Projeto Escola Promotora da Igualdade de Gênero: possibilitando diferentes ações educativas

Lara Torrada Pereira
Paula Regina Costa Ribeiro

Pensar a respeito de questões de gênero e sexualidade no espaço escolar é justapor um modelo de escola engessado na ótica da moralidade, da disciplina e do controle. Significa romper com uma visão determinista e reguladora dos corpos e reconhecer a vida de alguns sujeitos/as/es que borram fronteiras naturalizadas e lineares entre o que é ser homem e o que é ser mulher em nossa sociedade trazendo à tona a fluidez de possibilidades.

O cotidiano escolar não nos permite a inércia, pois ele nos atravessa com a vida e com vivências da transexualidade, da travestilidade, do gênero não binário, da assexualidade, da bissexualidade, da homossexualidade, entre outras. O espaço da escola nos mobiliza, é um lugar de construção e nos impulsiona a movimentos de resistência, que permitem outros modos de pensar e de viver a vida, a escola, os gêneros e as sexualidades.

Desse modo, é tarefa escolar e atividade docente que as discussões dessas questões estejam na intencionalidade pedagógica da/o professora/professor. Fernando Seffner afirma que “professores e professoras não podem se dar ao luxo de desconhecer as questões de gênero, sexualidade e heteronormatividade, seja lá qual a disciplina que lecionem” (2017, p. 23), pois são temas para além do individual, mas que se referem à organização da escola, objetivo do ensino e do currículo.

Nesse sentido, buscar uma aproximação e formação sobre os estudos de gênero e de sexualidade se torna de suma importância para quem trabalha com a educação, e é o que propõe o Projeto de extensão intitulado Projeto Escola Promotora da Igualdade de Gênero que apresentamos brevemente aqui.

Tal Projeto, é promovido pelo Grupo de Pesquisa Sexualidade e Escola – GESE da Universidade Federal do Rio Grande – FURG e tem como objetivo possibilitar formação contínua e apoiar profissionais de escolas das redes estadual e municipal da Educação Básica do Rio Grande/RS que tenham interesse em desenvolver ações para a promoção acerca da igualdade e equidade dos gêneros e das sexualidades com vista à construção de estratégias que resultem na redução dos indicadores de desigualdades.

Tendo a primeira oferta no ano de 2017 atualmente o Projeto está na sexta edição (2022) envolvendo escolas e profissionais da Educação Infantil, Anos Iniciais e Anos Finais do Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA) da rede estadual e municipal do Município de Rio Grande/RS. Alicerçado em pressupostos dos estudos de gênero e estudos da sexualidade, a formação a partir do Projeto baseia-se e compreende que o gênero e a sexualidade são construções históricas, sociais e culturais, implicadas na constituição dos/as/es sujeitos/as/es.

Desse modo, entender essas questões como construções sociais e não como determinações biológicas permite-nos repensar, subverter e questionar as verdades impostas pela heteronormatividade, que instaura categorias e limites para as vivências do gênero e da sexualidade, além de fomentar as desigualdades. Isso porque as desigualdades não se dão pelas diferenças biológicas, mas estão na forma como historicamente foi se produzindo as diferenças nas condições de acesso a recursos sociais.

Essas desigualdades são reproduzidas em variadas instâncias sociais como família, escola, mídia, instituições religiosas, ainda assim, enxergamos a escola como um espaço que, articulando campos de conhecimentos, saberes e sentidos, possibilita que crianças e jovens vivenciem “uma experiência modificada de si” (SEFFNER, 2017, p. 25), em que podem confrontar com os aprendizados presentes nas demais instituições.

É no espaço escolar então que ferramentas pedagógicas podem ser fornecidas para pensar de outra forma, possibilitando que outro modo de compreender e viver os gêneros e as sexualidades chegue às professoras/es, às crianças e jovens, às equipes diretivas, e também à comunidade escolar em geral.

À vista disso, ressaltamos a importância de propostas como o Projeto Escola Promotora da Igualdade de Gênero, que tem funcionado ao longo desses seis anos como um espaço de contar, ouvir e contrapor entendimentos, conceitos, saberes, histórias de vida, práticas de docência, os/as professores/as têm repensado questões relacionadas ao gênero e à sexualidade, desestabilizando saberes que se encontram naturalizados na nossa sociedade e, dessa forma, permitem a emergência de outras formas de compreender as produções de gênero e sexualidade, tornando-se, assim, capacitados/as e multiplicadores/as das discussões que temos construído durante o Projeto.

Para saber mais
SEFFNER, Fernando. Tem nexo não falar sobre sexo na escola? Revista Textual. Porto Alegre: Sinpro/RS, v. 1, n. 25, p. 22–29, maio, 2017. Disponível em: <https://www.sinprors.org.br/wp-content/uploads/2017/11/Textual_maio_2017_completa.pdf>. Acesso em: 02 de junho de 2022.


Imagem de destaque: Galeria de imagens

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *