Minorias – Adolescentes e Jovens?

Dalvit Greiner de Paula

Seguindo essa ideia de que minorias é um conceito capitalista para designar gente improdutiva e que deve ser desvalorizada para estar no exército de reserva de mão-de-obra do sistema… Segundo as faixas etárias da PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, essa “minoria” de adolescentes e jovens, acima de quinze anos de idade está no mesmo grupo daqueles abaixo de sessenta anos. Ou seja, fazem parte também da PEA – População Economicamente Ativa. Claro, é uma moçada que tem de fazer o “corre” cotidiano – legal ou ilegal – para poder sobreviver. Querendo ou não são obrigados a produzir.

É muito fácil para o sistema capitalista desqualificar essa turma qualificadíssima. Começa por aí. Ao misturá-los com os mais velhos, os adultos trabalhadores, faz com que desapareçam de toda e qualquer política pública. São adolescentes e jovens e já vivem obrigações de adultos porque são assim considerados pelo Estado. Isso dilui qualquer política social, não atendendo nenhuma das partes: nem o jovem-adolescente, nem o jovem-jovem, nem o jovem-adulto. Todo o mundo é visto como trabalhador, porém na hora do “vamo-ver” são tratados como minorias inexpressivas, sem voz nem voto.

Da mesma forma que as mulheres eram alijadas do voto até o início do século XX, homens jovens e adolescentes, também o eram. Não tinham renda suficiente, nem alfabetismo, nem autonomia necessária para o exercício de uma cidadania plena. Se fossem pais de família, mudavam o status político. E outras situações do tipo: “você já é responsável, então pode votar!” Na outra ponta, hoje pregam a ideia de uma maioridade penal justificada pelo fato de o jovem-adolescente de dezesseis anos exercer o direito de voto.

Acompanhando os noticiários policiais é possível ver as diferenças de tratamento (não falaremos aqui dos filhos da elite econômica, a burguesia dona dos meios de produção, pois seus adolescentes e jovens estão noutros lugares vivendo outra vida). A classe média baixa, alta e altíssima quando se depara com um jovem-adolescente ocupando um espaço político clama pela sua criminalização, pedindo aos governantes punições exemplares para vidros de pinho-sol ou organização de bailes-funk. Se são seus filhos, tornam-se apenas “crianças” que ainda necessitam de tempo para amadurecer.

É esse tempo de maturidade necessária ao ser humano que o capitalismo insiste em tirar do adolescente-jovem ao considerar esse grupo como uma minoria que deve ser enquadrada. Se esse grupo ainda não desenvolve estudo ou trabalho honesto ele é massacrado. O primeiro marcador que ganha já está se tornando um adjetivo: “nem-nem”. Um jovem que nem estuda e nem trabalha é uma “minoria” que cresce assustadoramente. Então podemos nos voltar para o governo e afirmar também a sua condição de “nem-nem” em termos de política pública: nem política pública escolar, nem política pública trabalhista. Ou seja, não se vê nenhuma política pública que priorize a juventude na escola. O adolescente-jovem hoje se mantém no ensino médio, quando lá chega, a um custo familiar muito alto, o que faz com que a desistência seja algo comum na sua trajetória; em termos de trabalho, a oferta de uma carteira verde-amarela sem nenhum direito trabalhista é vista como a melhor política pública para jovem; na saúde, o lema é não faça, não seja, não ame.

Aqueles que conseguem romper essa barreira são vistos como privilegiados. São porque o foram realmente e tem seu lugar marcado na classe média; não são porque lutaram muito rompendo com força toda a lógica meritocrática de nossa sociedade capitalista. Porém, o que nos cabe de alerta é que essa minoria – adolescentes e jovens – serão os primeiros a usufruir de uma sociedade igualitária, pois cabe a eles romperem com toda essa lógica que aí está.


Imagem de destaque: Rich Smith / Unsplash

 

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