Ingrid Ludimila Bastos Lôbo
Os diferentes movimentos sociais que surgiram na década de 80 apresentaram uma série de demandas sobre a necessidade de transformações políticas, sociais, culturais, econômicas e educacionais. Dentre esses movimentos, destacaram-se as mobilizações em prol dos direitos das pessoas com deficiência.
Assim, o termo inclusão tornou-se comum nas discussões contemporâneas, como um conteúdo indissociável de movimentos sociais e ações políticas. A inclusão é uma diretiva que impulsiona a construção dos direitos básicos das pessoas com deficiência, fundamentando as garantias sociais, frente ao ideal de uma sociedade democrática.
Esse termo, que foi abraçado pelas políticas educacionais, trouxe novas perspectivas e também novas demandas para a Educação Básica, assegurando aos alunos com deficiência e com outras necessidades educacionais especiais, o direito de acesso à educação no ensino regular.
Porém, apesar dessas premissas apresentarem uma base legal, ainda é comum observar nas práticas escolares, a inclusão vista como sinônimo de socialização. Para alguns professores, a socialização já é o bastante, sendo alcançada através da frequência nas aulas e do convívio com os outros alunos. Contudo, a escola tem um compromisso que está além da socialização. E a aprendizagem, como fica?
Diante dessa problemática, é comum ouvir que os professores ainda não estão capacitados para ensinar aos alunos com deficiência, principalmente para aqueles com comprometimento intelectual. E para essa situação, justifica-se que “socializar” já é um grande avanço, pois a socialização promove a assimilação de características do grupo, tornando o aluno um membro funcional. Será mesmo?
Sobre esse aspecto, destaca-se que apenas a socialização não permite, verdadeiramente, que o sujeito se torne um membro funcional do grupo. Além disso, estar presente também não é garantia de socialização. Ainda é comum observamos alunos com deficiência, que estão presentes em todas as aulas, mas que são ignorados ou tratados de forma infantilizada.
Assim, pensando nas questões do aprendizado e também da socialização, é necessário que as práticas pedagógicas e os espaços sejam modificados, possibilitando a equidade de condições de acesso, permanência, participação e, claro, aprendizagem. O aluno com deficiência tem demandas educacionais especiais, mas também tem muitas potencialidades, que nem sempre são percebidas. As dificuldades de aprendizagem sobrepõem-se as outras possibilidades.
Ser deficiente ainda é visto como um sinônimo de defeito e incapacidade diante da imposição do padrão dominante da normalidade. É essencial que nas escolas haja um movimento para ir além da mera tolerância com as diversidades, valorizando as diferenças e as capacidades individuais, promovendo o exercício isonômico da cidadania e também da educação.
É preciso romper com essa visão homogênea da educação, como se todos pudessem usufruí-la de um mesmo jeito, através dos mesmos métodos e obter os mesmos resultados. Pelo contrário, é fundamental considerar as diferentes necessidades individuais em busca de uma sociedade com princípios mais humanitários.
Mas quais são os caminhos para a elaboração de novas práticas pedagógicas? O primeiro passo seria a capacitação adequada dos professores? Seria papel das Universidades promover cursos de capacitação, aproximando-se dos professores da Educação Básica? E, se for esse o ponto principal, como motivar os professores da Educação Básica, que estão sobrecarregados com dois ou três turnos de trabalho, inúmeras turmas e salários baixos a fazer esse esforço além do convencional e participar de cursos de formação?
O que se observa é que as barreiras para a inclusão estão muito além do discurso da falta de capacitação. Não bastarão leis ou cursos de formação, se não houver a transformação de mentalidades e práticas. Acreditar que a inclusão de alunos com deficiência é possível e compreender os entretons de uma educação para a diversidade deve ser uma semente plantada ainda na Universidade. É na formação dos futuros professores, nas licenciaturas, que surgirão os semeadores de novas perspectivas sobre a construção dessas práticas.
Também é preciso ter uma convicção enraizada na alma, de que os alunos com deficiência podem e devem aprender, ultrapassando o discurso da mera socialização. Somente quando o desejo de transformação for real, será possível presenciar as práticas inclusivas saindo da esfera das leis e das teorias e chegando ao cotidiano das escolas. O caminho a ser percorrido é longo e está cheio de obstáculos. Contudo, é certo que a superação de todos esses desafios ao longo da jornada será recompensada quando o destino final for alcançado.
Ingrid Ludimila Bastos Lôbo é docente da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) – Unidade Ibirité