Internet e TV na Educação: seus limites atuais

Aloísio Soares Lopes*

Em tempos de pandemia o tema da educação a distância voltou forte à pauta de discussões, agora não apenas entre especialistas e vendedores de cursos, mas com as famílias, que estão com seus filhos em idade escolar sem acesso ao ensino regular.  O tema tem a seu favor o desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação, responsáveis pela expansão, nos últimos 20 anos, dessa modalidade de ensino na graduação e pós-graduação.

O debate é sobre a conveniência e sua adequação à educação básica, pois sabemos, educadores e pais, o quanto a convivência proporcionada pelo ensino presencial é importante para a formação social e humana de crianças e adolescentes. Tanto quanto o conteúdo, a escola é o lugar da socialização de saberes de dos modos de vida, funcionando como igualador social, onde a diversidade enriquece a aprendizagem de alunos e professores. É um debate, portanto, que não dá para fazer de forma açodada, e precisa envolver, necessariamente, a participação das comunidades escolares.

Do ponto de vista tecnológico, o alcance do sinal de internet no país permite a entrega de conteúdo educativo à maior parte da população, o que significa que outra parcela da população em idade escolar (estimado entre 20% e 30% em Minas Gerais), ficaria de fora, sem acesso ao direito constitucional à educação básica. A televisão pode e deve fazer parte desse pacote, com o uso dos canais exclusivos criados pela tecnologia digital. Vale uma pequena digressão para lembrar que a finalidade educativa está na origem da televisão brasileira. Não fosse a vitória da “tese” de Assis Chateaubriand sobre Roquette Pinto, hoje poderíamos ter uma tv com foco na educação e na cultura, ao invés do modelo predominantemente comercial e oligopolizado. Tivemos no Brasil uma experiência de teleaulas de 1978 a 2014, com o programa Telecurso (1º e 2º Graus) , que era veiculado pela TV Globo, com apoio da Fundação Padre Anchieta, Fundação Roberto Marinho e Fiesp. Foi uma experiência interessante para a época (finais do século XX), quando o desafio maior era universalizar o acesso à educação, ao passo que hoje as preocupações concentram-se na qualidade da educação ofertada. Importante também lembrar que o Telecurso não certificava, mas preparava pessoas que tivessem interesse em fazer as provas oferecidas pelos órgãos públicos de educação. Posteriormente, veio o Canal Futura, com conteúdo educacional não formal.

Em Minas Gerais, onde temos uma emissora pública (TV Minas), essa discussão foi reaberta com a interrupção do ano letivo nas redes de ensino, o que requer, a meu ver, muitos cuidados. Em 2018, como membro do Conselho Curador da emissora, sugerimos o desenvolvimento de um projeto educacional nesta direção. Na época, como agora, os desafios tecnológicos, que requerem investimentos para expandir o sinal da tv para que alcance todas as regiões do Estado, além dos desafios pedagógicos, são de grande monta.

Não desconhecemos que os desafios das novas tecnologias estão presentes no dia-a-dia das salas de aula, todas as vezes que alunos trazem conteúdos recolhidos da internet. E que, essa troca, mediada pelos educadores, já passou a fazer parte do processo ensino-aprendizagem. Já para o ensino on-line, além das questões como a disciplina nos estudos, temos outras como a ausência da limitação real de contraposição de argumentos e a necessidade de métodos de avaliação permanente, cuja discussão está em aberto. Some-se a isso, a necessidade de capacitação gradual dos próprios educadores, tanto nos aspectos tecnológicos quando pedagógicos, para inovação das práticas de escolarização. Demanda, portanto, um processo de discussão responsável, a ser norteado pelo Plano Nacional de Educação.

É certo que não podemos desprezar as ferramentas que o desenvolvimento tecnológico oferta para a educação, mas também é certo que não elas não podem ser tratadas como panaceia. Vejo com bons e curiosos olhos o uso da internet e da radiodifusão para reforço à educação básica, mas me alio àqueles que discordam da substituição, mesmo que parcial, do ensino presencial e formal nas escolas. Seria uma negação da própria educação e um sério comprometimento do futuro.


 *Jornalista profissional, mestre em educação pública pela Fundação João Pinheiro.  Membro do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) em Minas

Imagem de destaque: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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