Cartas para a minha avó

Alexandra Lima da Silva*

 

Assim que eu aprendi a ler, logo fui incumbida de uma inusitada tarefa: ler as cartas da minha avó postiça, também conhecida como “Dona Chica”. As cartas estavam sempre lá, me aguardando para a leitura em voz alta. Sempre tinha cartas e moedas me aguardando. Eu não me importava de ler, porque a recompensa sempre vinha mais tarde na forma de moedinhas que logo eram convertidas em balas.

Eu gostava de ler, mas às vezes era difícil, porque nem sempre a letra era muito fácil de decifrar. Lembro-me de ter escrito as cartas que ela ditava também, mas minha letrinha infantil era puro garrancho, daí ela sempre preferia que outra pessoa escrevesse as respostas. Minha mãe escrevia as respostas sempre que podia e eu ficava de folga do trabalho.

Dona Chica não frequentou escola na infância pobre no interior do estado do Maranhão. Chegou ao Rio de Janeiro no ano de 1986, tinha acabado de se tornar viúva. Também já tinha perdido um filho adolescente 4 anos antes. Por ter vivido muitas perdas na vida, tornou-se ainda mais religiosa.

Lembro-me que assim que ela chegou ao Rio, ligava a TV às 6:00 da manhã para assistir à missa e colocava um copo de água em cima da TV para ungir. Eu não entendia muito bem aquele ritual diário, meu único receio era a água cair e queimar a única TV da casa e eu perder meus desenhos animados em preto e branco no Show da Xuxa.

De tanto assistir à missa e manusear a bíblia, foi aprendendo a decifrar palavras, num longo processo. Mas ela tinha paciência. E era bastante teimosa. Até que os primeiros resultados foram aparecendo.

Com o passar do tempo, ela já era capaz de ler por conta própria as cartas que recebia. Era possível ver o orgulho no rosto dela. Aprender a ler foi uma das maiores conquistas da minha avó.

E eu estava crescendo, não queria mais ter que ler as cartas em voz alta.

Eu queria era brincar de taco na rua.

Caso minha avó vivesse nos dias de hoje, certamente ela se comunicaria com os parentes distantes pelo grupo da família, por meio de áudio do whatsapp. Isso me faz ter saudades das cartas da minha avó…


* Alexandra Lima da Silva nasceu em outubro de 1980 e é professora na Faculdade de Educação da UERJ. E-mail: alexandralima1075@gmail.com

Imagem de destaque:  Dương Trần Quốc/Unsplash

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