CL – Nº 77 – 10/04/2015

Informativo semanal do projeto “Pensar a Educação, Pensar o Brasil – 1822/2022”

Ano III – Edição 077 / sexta-feira, 10 de abril de 2015

Leitura: modo de usar IV

Eliane Marta Teixeira Lopes

Vou ao tradutor do Google (pronto, falei!), que por sinal está muito bem estruturado, e acho, KINDLE: acender; entusiasmar; arder; estimular; excitar; incendiar etc. Nada mal, hein? Atendendo às recomendações de UE conferi com o Webster: tudo corretíssimo! E eu que pensava, na minha cabeça ainda pedagoga, que a palavra tinha seu significado no alemão, alguma coisa a ver com kind, criança. Talvez tenha, vai saber…

Quando decidi pela compra, nada conhecia. Aliás, sabia que não tinha um “tablet” e talvez fosse hora de adquirir um. Entre os caríssimos, havia um que para quase nada servia, não enviava e-mails, não fazia foto, não entrava no face book, MAS me dava livros, e a promessa de poder comprar milhões de livros, de ter, ao toque de um dedo da minha mão, muitos livros. Achei a coisa tentadora e – quase nunca compro pela internet – com o toque no concluir a compra, comprei. Por muito menos reais que todos os outros. Dois dias depois, chegou. Claro que não li o manual; como disse em um texto anterior, sei errar sozinha. E assim foi. Não soube como sustentá-lo (na verdade era a usb do meu computador que não estava boa) e fiquei sem bateria. Queria logo jogar no lixo – não gosto de me confrontar com coisas que quebram ou estragam, não quero vê-las. Mas uma voz benigna me aconselhou: vai conversar com o Daniel – meu sobrinho expert. E, claro, ele leu o manual, reabasteceu e me ensinou como fazer. Até hoje ainda não sei tudo.

Ontem, por exemplo, descobri que existe um item chamado Construtor de Vocabulário formado a partir dos Dicionários. Por exemplo, busquei a palavra estulto que estava em um texto e desde que fiz essa consulta ela passou a fazer parte de uma lista de palavras que de novo ao toque dão-me mais uma vez o significado fazendo parte das 182 que constam da lista Aprendendo; como há um Flashcards que repete o significado, nele posso marcar como aprendida que passa a fazer parte de uma outra lista. Nesse mesmo item além de palavras há a lista dos e-books e quais as palavras eu consultei em cada um deles. Em Um lugar perigoso, de Luiz Alfredo Garcia-Roza, que mencionei da última vez, consultei pataniscas, que agora faz parte da lista de palavras aprendidas. Há também um Guia do usuário Kindle.  Informação preciosa: se quiser liberar espaço, posso remover o título e enviá-lo para a Nuvem!!! Lá ficará armazenado e poderá ser baixado quando eu quiser. Ainda não fiz isso; é muito bom percorrer a tela com o dedo indicador e ir vendo quantos títulos já li ou o que está à minha disposição para começar e parar de ler quando quiser. A tela, chamada paper-white, dá uma condição de leitura muito melhor do que no computador, não dá reflexo nem cansa, e ainda pode ser graduada. Quando você volta ao texto, ele já te leva onde parou, mesmo que se tenham passado semanas.

É claro que adoro o livro de papel. Por exemplo o Kindle não me dá o recurso para um livro como o recém lançado Cartas extraordinárias, a correspondência inesquecível de pessoas notáveis ou para belo livro de imagens como o que ganhei neste Natal sobre a azulejaria da arquitetura religiosa em Pernambuco. Não me deu A história da Beleza, de UE, mas quando procurei esse título (só para confirmar) achei um outro que não sabia da existência: A beleza e a dor: uma história íntima da Primeira Guerra Mundial, que parte do depoimento de relato de 19 pessoas resgatadas do anonimato. Talvez um dia eu queira esse título, por ora vou baixar uma amostra. Pois que há esse recurso que pode ajudar na sua avaliação ou simplesmente matar a curiosidade. Claro que tinha curiosidade para saber o que era o tão falado 50 tons de cinza, mas por um lado não queria gastar dinheiro com isso e por outro, tinha vergonha de entrar na Quixote e perguntar por esse livro. Minha fama de boa leitora ficaria maculada para sempre! Baixei a amostra e constatei o que, de fato, bons leitores já haviam me dito: é muito ruim. Por outro lado, baixei uma amostra do livro organizado por Umberto Eco, Idade Média – Bárbaros, cristãos e muçulmanos e, apesar do preço, não fiquei na amostra, pois trazia muitas referências e textos importantes para minha pesquisa atual e sob esse título seguramente eu não o descobriria. Claro que tudo isso estimula o solipsismo, a solidão já tão necessária à leitura e à escrita. Quando entro em uma livraria – e é naquela da qual sou auto-nomeada-sócia-afetiva, a Quixote – não é apenas para comprar livros. Entro porque o ambiente é bom, é bom estar ali, ficar ali. Os livreiros são simpáticos, amigáveis, discretos, conhecedores do ofício. Os outros frequentadores estão ali pela mesma razão que eu estou: gostam de livros, de literatura e a troca é muito rica e engraçada. Pedi outro dia ao B. que mostrasse a um leitor que conversava a uma mesa o meu livro Querido alguém, ele o fez e então eu me aproximei desse conhecido de outras indicações e trocas e esperei o que ele tinha a dizer. Disse: – mas o que é isso? Que livro é esse? Folheando para lá e para cá, deu seu veredito: não li e não gostei. Não gosto de livro assim. Claro que deu uma espetadinha no meu narcisismo, mas sempre soube que autores deveriam ficar como papagaios de pirata no ombro de seus leitores: teriam boas surpresas.   

Esse é o meu Kindle. Devo esclarecer que não recebi cachê, mas fico mais uma vez alegre em partilhar esse assunto: leitura, leitores e modos de usar.

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