O rasteiro voo das narrativas perdidas: a escola faz história na história de cada um

Ivane Laurete Perotti

–Conta uma história para nós? – pede a aluna ao professor do 1º ano, I Ciclo, Fundamental I, em uma escola pública de Belo Horizonte, Minas Gerais.

–Uma história? – indaga o professor no intento de confirmar o pedido.

–É! Uma história! Daquelas que fazem a gente voar.

–Gostei dessa frase: a gente pode voar!

–Claro, né!? Profe! Só por isso as histórias existem!

Ruflam asas pelos corredores vazios. Do alto de um antigo quadro-de-giz (com a obrigatoriedade do hífen) deita-se a última frase do dia: SALADA DE LETRAS, seguida de alguns desenhos feitos pela mão do professor. Hora avançada no silêncio retraído da escola sem alunos. Os aprendentes estariam em outra sala de aula: a vida. Esta, abundante em lições práticas, qualificava-se também pelas obras do inesperado. Se na sala de aula escolar cabiam planejamentos para mediar a formação, na vida, a formação poderia carecer de método. Poderia! Pode! Até mesmo quando os investimentos e os planos de formação parecem estrategicamente delineados. A vida é o espaço do inesperado, do inconcluso, da incompletude, do infindável devir. E se a escola faz parte das estratégias de/ vida, /da/ e /para/ a vida, não lhe caberia o vazio.

Engano! Asas recheiam-se de sentidos e cores: filtro do abrigo à poesia. Asas são paralelepípedos do subjetivo, do inenarrável, da indelével natureza do ser humano, e sem o “humano”, “coisas” instalam-se em seu lugar. “Coisas” pesam o quanto valem. Asas pesadas não levantam voo.

–Professor… conta aquela história da princesa que solta “pum”!

–Nós lemos esta história no outro semestre. É uma história escrita, lembra?

–Lembro! Mas eu gosto de ouvir a mesma história várias vezes.

–Isso é importante! As histórias são sempre novas, e…

–E os “puns” também!

–Professor! Ela falou um palavrão! – eleva-se a menina da outra fila.

–Não é um palavrão… é uma palavrinha! Assim, ó…

Recuperar sentidos é papel da vida, da vida da escola, da escola da vida. Aprender sobre o poder plástico das palavras, também. Mas, as palavras, por elas próprias, não têm sentido: são feitas de lugares que devem ser preenchidos com a essência da evolução, com o bojo das narrativas, com os gostos que içam velas em mares de frases perdidas. Assim é! A não ser que asas sejam quebradas ainda no útero da gestação.

–Professor?…

 


Imagem de destaque: @jaredd_craig

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