Discussões de gênero no ambiente escolar: uma necessidade evidente

Raquel Barreto Nascimento

Em nossa sociedade, os papéis de gênero estão delimitados. Nessas configurações, algumas atividades são voltadas unicamente para as meninas e outras, para os meninos. Os brinquedos e suas as cores – geralmente divididas entre rosa e azul – acabam por definir, dentro do universo infantil, quem pode ou não utilizá-los. É nesse cenário de divisões e categorizações que surge a necessidade de consolidação, no ambiente escolar, de práticas que ajudem a romper com a desigualdade de gênero. É fato que as recentes discussões entre pesquisadores da área e, ainda, os movimentos que vêm surgindo nas últimas décadas têm conseguido alcançar as instituições escolares, mas algumas escolas ainda se limitam às categorias tradicionais de gênero, provocando a construção de barreiras entre as partes. Neste sentido, as caracterizações de gênero centram-se nos objetos, comportamentos e nas cores.

Não nos propormos a discutir, nesse momento, para além das divisões entre as categorias dos cisgêneros, indivíduos que se identificam com o seu gênero biológico. Evidenciaremos, no entanto, como as disparidades entre essas divisões acabam por causar mecanismos de discriminação na família e na escola. Neste sentido, a discriminação de gênero se apresenta como nociva ao desenvolvimento infantil, uma vez que, no âmbito da brincadeira, para os meninos se dispõem aviões, carros, foguetes e soldados, às meninas são reservadas panelinhas, bonecas, carros de bebê e maquiagens. Deste modo, todo o universo feminino remete ao ambiente familiar, ao cuidado da família e a manutenção dos padrões de beleza, enquanto que os meninos se desenvolvem partindo da premissa de que a “fragilidade” e o âmbito doméstico não os pertencem.

É impensável que tais divisões, delimitadas no “mundo dos brinquedos” não interferem nas práticas do mundo real. As mulheres, formadas sob esses padrões, tendem a pensar que não podem ocupar outros espaços, o que reverbera na sua participação da vida pública enquanto os homens passam a acreditar que o mundo da política e das ideias é exclusivamente seu. Sob essas bases e enquanto fruto de uma herança patriarcal, nossa sociedade ainda está firmado.

Assim, discutir os papéis de gênero no ambiente escolar, o que já vem sendo feito, não se apresenta como uma tentativa de romper ou desrespeitar os preceitos e valores familiares, trata-se justamente do contrário: a escola deve atuar em conjunto com a unidade familiar, em todas as suas formas de composição, a fim de que as barreiras impostas pela discriminação sejam derrubadas e que cada vez mais as classificações de gênero não sejam reguladoras da atuação dos indivíduos. Para a efetivação de práticas que promovam a igualdade entre os gêneros – dentro das escolas que ainda não se valem destas discussões em sua prática cotidiana – há que se destacar a necessidade de envolvimento de toda a comunidade escolar nesse processo – o que já vem acontecendo em algumas instituições – o que abrange também a formação dos professores, que devem estar aptos a lidar com as diferenças e promover ações de inclusão nas atividades desenvolvidas, a fim de que as ações discriminatórias sejam erradicadas.

Desde os anos 1970, as instituições escolares vêm tentando atuar como interlocutora destes debates, o que se reflete na inserção da temática em seu currículo. Tal ação é fruto, sobretudo, do surgimento de movimentos sociais feministas da década anterior, uma vez que estes grupos lutavam pelo respeito à diversidade e pela inserção das mulheres nos espaços públicos de poder e de formação, como as universidades. De acordo com Paulo Júnior (2018)¹, estes debates fizeram o MEC incluir nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), em 1997, a questão de gênero² como tema transversal, inserindo-a em praticamente todos os assuntos trabalhados pela escola, nas diferentes áreas, visando o respeito às diferenças.

Desta feita, destacamos a importância da consolidação de práticas pedagógicas que devem se firmar não somente porque tais requisições estão expressas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), mas, sobretudo, em decorrência de sua importância para a formação ética de crianças, jovens e adolescentes. Sem que haja, de fato, a promoção de atividades inclusivas e de debates que reforcem a importância da inserção de todos os gêneros nos organismos de poder enquanto forma de representação, nos questionamos: “O que será da próxima geração? Ela será justa?”. Se considerarmos que, em pleno século XIX as mulheres cis, categoria de gênero amplamente reconhecida por nossa sociedade, ainda sofrem discriminações no seio familiar e no mundo do trabalho, pergunta-se: – o que acontecerá no futuro próximo com a comunidade LGBTQIA+? Que tal escolas do meu Brasil, contemplarem “outras cores” nos seus discursos e práticas?

¹JÚNIOR, Paulo Roberto Souza. A questão de gênero, sexualidade e orientação sexual na atual Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o movimento LGBTTQIS. Revista de Gênero, Sexualidade e Direito, v.4, n. 1, p. 01 – 21. Salvador: 2018.

²Aqui consideramos todas as categorizações de gênero inclusas no LGBTQIA+, não nos restringindo ao binarismo;


Imagem de destaque: Cade Martin, Dawn Arlotta, USCDCP / Pixnio

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