Evo Morales, arroz com ovo, olha sua cor, sai daqui criola e a Lei 11.645/08 para a educação

Tiago Tristão Artero

 

Reflito sobre o quanto a efetiva aplicação nas diversas matérias escolares sobre “História e cultura afro-brasileira e indígena”, garantida pela Lei 11.645/08, poderia evitar situações que culminaram nas frases “olha a sua cor”, “não coloca a mão em mim, sua criola” e “para comer arroz com ovo, essa nojeira, é melhor nem comer”. As situações, após repercussões em nível nacional, vieram, em seguida, acompanhadas das justificativas, “isto não é da minha índole” e “esta não foi a educação que tive”.

É preciso pensar, de maneira despojada de preconceitos, se esta, realmente, não foi a “educação” que tivemos e que forjou uma índole no seio de uma nação que ainda respira uma cultura fortemente colonialista.

Cultura que teve sua manutenção em um país que teve sua primeira universidade somente no século XIX (demora proposital, decorrente da manutenção do sistema de organização econômico e social escravocrata).

O quanto o esporte de alto rendimento, fortalecido pela sociedade capitalista competitiva, formou o psiquismo do cidadão torcedor que disse estar com os ânimos exaltados na hora do jogo?

O quanto o ato falho ao dizer que “tenho pessoas que cortam o meu cabelo que são negras” não revela o sentimento de posse, decorrente de um tempo que ainda não se foi.

O fato de naturalizar as atitudes, ou a falta delas, com a expressão “não é da minha índole” ou “não faz parte do meu caráter” desnuda o sentimento de apriorismo que é cultivado nas práticas sociais, relegando a segundo plano a formação dos indivíduos a partir das condições materiais concretas.

E são nas condições concretas que podemos fazer o recorte de classe, onde alguém que se coloca como superior, ou da elite, sente-se autorizado a chamar arroz com ovo como “nojeira”, indicando que a alimentação de seu pet é superior ao que grande parte da população consome, em geral, por não dispor de recursos financeiros para complementar a alimentação com outras fontes nutritivas.

Um porta-voz do MBL, ao apertar uma cozinheira negra pelo pescoço e chamá-la de criola, comete um ato também muito simbólico, colocando-se como superior e autorizado a ofender e agredir fisicamente alguém que considera inferior a ele.

Estes fatos nos levam a observar a situação da Bolívia que, num fundamentalismo religioso, fascismo e racismo, coloca os campesinos e indígenas como não merecedores de estar em cargos de poder ou de decisão. A meritocracia (conceito, eminentemente, predatório) adquire contornos mentirosos, uma vez que sob ações inconstitucionais retiram a fórceps aqueles que chegaram a determinados postos políticos na Bolívia, mas que não condizem com a hegemonia que a elite branca pretende cultivar.

A situação dos campesinos na Bolívia possui características em comum com os assentados aqui no Brasil, o contexto dos indígenas da Bolívia guarda semelhanças com o dos indígenas do Brasil e o cenário das negras e negros do Brasil exorta-nos a entender a importância da Lei 11.645/08 sobre a “História e cultura afro-brasileira e indígena”.

O quanto a visão de mundo dos africanos que foram escravizados e trazidos para o Brasil foi perdida e necessita ser recuperada? Aliás, que tipo de visão de mundo, de conhecimento, de manifestações artísticas e sociais cultivamos e o quanto estes elementos estão distanciados dos povos originários das terras brasileiras e que hoje chamamos de “nossa terra”?

Escrevi este artigo de opinião para que reflitamos sobre o fato de que podemos fazer ainda muito mais em torno da Lei 11.645 e sobre as formas que permitam a cultura afro-brasileira e indígena ser forças motrizes para que haja um desmonte da hegemonia da visão euroestadunidense no interior das escolas, visão esta que, certamente, dá base para que ainda existam situações como as que sofreu a cozinheira do restaurante, o segurança do jogo de futebol, o telespectador que se alimentava de arroz com ovo e o povo boliviano.

É com pesar saber que a chamada “elite” boliviana e brasileira vão lutar até as últimas consequências para que a Lei 11.645/08 não se efetive de maneira plena (em todos os momentos, em todas as matérias escolares e práticas estabelecidas) dentro das nossas escolas, e usarão o aparato estatal para legitimar movimentos como o “Escola sem Partido” e o “Comitê Cívico Pró-Santa Cruz” (do Camacho).


Imagem de destaque: Gustavo Torres / Pixabay

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