Diga os nomes delas: um convite à leitura de Flores de Ébano

Josiane Cristina Amorim 

Alexandra Lima da Silva conseguiu realizar um grande feito, publicar o seu segundo livro voltado para o público infantojuvenil. Digo isso, devido ao momento pandêmico que assola o Brasil e demais contextos nacionais. Vivemos num contexto no qual nós, brasileiros(as), somos constantemente assolados(as) pelo medo, a dor e muitas incertezas. 

As rosas que o vento leva foi o seu primeiro livro. Ainda está quentinho por se tratar de uma publicação recente. 

Flores de Ébano é o título do segundo livro. 

Particularmente, acredito que a autora foi muito feliz na escolha do título. Flores de Ébano foi a maneira digna e carinhosa encontrada pela escritora para designar as 12 mulheres escravizadas representadas em sua obra. 

Acredito que o livro chega em boa hora…As crianças já devem estar sem saber o que fazer para se entreterem e seus pais, por sua vez, já devem estar esgotados diante de tantos desafios como a responsabilidade de alimentar, cuidar e educar seus filhos. Nesse cenário, a autora nos brinda com mais uma obra digna de ser lida por todas(os), principalmente pelas crianças e juventudes negras. Além disso, a obra conta com a ilustração maravilhosa de Regina Miranda – nela, as crianças, os homens e as mulheres escravizadas são representadas de maneira respeitosa, positiva e menos traumática possível, apesar da seriedade do tema abordado. 

Usando de muita sensibilidade e conhecimento, a autora nos presenteia com uma bela poesia na apresentação do referido livro. Haja coração… Uma poesia que traduz perfeitamente a essência de cada flor cuidadosamente retratada na sua obra. 

De forma concisa, a autora se ateve a narrar parte da experiência de mulheres que viveram os horrores da escravidão. Assim, pôde tirar das sombras mulheres que foram apagadas, silenciadas e esquecidas pela historiografia, ao longo do tempo. Além de revelar que, além de existir, “todas floresceram e viraram sementes.” 

A autora segue enfatizando a importância da oralidade na/pela prática de revisitar o passado, para que assim não corramos o risco de negligenciar o legado de quem realmente sentiu as dores da escravidão e ainda assim subverteram e resistiram. Flores de Ébano deixa claro que muitas delas fizeram da escrita uma prática para liberdade e preservação da cultura e memória do povo na Diáspora Africana. 

Por meio dessa narrativa a autora nos convida a deslocar o olhar para produções que talvez não façam parte das obras literárias canônicas ou que talvez não estejam presentes na biblioteca da escola de seus filhos e filhas. Quem sabe você nunca tenha ouvido falar das mulheres lembradas neste livro durante a sua formação acadêmica. Com uma escrita leve, e descontraída, a autora nos ajuda a compreender que o espírito guerreiro que nos move hoje, em parte, herdamos de mulheres escravizadas. Essa seria uma ótima oportunidade para conhecê-las. “Eis os nomes delas: Rosa, Lucy, Phillis, Mary, Isabella, Lilly, Minty, Ellen, Susie, Millie e Christine, Esperança e Maria Rosa.”

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