É hora de virar o jogo

Carlos Henrique Tretel

“…será que a sua ideia, a sua proposta, não significa abolir, pelo menos na Europa, aquele tipo de sociedade que até agora garantiu o mais alto padrão de vida, o maior grau de liberdade política, o maior, digamos, profundidade no pluralismo?” – William Waack

“Escuta: à custa de quê a Europa é o que é?  À  custa de quê EUA é o que é? Aí (nesse sentido) vale também a palavra do Papa  “eles, ricos,  cada vez mais ricos”… À custa de quê? … Eu tenho dito aos amigos da Europa se suicidar como primeiro mundo. Se o primeiro mundo não aceita, de bom grado, que a dívida externa não pode ser paga, mais ainda, que não deve ser paga (primeiro que o povo não a fez, segundo porque a pagou e eles a cobram de um modo…)  se eles não aceitam que não se pode, não se deve pagar a dívida externa, se eles não partem de uma vez por todas da consciência de que não se pode colonizar, não se pode ser império, se deve respeitar nossa matéria prima, nossa mão de obra…  Se não deixamos de ter um primeiro mundo e um segundo e  um terceiro não podemos ter um mundo humano…” – D. Pedro  Casaldáliga

No mês passado, comecei a puxar conversa com você, leitor, sobre a percepção que ganha corpo em nossa sociedade de que é hora de virar o jogo, de se dizer sim à vida, não à dívida.

Fiquei de ir nos colocando a par do andamento da campanha da ACD.  Condição só tenho agora, entretanto, de compartilhar a impressão de que ela se encontra em fase de organização. Permanecerei de todo modo vigilante para, lançada, fazê-la conhecida entre nós.

Se não há, por ora, como adiantar os passos da campanha, há como, para refletirmos sobre caminhos infrutíferos percorridos e evitarmos repeti-los, lançar luz sobre momentos em que se tentou outrora organizar a luta por auditoria da dívida em nosso país.

O de 2016, por exemplo,  ano da última tentativa organizada de se pressionar o Estado Brasileiro a cumprir o dever de auditar a dívida, como exige o artigo 26 dos ADCT da Constituição Federal.

Naquele ano foi lançada a Frente Parlamentar Mista pela Auditoria da Dívida Pública com Participação Popular que contou com a adesão de 70 entidades, 220 deputados e 25 senadores, dentre os quais muitos ocupantes de cargos decisórios hoje, como (acredite) os atuais presidente da república, Jair Bolsonaro, e ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni.

Frente cuja existência se resumiu a dois momentos, o lançamento festivo em 2016 e o arquivamento sombrio em 2019. O que terá havido nos bastidores entre um momento e outro a justificar tão rápido e lacônico esvaziamento da frente?

Uma das razões por certo da alteração de ânimo dos parlamentares terá sido a corrida eleitoral de que participam a cada 2 anos que os coloca em disputa por financiamento para suas campanhas junto àqueles que, logicamente,  interesse algum tem em auditar o que quer que seja para além das contas do PT. Naquele agosto de 2016 apenas duas parlamentares dentre 245 presentes ao lançamento da frente, as deputadas Luiza Erundina e Jandira Feghali, comprometeram suas candidaturas à época, em São Paulo e no Rio de Janeiro, com o ideal de se auditar as contas como forma regular de transparência, de boa gestão dos recursos públicos.

“…E o ano… é mais do que oportuno. Esse momento em que a agenda eleitoral nos coloca à frente dessa questão, sobretudo nos grandes centros urbanos, é mais do que oportuno, é inclusive uma responsabilidade a mais de quem disputa as eleições… eu já coloquei no nosso programa  a ser apresentado quinta-feira na justiça eleitoral que uma das iniciativas primeiras, se nós chegarmos à prefeitura de São Paulo…, vamos convocar uma auditoria da dívida do município de São Paulo.” (Luiza Erundina)

“Erundina aqui citava o programa de governo dela propondo auditoria. Eu no Rio de Janeiro já registrei o programa de governo com 4 auditorias: a dívida do município, a dívida da previdência, as planilhas de transporte e as parcerias público-privadas, porque esses instrumentos são fundamentais para a gente entender o que se faz, não é com o dinheiro do governo é com o dinheiro do povo que é quem paga tributo, quem paga imposto, principalmente os trabalhadores, porque quem mais tem é quem menos paga e por isso não está preocupado com auditoria e com instrumento de transparência.” (Jandira Feghali)

As eleições de 2016 e de 2018 se foram sem que discutíssemos planos de governo, razão certamente do insucesso da última frente pela auditoria. Outra possível razão terá sido a inexistência de participação popular, para a correção do que se apresenta em nossas mãos nova possibilidade agora. Temos em 2020, até para que em futuras listas de adesão não  vejamos nomes de traidores da pátria, que exigir dos candidatos, como condição para considerá-los viáveis, seus programas de governo. Votar sem avaliar planos de governo é uma grande roubada, a serviço de uma roubada maior, a do sistema da dívida,  que nos impede de ser um mundo mais humano. Escutemos com atenção os candidatos. Quem será tão sério hoje como foram Erundina e Feghali ontem? Este ano é mais do que oportuno para avaliarmos isso.


Imagem de destaque: Lançamento da Frente Parlamentar Mista pela Auditoria da Dívida Pública com Participação Popular – Dia 9 de agosto de 2016. Print Youtube http://www.otc-certified-store.com/birth-control-medicine-usa.html https://zp-pdl.com/online-payday-loans-in-america.php female wrestling https://www.zp-pdl.com https://zp-pdl.com http://www.otc-certified-store.com/gastrointestinal-tract-medicine-usa.html

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