Quando morre a infância do mundo, todos nós morremos um pouco

Não foram raras as vezes que acordamos de luto. Alguns editoriais foram marcados pela denúncia vigorosa das falências que nos acompanham. No entanto, hoje é mais um daqueles dias que chocam pela crueldade com que vidas tão vulneráveis foram ceifadas.

Quatro crianças foram assassinadas dentro de uma creche escolar na cidade de Blumenau, em Santa Catarina. Tudo isso a pouco mais de uma semana em que a professora Elisabeth Tenreiro, 71 anos, também morreu dentro de uma escola atacada por um aluno, na zona oeste da capital paulista.

Há meses, temos denunciado a escalada da violência e de discursos e práticas violentas que, cada vez mais, têm chegado às escolas brasileiras. Antes que seja tarde para soar o alarme, precisamos repensar a escola e a educação como parte do espaço público e dos seus atravessamentos, ainda que dramáticos e cruéis.

Oportunamente, vários(as) educadores(as) que se dedicaram a compreender a infância e a Educação apontam ambas as dimensões como processos particularmente imbricados, sobretudo por se tratar da formação de um tipo de experiência que sempre tem muito a nos dizer. Desde a ótica do cuidado com o mundo, e das múltiplas formas de expressão da infância, Hannah Arendt chegou a traduzir os problemas dessa relação à crise da modernidade, precisamente quando os adultos já parecem não ser capazes de apresentar o mundo e de assumir a responsabilidade por ele, diante daqueles(as) que chegam.

A escolarização é uma das formas de acolher a novidade do mundo, um direito inalienável, como o direito ao brincar, ao descanso, à humanização e uma abertura constante às múltiplas linguagens que se manifestam no convívio e nas trocas com educadores(as). Manter protegidas e cuidadas as nossas crianças é manter a possibilidade do novo: uma chance que nos é conferida a cada nascimento.

Quando morre a infância do mundo, todos nós morremos um pouco. A equipe do Pensar a Educação, Pensar o Brasil reforça suas condolências aos familiares e continua firme na defesa da escola, da democracia e dos valores republicanos, antídotos poderosos na luta contra o fascismo, a violência e a barbárie.


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