“Seu silêncio não vai te proteger”: uma leitura de Irmã outsider

Alexandra Lima da Silva

“As ferramentas do senhor nunca derrubarão a casa-grande” é um dos meus ensaios preferidos de Audre Lorde. Ele está presente no livro Irmã outsider, recém-traduzido para o português. São ensaios e conferências escritos por Audre Lorde em diferentes ocasiões, reunidos numa única obra.

Concordo com Stephanie Ramos, quando ela diz que “Audre Lorde é muitas e únicas. Mulher negra, poeta, lésbica e guerreira”. Por meio da escrita, enfrentou o racismo, o machismo, a homofobia, pois ela se situava nas margens.

Uma outsider.

Não era branca.

Não era heterossexual.

Não era magra.

Estava fora dos “padrões de aceitabilidade” da “mulher aceitável”.

Numa sociedade racista, misógina, machista e classista como a brasileira, o pensamento de Audre Lorde é sempre um respiro para aquelas pessoas “sufocadas” e asfixiadas diariamente pela violência.

A poesia nascia da raiva. Em “Os usos da raiva: as mulheres negras reagem ao racismo”, Audre Lorde afirma “minha reação ao racismo é a raiva” pois “mulheres que reagem ao racismo são mulheres que reagem à raiva; a raiva da exclusão, do privilégio que não é questionado, das distorções raciais, do silêncio, dos maus-tratos, dos estereótipos, da postura defensiva, do mau julgamento, da traição e da cooptação” (LORDE, 2019, p. 155).

Com Lorde eu aprendo diariamente que “poesia não é luxo”, é necessidade, é potência. Porque nós mulheres, sobrevivemos. “Como poetas. E não existem novas dores. Já as sentimos antes. E escondemos esse fato no mesmo lugar onde temos escondido nosso poder. As dores emergem dos nossos sonhos e são os nossos sonhos que apontam o caminho da liberdade” (LORDE, 2019, p. 49).

Os livros de Audre Lorde residem na minha cabeceira.

LORDE, Audre. Irmã outsider. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.


Imagem de destaque: Audre Lorde. Foto: Elsa Dorfman.

 

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