Quem vem junto com o prefeito

Dalvir Greiner de Paula

Engana-se quem acha que vai votar apenas no prefeito. Você está votando em muito mais gente do que imagina. Para isso, você deve levar em conta que governar uma cidade, por menor que seja, não é um projeto pessoal. Aliás, é um projeto pessoal que se torna político, na medida em que para que isso se realize é preciso convencer muita gente ao seu lado. E as pessoas que estão ao seu lado precisam convencer outras que estão ao lado delas e ir formando uma corrente de amizade e confiança. Senão, nada feito. São muitos interesses em jogo que precisam das bênçãos do chefe e do trabalho de seus apoiadores.

Para isso, o candidato faz alianças. Primeiro é preciso fazer alianças internas ao partido. O fato de ser de um partido político não significa ser uma unanimidade naquele espaço. Em geral, inicia-se uma luta intestina para se lançar candidato, pois outras pessoas também têm o mesmo desejo. Cada um com seus interesses, cada um com sua vontade, cada um com suas estratégias. Parece fácil quando vemos o anúncio de que o partido “A” lançou o seu candidato. Mas isso é apenas o resultado de várias outras negociações. Evidente que estamos falando de um partido sério, não esses de aluguel, nos quais geralmente não existe uma discussão sobre o candidato. Mas, mesmo assim, é preciso conversar e muito. Quando não se consegue conversar dentro do próprio partido as pessoas saem e fundam outros, quanto menor o partido, mais personalista ele é, ou se matam, como no interior do país ou no México. O Brasil de 2020 tem 33 partidos disputando prefeituras e câmaras municipais.

Feito esse primeiro movimento, o partido busca outras alianças com outros. Aqui, começamos a confundir a cabeça do eleitor. O jogo de interesses é maior que o jogo ideológico. Assim, num país como o Brasil, com mais de 5 mil municípios, toda e qualquer aliança é possível e viável. Negocia-se de tudo para composição da aliança política. Consulta-se tudo e todos, à exceção do povo. Aliás, o povo é quem menos interessa num processo de aliança político-partidária. Com essas alianças gera-se uma confusão tão grande de “ideologias” que, hoje, no Brasil, é impossível dizer em que ponto do espectro democrático encontra-se o partido político: esquerda-centro-direita. Todos acabam por se tornar iguais, principalmente no personalismo. O partido tem a “cara de fulano” e não um programa. As alianças conseguem juntar a direita mais radical com a esquerda mais radical. Imagine no que dá.

Em Belo Horizonte, pelo desespero dos candidatos na televisão, vai dar Alexandre Kalil, 55, reeleito. Alguém sabe o que é isso? PSD, ou seja, Partido Social-democrático. Mas não era do PHS, Partido Humanista da Solidariedade. Não. Era pequeno demais e foi absorvido. Kalil aproveitou e pulou fora: não ficou no PODEMOS, que absorveu o PHS. Mas vamos ao que interessa: o PSD de Kalil fez alianças com muita gente: REDE, PV, PP, MDB, AVANTE, PDT, DC. Isso quer dizer que, não se assuste pois isso está se tornando normal, a prefeitura de Belo Horizonte será entregue a todos aqueles partidos que apoiam Kalil. É uma máquina de empregos grande e poderosa. Grande, pois tem vários cargos à disposição; poderosa, porque paga bons salários se comparados até mesmo dentro da prefeitura.

A corrida eleitoral se dá em cada cantinho, pois a busca de votos para o prefeito tem que, necessariamente, ser traduzida em votos no cabo eleitoral. Um candidato a prefeito tem vários cabos eleitorais em cada quarteirão, em cada bairro da cidade. Um candidato a vereador nada mais é que um cabo eleitoral em sua região. Os mais de 1.500 candidatos a vereador só o são para buscar mais votos para o prefeito. Agora, faça as contas: 1500 candidatos para 41 cadeiras na Câmara Municipal. Essa relação é pior que qualquer vestibular ou concurso público no Poder Judiciário. São 36 candidatos para cada vaga.

É uma luta perversa que é bem recompensada. Se o seu candidato não for eleito vereador, saiba que os votos que ele receberá determinará o lugar do partido naquela máquina de empregos que é a prefeitura de qualquer cidade. O objetivo do candidato nem sempre é uma cadeira na Câmara Municipal. O seu desejo pode ser maior, em lugar mais visível, uma secretaria, por exemplo. Dali, dependendo de sua visibilidade – que será conquistada pelo orçamento municipal – ele pode alçar outros e maiores vôos. Assim, faz-se uma lista decrescente com o número de votos que cada um dos candidatos daqueles partidos que apoiaram o prefeito receberam e dali – chamam isso de capital político – distribuem os cargos na prefeitura. Mesmo que, aparentemente, o detentor do cargo não apareça junto com o partido político.

Então, prestemos atenção e não nos esqueçamos. Os primeiros cargos da lista, que conhecemos como primeiro escalão, pertencerão ao PSD, o partido do prefeito e que ficará com as maiores fatias do orçamento, e também ao MDB e PDT, grandes apoiadores. Serão os Secretários de Governo. Depois temos um grande número de secretários-adjuntos, coordenadorias, diretorias e por aí vai.

Querem uma Reforma Administrativa que aumente o número de cargos disponíveis para distribuição entre os partidos da base de apoio. Por isso temos que lutar todos os dias para que todos os servidores públicos sejam concursados e não apadrinhados.


Imagem de destaque:  Ana Flávia / Unsplash

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