Menos Museus = Menos Futuros!

Editorial do Jornal Pensar a Educação em Pauta nº281

Não é incomum, no Brasil, a enunciação de que SOMOS UM POVO SEM MEMÓRIA. A afirmação, por mais que carregue um tom genérico e desqualificador da própria população, teima em atualizar-se com ares de verdade. Essa semana, como vem acontecendo com desnecessária regularidade no Brasil nos últimos anos, tivemos mais uma perda em um importante espaço de memória no Brasil. Desta vez, o fogo consumiu parte da reserva técnica do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, em Belo Horizonte.

Nos últimos anos temos colecionado enormes perdas no que concerne aos espaços e às políticas de memória no Brasil. Num prazo bastante curto, tivemos incêndios no Museu da Língua Portuguesa(SP), no Museu de História Natural da PUC Minas (BH), no Museu Nacional (RJ) e, agora, no MHNJB da UFMG. E bem sabemos que estas perdas, registradas na imprensa e em nossa memória recente, representa apenas a pontado iceberg no que diz respeito à memoria nacional.

Nossos especialistas, que são verdadeiros militantes da causa do patrimônio histórico e artístico nacional, não se cansam de denunciar a precariedade de nossos espaços de memória, sobretudo os museais, sem que disso decorram políticas públicas sérias, contínuas e sustentáveispara a área. O que se tem são políticas de esquecimento e de destruição de nossos patrimônios.

As políticas de memória e/ou de esquecimento, ao contrário do quepensam alguns, não se dirigem ao passado. Elas dizem do nosso presente e informam os nossos projetos de futuro. Quanto mais limitados os nossos horizontes de memória, menos capazes seremos defazer projeções mais abertas e plurais de futuros possíveis. No presente,lutamos pelas formas de apreensão e interpretação do passado tanto quanto pela construção do futuro.

Do mesmo modo, em nosso cotidiano, diversos grupos políticos e empresariais investem em narrativas sobre o passado que visam fazer-nos esquecer das suas responsabilidades pela caótica situação em que vivemos hoje, como se o bolsonarismo e suas políticas de destruição e morte fossem decorrentes de algum fenômeno natural incontrolável. Também há investimento em memórias que lembram positivamente o autoritarismo, o racismo, a xenofobia, a homofobia e outras variadas formas de preconceitos antidemocrático e anti-igualitários.Aos grupos autoritários interessam não apenas uma memória confortável do passado, em que as vozes, as cores, os cheiros, os formatos, as linguagens e a dores da opressão e da exploração sejam devidamente esquecidas, mas, sobretudo, a pura e simples destruição de todos os vestígios materiais de  outros projetos que foram elaborados pelos oprimidos e sufocados pela violência dos vencedores.

Não, não podemos esquecer-nos de onde viemos e quais as forças, sonhos, projetos e vidas nos trouxeram até aqui. Precisamos de museus, não porque guardam coisas bonitas e de grande valor material, mas porque são depositários de vestígios das variadas formas de vida no mundo e, particularmente, dos esforços individuais e coletivos que presidiram, e presidem, a presença humana no mundo. E, bem sabemos, essa presença do humano no mundo, assim como produz belezas incomparáveis, oferece-nos, cotidianamente, um espetáculo de horror e de destruição. E disso não podemos esquecer.


Imagem de Destaque: Corpo de Bombeiros de Minas Gerais

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Menos Museus = Menos Futuros!

Não é incomum, no Brasil, a enunciação de que SOMOS UM POVO SEM MEMÓRIA. A afirmação, por mais que carregue um tom genérico e desqualificador da própria população, teima em atualizar-se com ares de verdade. Essa semana, como vem acontecendo com desnecessária regularidade no Brasil nos últimos anos, tivemos mais uma perda em um importante espaço de memória no Brasil. Desta vez, o fogo consumiu parte da reserva técnica do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, em Belo Horizonte.

Nos últimos anos temos colecionado enormes perdas no que concerne aos espaços e às políticas de memória no Brasil. Num prazo bastante curto, tivemos incêndios no Museu da Língua Portuguesa(SP), no Museu de História Natural da PUC Minas (BH), no Museu Nacional (RJ) e, agora, no MHNJB da UFMG. E bem sabemos que estas perdas, registradas na imprensa e em nossa memória recente, representa apenas a pontado iceberg no que diz respeito à memoria nacional.

Nossos especialistas, que são verdadeiros militantes da causa do patrimônio histórico e artístico nacional, não se cansam de denunciar a precariedade de nossos espaços de memória, sobretudo os museais, sem que disso decorram políticas públicas sérias, contínuas e sustentáveispara a área. O que se tem são políticas de esquecimento e de destruição de nossos patrimônios.

As políticas de memória e/ou de esquecimento, ao contrário do quepensam alguns, não se dirigem ao passado. Elas dizem do nosso presente e informam os nossos projetos de futuro. Quanto mais limitados os nossos horizontes de memória, menos capazes seremos defazer projeções mais abertas e plurais de futuros possíveis. No presente,lutamos pelas formas de apreensão e interpretação do passado tanto quanto pela construção do futuro.

Do mesmo modo, em nosso cotidiano, diversos grupos políticos e empresariais investem em narrativas sobre o passado que visam fazer-nos esquecer das suas responsabilidades pela caótica situação em que vivemos hoje, como se o bolsonarismo e suas políticas de destruição e morte fossem decorrentes de algum fenômeno natural incontrolável. Também há investimento em memórias que lembram positivamente o autoritarismo, o racismo, a xenofobia, a homofobia e outras variadas formas de preconceitos antidemocrático e anti-igualitários.Aos grupos autoritários interessam não apenas uma memória confortável do passado, em que as vozes, as cores, os cheiros, os formatos, as linguagens e a dores da opressão e da exploração sejam devidamente esquecidas, mas, sobretudo, a pura e simples destruição de todos os vestígios materiais de  outros projetos que foram elaborados pelos oprimidos e sufocados pela violência dos vencedores.

Não, não podemos esquecer-nos de onde viemos e quais as forças, sonhos, projetos e vidas nos trouxeram até aqui. Precisamos de museus, não porque guardam coisas bonitas e de grande valor material, mas porque são depositários de vestígios das variadas formas de vida no mundo e, particularmente, dos esforços individuais e coletivos que presidiram, e presidem, a presença humana no mundo. E, bem sabemos, essa presença do humano no mundo, assim como produz belezas incomparáveis, oferece-nos, cotidianamente, um espetáculo de horror e de destruição. E disso não podemos esquecer.


Imagem de Destaque: Corpo de Bombeiros de Minas Gerais

 

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