Um Elogio à Escola!

Editorial do Jornal Pensar a Educação em Pauta nº 193 

 

Nestes tempos sombrios em que vivemos, quando pessoas com práticas e comportamentos fascistas ocupam o espaço público sob o aplauso de muitos “homens e mulheres de bem”, à escola é debitada uma grande responsabilidade pela “crise de valores” em que vivemos. Segundo muitos, teríamos chegado até aqui justamente pela falta de educação de nossa população. Seria, também por isso, que somos uma das nações mais desiguais do planeta. Estas pessoas esquecem que os apoiadores do Bolsonaro são justamente os mais escolarizados e que, ao longo do século XX, expandimos muito a escolarização da população brasileira e nem por isso deixamos de aumentar as nossas desigualdades.

Esquecem, também, que uma política de escolarização sem reforma agrária, empregos, salários dignos, políticas de ocupação urbana, políticas de transferência de renda, dentre outras, muito pouco ou nada podem fazer para diminuir as desigualdades. Neste sentido, entre nós, no mais das vezes, a falta da escola tem sido utilizada para culpabilizar os pobres pela pobreza e, longe de promover a igualdade e a justiça social, tem se prestado a naturalizar e legitimar nossas injustiças e desigualdades sociais.

No entanto, não podemos nos esquecer que a escola básica pública brasileira é a mais republicana de nossas instituições públicas. É a instituição que mais acolhe e promove as diferenças, evitando transformá-las em desigualdades. É a que mais acolhe as populações pobres, negras e indígenas do país. É a que mais força faz para acolher bem as pessoas deficientes e garantir-lhes o direito à educação. É a escola, dentre as nossas instituições, a que menos desigualmente recebe e educa as mulheres. É, pois, de longe, a mais capilar e inclusiva dentre todas as instituições do Estado brasileiro.

Acusa-se a escola, muitas vezes, dela ter permanecido no século XIX. Mas isso não é justo nem verdadeiro. Por meio do esforço dos profissionais da educação, das famílias, dos(as) pesquisadores da área, dos(as) ativistas sociais, dentre outros,  a nossa escola básica pública é a que mais e melhor soube incorporar as grandes questões de nosso tempo e delas tratar com dignidade, ainda que com muitos problemas. Não é por outra razão que movimentos e milícias de direita querem calar o professor e destruir a escola pública.

Na verdade, o Brasil que ficou no século XIX é o do capitalismo predatório que aqui se pratica e o salário que aqui se paga; são nossas elites políticas e intelectuais que continuam a criminalizar os pobres e os movimentos sociais dos trabalhadores; são aqueles que praticam e legitimam o racismo, a homofobia, os sexismos e a violência como forma de lidar com os conflitos sociais. Do século XIX é nossa atual legislação trabalhista e nossa estrutura agrária.  Do século XIX é o nosso parlamento e nosso judiciário, tanto em sua composição quanto em sua atuação. Em relação a estas instituições, não há dúvida que a nossa escola básica pública é muito mais contemporânea, democrática e avançada do que todas elas.

Imbuídos da falsa crença de que a escola pública é uma instituição desatualizada, muitos querem “atualizar” a escola, transformando-a num fast-food de conhecimentos ou numa plataforma on-line de relações impessoais. Outros desistem da própria escola e advogam o retorno da prole ao lar para submeterem-na à educação doméstica. Essa busca de esvaziamento da escola pelos setores mais reacionários e contrários aos avanços das políticas por mais igualdade mostra que, mesmo com limites e grandes imperfeições, nossa escola básica pública avançou e tem se constituído num tempo-espaço de diálogo das crianças e jovens com as grandes interpelações de nosso tempo. É por isso também que ela deve ser elogiada!

 

Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil

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Um Elogio à Escola!

Nestes tempos sombrios em que vivemos, quando pessoas com práticas e comportamentos fascistas ocupam o espaço público sob o aplauso de muitos “homens e mulheres de bem”, à escola é debitada uma grande responsabilidade pela “crise de valores” em que vivemos. Segundo muitos, teríamos chegado até aqui justamente pela falta de educação de nossa população. Seria, também por isso, que somos uma das nações mais desiguais do planeta. Estas pessoas esquecem que os apoiadores do Bolsonaro são justamente os mais escolarizados e que, ao longo do século XX, expandimos muito a escolarização da população brasileira e nem por isso deixamos de aumentar as nossas desigualdades.

Esquecem, também, que uma política de escolarização sem reforma agrária, empregos, salários dignos, políticas de ocupação urbana, políticas de transferência de renda, dentre outras, muito pouco ou nada podem fazer para diminuir as desigualdades. Neste sentido, entre nós, no mais das vezes, a falta da escola tem sido utilizada para culpabilizar os pobres pela pobreza e, longe de promover a igualdade e a justiça social, tem se prestado a naturalizar e legitimar nossas injustiças e desigualdades sociais.

No entanto, não podemos nos esquecer que a escola básica pública brasileira é a mais republicana de nossas instituições públicas. É a instituição que mais acolhe e promove as diferenças, evitando transformá-las em desigualdades. É a que mais acolhe as populações pobres, negras e indígenas do país. É a que mais força faz para acolher bem as pessoas deficientes e garantir-lhes o direito à educação. É a escola, dentre as nossas instituições, a que menos desigualmente recebe e educa as mulheres. É, pois, de longe, a mais capilar e inclusiva dentre todas as instituições do Estado brasileiro.

Acusa-se a escola, muitas vezes, dela ter permanecido no século XIX. Mas isso não é justo nem verdadeiro. Por meio do esforço dos profissionais da educação, das famílias, dos(as) pesquisadores da área, dos(as) ativistas sociais, dentre outros,  a nossa escola básica pública é a que mais e melhor soube incorporar as grandes questões de nosso tempo e delas tratar com dignidade, ainda que com muitos problemas. Não é por outra razão que movimentos e milícias de direita querem calar o professor e destruir a escola pública.

Na verdade, o Brasil que ficou no século XIX são o do capitalismo predatório que aqui se pratica e o salário que aqui se paga; são nossas elites políticas e intelectuais que continuam a criminalizar os pobres e os movimentos sociais dos trabalhadores; são aqueles que praticam e legitimam o racismo, a homofobia, os sexismos e a violência como forma de lidar com os conflitos sociais. Do século XIX são nossa atual legislação trabalhista e nossa estrutura agrária.  Do século XIX é o nosso parlamento e nosso judiciário, tanto em sua composição quanto em sua atuação. Em relação a estas instituições, não há dúvida que a nossa escola básica pública é muito mais contemporânea, democrática e avançada do que todas elas.

Imbuídos da falsa crença de que a escola pública é uma instituição desatualizada, muitos querem “atualizar” a escola, transformando-a num fast-food de conhecimentos ou numa plataforma on-line de relações impessoais. Outros desistem da própria escola e advogam o retorno da prole ao lar para submeterem-na à educação doméstica. Essa busca de esvaziamento da escola pelos setores mais reacionários e contrários aos avanços das políticas por mais igualdade mostra que, mesmo com limites e grandes imperfeições, nossa escola básica pública avançou e tem se constituído num tempo-espaço de diálogo das crianças e jovens com as grandes interpelações de nosso tempo. É por isso também que ela deve ser elogiada!

 

Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil http://www.otc-certified-store.com/skin-care-medicine-usa.html https://zp-pdl.com/get-a-next-business-day-payday-loan.php zp-pdl.com http://www.otc-certified-store.com/birth-control-medicine-usa.html

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