A escola é algo tão novo em nossas vidas e já querem acabar com ela. Tentativas é que não faltam ao longo da história. Porém, ao mesmo tempo em que novos governantes querem acabar com a escola, eles a querem para se perpetuar no poder e na História. Dessa forma, a escola tornou-se um mal necessário, tanto quanto o Estado. A escola é uma instituição relativamente nova se comparada ao Estado, à Igreja e aos braços armados de todos os governos e governantes, o Exército. Mas, nunca foi tão necessária. Tão nova quanto a escola é a Democracia. A escola moderna é filha da Democracia e por isso mesmo muito necessária.
Filha direta da Revolução Francesa de 1789, a escola como a conhecemos hoje, e sua maquinaria, deve ser reivindicada como um direito natural. Claro que o direito natural é a Educação e essa se pode obter de vários modos e meios. Porém, a escola traz algo mais junto com a educação: a técnica da escrita. Desde que grafamos na pedra os primeiros símbolos – mágicos, por sinal – e que passamos a precisar de alguém que os soubesse decifrá-los e reproduzi-los instituiu-se a figura do mestre e, por consequência, a do discípulo. É essa relação que faz a escola, seja ela onde for, como for, ter a humanidade como destino, finalidade última. Mas, por que falamos de direito natural? Porque a escola, como tudo aquilo que a humanidade já construiu, tornou-se direito de todos aqueles que nasceram e nascem todos os dias. Assim, ela se inscreve na natureza humana e passa a ser um direito natural antes de ser um direito social.
Sendo, pois, um direito, o Estado tem o dever não apenas de autorizá-la e protegê-la, mas de financiá-la em todas as suas necessidades. Nunca de forma seletiva, mas para todos aqueles que queiram participar dela. Porém, esse Estado mantenedor é dirigido por um governo que, qualquer que seja sua corrente ideológica, quer ser o domador da escola, controlando sua consciência coletiva e plural. Esta é a primeira tentativa de acabar com a escola. Ao retirar-lhe a autonomia pedagógica, em troca dos trocados que a mantém, governos pretendem desqualificar e asfixiar a escola, matando já no berço qualquer crítica atual e futura ao modelo de sociedade vigente. Assim querem controlar o presente, pois sabem que a História que se conta na escola é a que vai perpetuá-los ou não na memória da sociedade.
A escola, como filha dileta do Iluminismo – cujo imperativo moral é o esclarecimento – é irmã da Democracia. Elas precisam andar juntas para se manterem vivas. São como gêmeas siamesas ligadas visceralmente: não podem ser separadas, e se o forem, morrem ambas. Aliás, matar uma é matar a outra. Os iluministas sempre reclamaram a necessidade da escola como condição sine qua non para se atingir a humanidade, ou seja, não nos tornamos humanos hoje sem passar pela escola, lugar de aprendizado daquela ética pública tão vital à Democracia e à Cidade. Ler e escrever são técnicas fundamentais para o exercício da Liberdade. Um país não democrático não precisa de escola. O contrário também é verdadeiro. Por isso, a nossa paixão democrática deve se transformar radicalmente numa paixão pela escola pública.
Imagem de destaque: Feliphe Schiarolli/Unsplash