Direito Humano à poesia

Flávio Alves Barbosa

Poesia é palavra, é voz, é pão. Em nossa cesta básica devia vir porções de poesia. Quem dela se alimenta traz em si um desejo de rebeldia. Por isso, algumas pessoas insistem em dizer que poesia é artigo de luxo, só para mantê-la como direito de uma minoria. Creio que poesia é artigo de primeira necessidade, que nos conduz ao mundo da liberdade, do humano. Proclamemos, do nascente ao poente, o direito humano universal à poesia. Compartilho dois poemas para a cesta básica das leitoras e leitores.

 

Primeiro poema

Guardo-me
Para a palavra
Porque sei que
Ela virá
De mansinho, rodeando
Roçando-me
Aos arrepios
Ou de repente
Pelo ataio
Chegará

 

Guardo-me
Para a palavra
Como a preguiça
Se guarda para
As carícias do tempo
Sem vergonha
De quem por ela passa

 

A palavra
Vem a mim
Como vem à boca
De uma criança
Vem com
Asas
cheiro
Cor
Sabor
Inteiras
Ou em tiras

 

Segundo poema

Lá vem Maria, Maria das flores
Com sua vassoura
Ela varre do mundo, as dores
E espalha perfume pelos corações

 

Lá vem Maria das flores
Com o cabo de sua vassoura
Ela escreve poemas
E abre caminhos para a alegria

 

Lá vem Maria, Maria das flores
Com a sua vassoura
Ela varre a poeira que embaça o mundo
E varrendo a poeira, ela se descobre
Descobre o seu corpo, as suas dores e seus desejos

 

Lá vai Maria das flores
Com sua vassoura, ela varre o convés
E olha para o horizonte
Tem certeza de que seu coração ali não cabe
Porque ele foi feito para viver no infinito

 

Lá vai Maria, Maria das flores
Plantando rosas
Rosas de lua
De lua cheia
De lua nova

 

1 – Flávio Alves Barbosa, cientista social, educador popular e professor da Universidade Estadual de Goiás. Em obediência à palavra, às vezes, escrevo poemas.


Imagem de destaque: Giulio Bernardi

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