Seu professor está com depressão. O que você tem a ver com isso?

Gabrielle Muniz*

No Facebook se encontra uma página intitulada “Professor da Depressão”. Abra uma nova aba no seu navegador e dê uma olhada. Cheia de publicações de tom humorístico, usando os famigerados memes, a página recorre aos ‘inconvenientes’ da vida docente para gerar “Haha’s” e compartilhamentos. A descrição da página se diz “dedicada àqueles que trabalham muito, ganham pouco e são obrigados a ler/ouvir cada coisa que até Deus duvida: OS PROFESSORES!”

Piadas a parte, damos a entender, recorrentemente, que a profissão do professor é recheada de desafios e horrores diários. E não é mentira. Em suas salas esses profissionais recebem crianças e jovens, de personalidades várias, vindos de N contextos. Dessa mistura obtemos tanto uma rica contribuição no processo de ensino-aprendizagem como, também, comportamentos irresponsáveis e agressivos, desrespeito pela vida e individualidade do outro… Inúmeras reações que naturalmente surgem do contato de sujeitos com diferentes construções.

Considerando, claro, que o intuito da página citada é puro entretenimento, não deixa de ser necessária a críticaà forma com a qual a doença é encarada no cotidiano. Quantas vezes você escutou que alguém não estava num dia bom? Ou que estava ‘deprimido’? E quantas vezes, suponho, alguém respondeu a essa pessoa para dar “uma caminhada lá fora que passa”, ou, talvez, parar de drama? Temos uma epidemia social que subestima a depressão e, também, que caracteriza qualquer momento triste como o ápice da doença. Duas atitudes erradas. Primeiro que generalizar ou amenizar um transtorno mental é ignorância e desrespeito, levando sua banalização e o sentimento de humilhação por parte de quem está doente. Segundo, há uma gama de sintomas psíquicos e sensações físicas que determinam o diagnóstico profissional da depressão – ela não é um dia triste de maio de céu nublado. A depressão é ‘uma valaúmida e fétida’, ansiedade, entorpecimento, desprazer, entre outros sintomas. Fortes crises podem durar dias e quiçá semanas. E para ser abrandada/erradicada, o indivíduo necessita se afastar das atividades cujas quais propagaram os sintomas.

Pode ser surpreendente para alguns (e, na pior das hipóteses, inaceitável para quem imagina ser o professor um ser de ferro) saber que o docente também adoece. Aquele que corrige 35 provas diferentes, conhece características de cada estudante, prepara lembrancinhas à mão, 35 delas para serem levadas aos pais em datas comemorativas. Mas ele também é o profissional que com medo, dá mais uma advertência ao aluno que o ameaçou, cujo carro é riscado no estacionamento, que os alunos fazem chacotas com a aparência e/ou modo de vestir. Se em toda escola e/ou faculdade, pública e privada, há o rico ambiente de personalidades, então há o atrito no encontro delas. Consequências desse atrito combinados com a carga de trabalho do docente, diariamente, configuram caso de estresse extremo, o famoso burnout.

Você já reparou como esse assunto é introduzido e tratado nas escolas? Exatamente: quase nunca ele aparece e, quando surge, o discurso é o conhecido “seja empático, se coloque no lugar de seu colega.” Fisicamente, isso é impossível de ser feito. Talvez uma roda de conversa, em que todos tenham que dar sua palavra sobre a questão, seria mais efetiva e até mesmo mais empática, do que o clichê acima. O Teatro do Oprimido, criação efervescente de Augusto Boal, é uma ferramenta de trabalho social, político, estético e ético que surte bastante efeito se usada para ampliar debates, como a depressão na escola. O TO não é simplesmente um debate vocal, ele se fortalece mais usando a expressão corporal dos sujeitos, construindo intervenções de cena, pautadas no tema. Que tal pesquisar mais sobre e inserir essa ideia no seu grupo? Não deixe só nas mãos de seu professor todas as temáticas de trabalho, sugira a ele; incentive sua turma a se conscientizar a fundo sobre a questão.

Quem sabe se alguém em sua turma precisa que mostrem isso a ele/ela para se sentir compreendido(a)? Quem sabe é seu(ua) próprio(a) professor(a)?

O melhor meio de tornar uma sociedade mais benevolente e altruísta é iniciar na escola, com os estudantes.

Se você, discente ou docente,está descobrindo os seus sintomas, o melhor a ser feito é conversar sobre com um psicólogo. Se tem dúvidas ou crenças a respeito da depressão, tire-as, se esclareça. Não propague ideias sobre a doença, a não ser que sejam pautadas em conhecimento científico ou que possam fortalecer o outro.


*Acadêmica de Pedagogia na Universidade Federal de Minas Gerais

Imagem de destaque: Geronimo Gonzalez GiqueauxUnsplash

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