Já se passaram 15 meses da suspensão das aulas presenciais no Brasil, ocasionados pela pandemia do Coronavírus, não é difícil perceber que neste período a educação acumulou prejuízos incalculáveis, afetando, principalmente os mais vulneráveis, que dependem da educação pública. Muitos efeitos negativos já podem ser vistos, pois a escola é um “mundo” e lá não apenas se compartilham conteúdos curriculares, mas, para muitas crianças, é um abrigo seguro, longe de vários tipos de explorações, quer sejam sexuais ou de trabalho infantil, bem como de agressões físicas e psicológicas.
Como exemplo de que em muitos lares as crianças estão mais vulneráveis à abusos, faço referência a um estudo realizado no primeiro quadrimestre de 2021, pela Superintendência do Observatório de Segurança Pública, vinculada à Adjunta de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Mato Grosso, que apontou que 72% dos crimes de abuso sexual, de crianças naquele Estado, foram praticados dentro de casa. Podemos conjecturar que, em razão das crianças estarem maior tempo dentro de suas casas, por não estarem nas escolas, ficaram mais suscetíveis a tais crimes.
Muitas crianças encontram na escola, o afeto e o respeito que deveriam encontrar em seus lares. São inúmeros os casos de agressões e até assassinatos de crianças, onde, quem deveria cuidar e dar a devida proteção são os que praticam estes atos criminosos contra seus próprios filhos. Casos notórios, como o do menino Henry Borel, no Rio de Janeiro, onde suspeita-se que a morte da criança foi provocada por seus responsáveis e o do menino Rhuan Maycon, de 9 anos de idade, que foi esquartejado pela mãe, no ano de 2019, além de muitos outros casos emblemáticos.
Vejamos a escola sob o ponto de vista de oferecer proteção às crianças, na medida em que, os profissionais da educação, por vezes, assumem papéis de psicólogos, investigadores, pediatras e até pais dos seus alunos. Quantos casos não foram evitados de chegarem à morte de determinadas crianças pela intervenção de algum educador? Muitas vezes a criança chega na escola com sintomas ou marcas físicas e psicológicas, deixadas por agressões sofridas no ambiente familiar e o professor, ao perceber tal situação, trata de averiguar os fatos buscando solução para resolver o problema daquela criança.
Além destes problemas relacionados à violência familiar, existem os problemas ocasionados pela pobreza extrema de muitas crianças que, por não poderem ir à escola, em razão da suspensão das aulas presenciais, deixam de se alimentar adequadamente, tendo em vista que, em razão de sua situação de vulnerabilidade econômica, muitas vezes falta alimento em seu lar. Muitas crianças têm na escola o único alimento diário, com a suspensão das aulas presenciais, a situação se agravou para muitas delas.
Outro problema que poderá ser sentido é o da socialização, principalmente para crianças com deficiência, que em muitos casos, a terapia indicada pelos profissionais de saúde, para dar mais qualidade de vida à criança, é o da socialização, onde na escola estas crianças têm a oportunidade de conviver com os demais colegas de classe e seus professores, tendo maior condições de desenvolvimentos de algumas habilidades, como é o caso de crianças autistas, por exemplo. Pesquisas mostram que a socialização é um fator muito importante para o desenvolvimento de habilidades de crianças autistas.
Destarte, podemos concluir a importância do funcionamento regular das escolas para nossas crianças e que esse funcionamento não é útil apenas para formar profissionais no futuro, mas para garantir proteção, qualidade de vida e formação cidadã de milhares de crianças que frequentam a escola.
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