Por que ler a autobiografia de uma mulher nascida na escravidão importa?

Alexandra Lima da Silva

Distribuição – Editora Todavia

Livros de natureza autobiográfica não são novidade na autoria de mulheres negras, que, desde o século XIX, já vivenciaram a escrita de si como resistência. Neste vasto universo, destaco especificamente a autobiografia de Harriet Jacobs, obra considerada uma “slave narrative”. De acordo com a Encyclopedia Britannica, slave narrative “é um relato de vida, ou de grande parte da vida de um fugitivo ou ex-escravo, seja escrito ou oralmente, pelo próprio pelo sujeito”. Tais narrativas se constituem como uma das mais influentes tradições na Literatura Americana, estando presentes em escritas controversas, tanto na ficção como na autobiografia, na história dos Estados Unidos.

Nascida na escravidão nos Estados Unidos em 1813, Harriet Ann Jacobs narrou a própria vida no livro Incidents in the Life of a Slave Girl, written by herself, publicado originalmente em língua inglesa, no ano de 1861. A primeira vez que a autobiografia de Harriet Jacobs foi traduzida no Brasil foi no ano do centenário da abolição da escravidão do Brasil (1988), numa publicação da Editora Campus. Só 30 anos depois, mereceu nova atenção de editoras brasileiras. Em 2018 a editora Aetia publicou Incidentes na vida de uma garota escrava, escritos por ela mesma. Em 2019, a editora Todavia publicou Incidentes na vida de uma menina escrava. E em 2020, a editora Hedra publicou Incidentes da vida de uma escrava, escritos por ela mesma.

Por que a leitura de autoras negras é urgente no Brasil contemporâneo?

Após um longo processo histórico de silenciamento, o mercado editorial brasileiro tem demonstrado especial interesse pela autoria de mulheres negras, com destaque para um movimento de tradução de autoras de língua inglesa nascidas nos Estados Unidos. Sem dúvida, tal interesse é fruto das demandas das próprias mulheres negras, que, através de diferentes frentes, reivindicam obras que discutam temas relacionados às pautas do feminismo negro. O debate em torno da importância da representatividade e da visibilidade são outros aspectos dignos de nota.

O movimento de tradução de autobiografias de homens e mulheres que viveram a traumática experiência da escravidão é um movimento importante, pois permite que possamos ouvir as vozes silenciadas e ausentes em parte significativa dos livros didáticos de História e da história que nos é ensinada.

Referências:

JACOBS, Harriet. Incidents in the Life of a Slave Girl. Written by Herself. Boston, 1861.

_____. Incidentes na vida de uma escrava: contados por ela mesma. Traduzido por Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1988.

_____. Incidentes na vida de uma garota escrava, escritos por ela mesma. São Paulo, Aetia Editorial, 2018.

___.Incidentes na vida de uma menina escrava. São Paulo: Todavia, 2019.

___. Incidentes da vida de uma escrava, escritos por ela mesma. São Paulo: Hedra, 2020.

SILVA, Alexandra Lima da; AMORIM, Josiane. A Autobiografia de Harriet A. Jacobs como fonte para a história da educação In: Narrativas (auto)biográficas : educação, pesquisas e reflexões.1 ed.Teresina: EDUFPI, 2019, v.1, p. 17-30.

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