Trabalho e Necessidade

Dalvit Greiner

O trabalho, em nenhuma situação, mas principalmente no Capitalismo, pogde ser considerado como uma atividade prazerosa. A própria palavra deriva de um instrumento de tortura usado para obrigar as pessoas a realizar algo para outra pessoa. Raramente, quando executamos alguma atividade para nós mesmos não a consideramos trabalho. Por exemplo, as atividades domésticas para a manutenção da vida, realizado na maioria das vezes e em sua maior e pior parte pelas mulheres, não é considerado trabalho. Estudar não é visto pelas pessoas como trabalho.

Nenhuma atividade que realizamos no e para o Capitalismo pode ser prazerosa. A sua medida é uma só: se a realizamos por necessidade não existe prazer em realizá-la. Sempre que exercemos alguma atividade, nós o fazemos para alguém e em qualquer situação teremos uma recompensa: o artista tem o aplauso e nosso ingresso que, juntos com outros ingressos darão a ele suas condições de vida; os religiosos tem o seu dízimo e suas ofertas. São apenas dois exemplos de atividades prazerosas. Estão ligadas aos humanos, mas não nos mantém em nossa natureza biológica.

O trabalhador, porém não tem recompensa pela atividade que realiza. Estou falando de salário. O trabalhador é aquele que realiza alguma atividade para suprir suas necessidades básicas e as supre – mal – em virtude do salário que recebe. O salário de um trabalhador representa uma parcela muito pequena do produto realizado. Portanto, por maior que seja o seu salário – talvez porque você exerce alguma atividade mais especializada – significa que há um mínimo de exploração sobre as atividades que você realiza. Com toda a certeza, a equipe do ILAESE tem uma tabela que vai te mostrar o quanto você é explorado. Para ficarmos só num exemplo o trabalhador da empresa CBMM – primeiro lugar na taxa de exploração no Brasil – trabalho 34 minutos para si mesmo e as outras 7 horas e 26 minutos para a empresa. Ou seja, o trabalhador dessa empresa é explorado por mais de sete horas num dia de oito horas de trabalho. É uma taxa de exploração da ordem de 1346,12 por cem. Treze vezes e meia. Ninguém se submete a essa situação por prazer.

As palavras e os atos em torno do trabalho são, como a própria palavra, derivadas dos instrumentos da escravidão. O tripálio, com que se batia o trigo na agricultura, era um instrumento com que se castigava o escravo que não exercia bem ou não exercia a sua atividade. Na antiguidade, salário era o sal que se dava aos soldados na volta para casa. Sal que era um conservante raro para as carnes, principalmente aquela aberta nas costas dos escravos, bem de inestimável valor que não podia morrer. Jornada é a quantidade de tempo livre que o patrão toma de você no seu dia (jour) de vinte e quatro horas. São palavras e expressões muito negativas em torno do trabalho justamente pela natureza da atividade.

O homem da mitologia judaico-cristã, ao tentar suprir uma necessidade e um desejo, foi condenado ao trabalho. O Sísifo moderno não para. O suor do rosto só é liquefação da energia de si mesmo numa atividade não prazerosa. Assim, toda atividade realizada como trabalho é um castigo e toda atividade não realizada é punida com castigos. No sistema Capitalista nada relacionado ao trabalho pode ser visto com otimismo, prazer e satisfação, pois consiste no seu tempo livre que é comprado para satisfação das necessidades e prazeres de poucos. Tempo livre que são para o seu ócio e prazer.

O que tentamos em nosso cotidiano é tirar algum prazer das atividades de trabalho que vendemos ao nosso patrão, seja ele quem for. O prazer que tentamos tirar de nossos trabalhos é em função da sua inevitabilidade. Como nossas necessidades nos lançam ao trabalho, tentamos a cada dia buscar um mínimo de prazer e satisfação. Nosso tempo livre é forçosamente vendido e tomado pelo capital quando nos tomam tudo aquilo que nos mantém vivos. Precisamos de dinheiro em forma de salário para nos manter vivos. Porém, a valorização de qualquer atividade não deve ser medida em dinheiro, na medida em que a valorização se dá pelo reconhecimento da utilidade de nossas atividades. Assim, luta salarial não deve ser confundida com valorização de nossas atividades. Luta salarial é a luta pelo pagamento de nosso trabalho. Valorização e reconhecimento se darão na sociedade.


Imagem de destaque: Vinicius “amnx” Amano / Unsplash

 

 

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