Quem tem medo da educação?

José Heleno Ferreira

Dia 25 de março, Belo Horizonte (MG): em frente à sede da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (MG), professoras e professores são agredidos pela Guarda Municipal.

Dia 31 de março, Goiânia: guarda civil dá um soco no rosto de uma professora durante protesto.

Dia 31 de março, Feira de Santana (BA): professoras e professores são trancados no prédio da Prefeitura e agredidos pela Guarda Municipal.

Nos últimos dias, cenas como estas tornaram-se corriqueiras. Muitas outras poderiam ser citadas. Em diversas cidades do país, docentes são agredidas(os) com socos, pontapés, balas de borracha, jatos d’água, spray de pimenta… São professores e professoras em greve ou realizando manifestações na luta por reajustes salariais, pela recomposição de suas perdas e, na maioria das vezes, para que os governos – municipais e estaduais – cumpram aquilo que a lei estabelece: o Piso Salarial da categoria. São trabalhadores e trabalhadoras enfrentando a fúria dos guardas municipais e de outros agentes em defesa da “ordem”.

Mas que “ordem” seria esta se, na grande maioria dos casos, as reivindicações das(os) professoras(es) é a de que o Estado cumpra a lei? Se a lei não vem sendo cumprida, não seriam os governos – nas diferentes esferas do Estado – aqueles que estão subvertendo a “ordem”? Não seria ainda o Estado que deveria ser responsabilizado por não cumprir a legislação e ainda violar a Declaração Universal de Direitos Humanos que, em seu artigo 3º determina que todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal? Ou ainda violando o artigo 5º da Constituição Federal de 1988 que estabelece o direito à manifestação e que ninguém será tratado de forma degradante?

A violência contra educadores e educadoras é também a violência contra a educação – há muito os ataques contra a escola e às(aos) profissionais da educação têm crescido assustadoramente. A tentativa de amordaçar professores e professoras através de projetos como o “Escola sem Partido”, o incentivo às famílias e aos(às) estudantes para que gravem as aulas e denunciem o professor ou a professora que fizer a defesa de princípios relacionados às lutas populares, aos direitos humanos, à diversidade e contra os preconceitos e estereótipos machistas, misóginos e sexistas… Somam-se a tudo isso as reformas que fragmentam os currículos e buscam imprimir um viés técnico e pragmático à educação escolar…

O ano de 2022 traz grandes desafios àqueles e aquelas que se dedicam à educação escolar. Vivenciamos um longo período em que as escolas estiveram fechadas, em que o ensino remoto e híbrido substituíram o presencial, muitas vezes com o esforço e até mesmo o investimento dos(as) próprios(as) educadores(as) para garantir os recursos tecnológicos para que pudessem trabalhar, uma vez que o Estado, via de regra, não disponibilizou o acesso à Internet e os dispositivos eletrônicos necessários, em que milhões de crianças e adolescentes ficaram fora da escola. O início de um novo período letivo, o retorno às salas de aula, às aulas presenciais, ao contato direto com crianças e adolescentes representaram a possibilidade e a necessidade de um grande investimento pedagógico para restabelecer os laços com a comunidade escolar, para ajudar meninas e meninos a superarem as defasagens acumuladas durante os anos anteriores, a reconstruir os vínculos afetivos necessários para que a educação de fato aconteça.

Mas além de enfrentar todos esses desafios pertinentes ao trabalho docente, professores e professoras precisam enfrentar também a defasagem salarial, o desrespeito à profissão, a não efetivação dos direitos estabelecidos por lei e, em muitos casos, a perseguição política ao trabalho docente e a truculência do Estado e das forças de segurança.

É esta realidade que nos faz perguntar: quem tem medo da educação? Por que a escola e o trabalho docente vêm sendo criminalizados? Por que professoras e professores em luta vêm sendo tratados com tanta violência?

A resposta não é muito difícil. Aqueles que defendem o império da mentira e do ódio, aqueles que se sustentam através da divulgação de notícias falsas, aqueles que cultuam a violência e o medo para encobrir suas próprias fraquezas, aqueles que, não tendo argumentos para o debate usam a força como argumento temem a escola e a educação. Para esses grupos uma educação emancipatória representa um grande perigo. Representa a possibilidade de que sejam questionados, a possibilidade de que seus impérios – que têm pés de barro – desmoronem.

Mas as lutas são também educativas. Professores e professoras da educação básica continuarão nas ruas e nas escolas, ensinando e aprendendo. Anunciando o mundo que queremos construir!


Imagem de destaque: Galeria de Imagens

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