Inclusão escolar para crianças com microcefalia: Vamo Junto?

Berenice Freitas
Danielle Costa Silveira
Paloma Coelho
Raul Lansky de Oliveira
Zélia Profeta
Da Equipe da FIOCRUZ – Minas

No ano de 2015, o Brasil foi surpreendido por um grave problema de saúde pública em decorrência do aumento de crianças nascendo com microcefalia causada pelo vírus Zika. Essas crianças correm o risco de atraso no desenvolvimento e de incapacidade intelectual e necessitam de muitos cuidados e uma rede de proteção social a fim de garantir a dignidade humana.

Diante desta realidade, a Fundação Oswaldo Cruz em Minas Gerais (Fiocruz Minas) elaborou o projeto Vamo Junto? Uma proposta de Mobilização Social para o enfrentamento da dengue, zika e chikungunya. Uma das ações do projeto é o acompanhamento de um grupo de mães com crianças com microcefalia pelo vírus zika, e por outras causas, denominado Grupo Mães de Anjos de Minas (AMAM).

A AMAM conta hoje com cerca de 80 mães de diferentes regiões do estado e o Grupo se organiza, comunica e socializa as informações pelo WhatsApp.

Na nossa reunião de final de ano, no dia 07 de dezembro, discutimos temas para debatermos em 2020, tais como acessibilidade, transporte público, acesso aos serviços de saúde, preconceito, necessidade de vídeos educativos para ajudar as mães em alguns procedimentos úteis no cuidado da criança, o abandono da paternidade por ser a criança especial e apoio psicológico para as mães.  Um tema também destacado por elas foi o da inclusão escolar, definido como importante tanto para a criança quanto para as famílias.

 Na conversa sobre as experiências com seus filhos na rede pública de ensino, algumas mães destacaram que o ambiente escolar trouxe benefícios, como a socialização da criança, principalmente com outras crianças: “Na hora do parquinho, vai todo mundo junto, ele vai… Se tem uma apresentação da turma, ele participa, junto com a auxiliar dele, também. Não tem nem um tipo de diferença com os coleguinhas, tratam ele como um igual, não tem nem um tipo de diferença”, afirmou uma delas.

Além disso, durante o período em que a criança está na escola, a mãe também pode cuidar de si: “Cuido mais um pouco de mim. Porque às vezes a gente esquece de se cuidar. Então eu cuido mais de mim, eu consigo ir a um dentista com mais facilidade, né, a um clínico geral, eu consigo ir a um banco, sem correria”, lembou outra mãe presente no encontro.

Por outro lado, algumas dificuldades e limitações também foram relatadas, como a falta de infraestrutura das escolas e, principalmente, a falta de qualificação dos profissionais para lidar com as necessidades e especificidades dessas crianças, como se pode observar na fala de  uma delas: “eu acho que o Estado deveria investir nisso, sabe? Investir nessa preparação, porque o que muitos não sabem é isso, que não existe essa preparação dos profissionais, né? É simplesmente designada uma pessoa pra cuidar delas! Então eu acho que o Estado deveria preparar esses profissionais, pra atender e cuidar dessas crianças melhor, né?”

Já outra mãe preferiu retirar o seu filho da escola: “Não tinha acessibilidade na escola pra ele, a gente tinha sempre que estar carregando a cadeira pra ele junto com o porteiro, pra ele entrar na escola, temos fotos. E assim, ele não foi bem tratado na escola, ele voltava sujo pra casa, não estava se alimentando na escola, voltava pra casa com fome”.

 Há também um relato de uma mãe que não se sente segura em matricular seu filho no ensino regular: “Acho muito válido ter escola regular, e essa escola aprender com inclusão, mas cada caso deveria ser estudado na sua particularidade, pra no final todos serem atendidos de uma forma satisfatória, que os pais tivessem aquela confiança em deixar o seu filho naquela escola, e ele ser tratado como uma pessoa com todos os direitos que ele tem.”

A partir dos relatos, é possível perceber que a educação inclusiva pode representar a possibilidade de mudanças na vida das crianças e de suas famílias, especialmente das mães.  Contudo, ainda há muito o que fazer por parte do Estado no que diz respeito, por exemplo, à infraestrutura e, principalmente, quanto à formação e qualificação dos profissionais da rede de ensino.

Em 2020, vamos buscar parceiros, aprofundar o tema e em conjunto com a AMAM tentar contribuir nessa construção de uma escola mais inclusiva e mais cidadã. Vamo Junto?


Imagem de destaque: Edmar Rodrigues Martins

 

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