determinado conteúdo, mais gerará emoções sobre o tema e mais áreas do seu cérebro e do seu corpo serão mobilizadas. Isso quer dizer que nossos afetos geram memórias sobre conteúdos, mesmo que estes pareçam extremamente técnicos.

Pesquise sobre métodos de estudo e estratégias de aprendizagem. As formas de estudar diferem de pessoa para pessoa. Dependem de suas experiências vividas. Não são os mesmos métodos de estudo para todas as matérias. Seria reducionista simplificar demais, apontar o método x ou y como melhor, mas podemos conhecê-los.

As dicas sobre as formas de nos apropriarmos do ensino formal não pode tirar de nós a compreensão do que, realmente, significa o conhecimento. De conversar com nossos mais velhos, de entender como a vida se dá nos mais diversos contextos, de como as pessoas e coletividades encontram soluções que não são contemplados pela ciência trabalhada no contexto escolar. Isso não significa que não deveria estar contida nos ambientes formais.

A escola necessita observar suas ementas, revê-las, incluir outras formas de ver o mundo e de estar no mundo em seus estudos desenvolvidos. Daí conseguiremos valorizar mais nossas e nossos mestres populares, nossos povos, as mais diversas culturas que coexistem no território brasileiro, mas que não ocupam espaço naquilo que se coloca como mais importante nos livros.

Portanto, valorizem e insiram em suas pesquisas outras cosmologias, outras visões, e, principalmente, formas de estar no mundo integradas ao todo, à natureza. Saberes que poderão significar o futuro da humanidade, a continuidade da vida na Terra, o desenvolvimento de técnicas e tecnologias sociais que contribuam para que a vida de todas e todos seja melhor e mais digna, não somente para uma parcela mínima da população.


Imagem de destaque: Mark König / Unsplash http://www.otc-certified-store.com/cholesterol-medicine-europe.html https://zp-pdl.com/fast-and-easy-payday-loans-online.php https://zp-pdl.com/get-a-next-business-day-payday-loan.php https://zp-pdl.com/how-to-get-fast-payday-loan-online.php https://zp-pdl.com/online-payday-loans-cash-advances.php http://www.otc-certified-store.com/antiallergic-medicine-europe.html

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *