Ano passado eu dei aula, mas esse ano eu não morro

Henrique Caixeta

Esse foi o tema do último encontro Fora de Sala, realizado pelo Programa Pensar a Educação que aconteceu na FAE no dia 02/11/2024. A proposta do encontro era conversar com professoras e professores sobre a prática docente. Foram convidadas para a roda de conversa a professora e atriz Isabella Assis, a professora da rede municipal e estadual Angélica Ferreira, e a professora do ensino superior Ana Maria Clementino. O evento foi mediado por mim e contou com a participação de diversos professores e alunos da FAE.

Nesse encontro, as nossas convidadas falaram um pouco sobre suas experiências na escola após cinco anos da gravação da série documental Pão Nosso de Cada Dia, disponível em https://youtu.be/V8rv95_hgug?si=c1fxFFhgaup4AW4_. A proposta com o evento era trazer uma nova perspectiva sobre a sala de aula a partir das experiências dessas professoras, e pensar como a sala de aula conforma a experiência docente.

As professoras Isabella e Angélica estavam começando sua carreira como professoras na época da gravação da série e se mostravam bem empolgadas com a docência. Contudo, 5 anos depois, as professoras trouxeram um grande desânimo frente a um projeto neoliberal de educação imperante no estado. A conversa se mostrou bastante triste, uma vez que a política educacional do estado tem tirado cada vez mais dos professores o prazer em dar aula. Dificuldades financeiras dos alunos, falta de segurança na sala de aula, burocratização do serviço do professor e um pagamento muito baixo no setor público fez com que uma das professoras desistisse da educação pública e fosse para o ensino particular e outra desistisse de vez da educação. A situação tem sido calamitosa, e a faculdade de educação da UFMG tem se mostrado um lugar importante para repensar as lógicas educacionais ao propor eventos que propõem o diálogo entre professores da educação básica e licenciandos. 

O que mais ficou do evento foi uma profunda tristeza frente a situação que os professores têm encontrado nas salas de aula e uma situação institucional calamitosa promovida pelas secretarias de educação. Os professores compartilharam que o que mais gostavam na educação, que é estar em sala de aula e se conectar com os alunos, tem sido cada vez mais difícil. O medo, a insegurança, as salas de aulas lotadas, as dificuldades que se mantiveram após a pandemia e um projeto de escola neoliberal têm sido as principais dificuldades desse processo.

Porém, toda ação gera uma reação, e o evento não podia acabar sem uma fala de resistência. Ao final do evento, os professores mais antigos compartilharam falas sobre como a educação no país já esteve na mão dos militares e que com muita luta foi possível mudar a situação. As falas mostraram que precisamos nos levantar, organizar e lutar. Pela valorização dos professores, por uma educação libertadora e por um futuro melhor para o país. Ano passado eu dei aula, mas esse ano eu não morro.

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