Ser professora no Brasil

Editorial do número 335 do Jornal Pensar a Educação em Pauta

Ser professora/professor, sobretudo na escola básica, não é uma tarefa fácil em nenhum lugar do mundo. Como nenhuma outra profissão, são as docentes que todos os dias têm que receber, educar e cuidar de dezenas e, às vezes, de centenas de crianças e adolescentes, introduzindo-os ao mundo e às culturas que os antecederam. Mas, como sabemos, não é apenas a sala de aula e a escola que se ocupam as professoras. As relações comunitárias e com as famílias, as demandas e tensões das demais instituições do Estado e as políticas educacionais, para dizer de algumas outras, ocupam o tempo e o pensamento docente. Essas ocupações cotidianas, responsabilidades assumidas de anos a fio, moldam o corpo e mente, estabelecem destinos e ajudam a recriar o universo de possíveis para gerações inteiras de pessoas, e para as próprias praticantes da docência.

Ser professora/professor, sobretudo da escola básica, no Brasil, é um desafio à parte, mais ainda nos tempos atuais! Aqui, além de se ocupar das responsabilidades inerentes à profissão, professoras e professores têm visto suas energias serem mobilizadas e, às vezes, sugadas, por uma série de ocupações, atividades e necessidades  das/dos estudantes e suas famílias e  da sociedade brasileira que tornam o exercício da docência um desafio ainda maior.

Aqui, há sempre que se enfrentar o desafio histórico de construir uma escola digna e de qualidade para todes em uma sociedade que faz a opção sistemática pela desigualdade, pela violência e pelo aviltamento da dignidade das pessoas.  E desta opção, é claro, nem sempre as  próprias professoras e professores estão a salvo. Então, um desafio maior ainda é como, numa sociedade racista, machista, homofóbica, desigual… manter a utopia de uma escola democrática, inclusiva e igualitária. Felizmente, há um número enorme de professoras e professores que, cotidianamente, sustentam tal utopia!

Mas, no Brasil, ocupam-se as professoras e os professores da defesa da própria escola contra os movimentos obscurantistas e antidemocráticos, boa parte deles, nos últimos anos, encastelados no próprio Estado brasileiro.  As destruições das estruturas de Estado e do conjunto das políticas públicas, e não apenas as educativas, impactam sobremaneira o exercício da docência e tem encontrado nas professoras e nos professores, sobretudo da educação básica, um foco de resistência contínuo e tenaz.

Nas últimas décadas, ao contrário das caricaturas e dos preconceitos que circulam socialmente, têm sido o movimento das professoras e dos professores da educação básica uma das forças de construção de um país mais igualitário e democrática, ao mesmo tempo em que se  mobilizam contra a destruição em curso do país. Não é sem razão, portanto, que são as professoras e os professores os principais alvos de ataques e agressões físicas e simbólicas dos movimentos autoritários no Brasil.

Hoje, mais do que nunca, muito mais do que ansiar por uma idealizada e idílica sala de aula, as professoras brasileiras, sobretudo da escola básica, têm sido uma força política fundamental contra a destruição do Brasil e o aumento das desigualdades, inclusive as escolares, ainda que não apenas. Reconhecer essa força, essa atuação e a importância da docência nestes tempos sombrios em que as tecnologias parecem tomar o lugar das pessoas, das relações e dos afetos, é de fundamental importância se não queremos sucumbir ao niilismo, à tristeza e à falta de perspectivas para a crianças, adolescentes e, mesmo, para as pessoas adultas.

A tristeza e o medo não são bons conselheiros para fazer política. A boa política, aquela que sonha e constrói mundos melhores está diretamente relacionada à nossa capacidade de alegrar e festejar. Assim, ainda que em tempos sombrios e autoritários, somos instados a continuar comemorando e festejando o DIA DA PROFESSORA/DO PROFESSOR, pois é preciso continuar construindo utopias e a sonhar um país que seja digno de todas, todos e todes que o habitam!


Imagem de destaque: Prefeitura de Olinda

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Ser professora no Brasil

Ser professora/professor, sobretudo na escola básica, não é uma tarefa fácil em nenhum lugar do mundo. Como nenhuma outra profissão, são as docentes que todos os dias têm que receber, educar e cuidar de dezenas e, às vezes, de centenas de crianças e adolescentes, introduzindo-os ao mundo e às culturas que os antecederam. Mas, como sabemos, não é apenas a sala de aula e a escola que se ocupam as professoras. As relações comunitárias e com as famílias, as demandas e tensões das demais instituições do Estado e as políticas educacionais, para dizer de algumas outras, ocupam o tempo e o pensamento docente. Essas ocupações cotidianas, responsabilidades assumidas de anos a fio, moldam o corpo e mente, estabelecem destinos e ajudam a recriar o universo de possíveis para gerações inteiras de pessoas, e para as próprias praticantes da docência.

Ser professora/professor, sobretudo da escola básica, no Brasil, é um desafio à parte, mais ainda nos tempos atuais! Aqui, além de se ocupar das responsabilidades inerentes à profissão, professoras e professores têm visto suas energias serem mobilizadas e, às vezes, sugadas, por uma série de ocupações, atividades e necessidades  das/dos estudantes e suas famílias e  da sociedade brasileira que tornam o exercício da docência um desafio ainda maior.

Aqui, há sempre que se enfrentar o desafio histórico de construir uma escola digna e de qualidade para todes em uma sociedade que faz a opção sistemática pela desigualdade, pela violência e pelo aviltamento da dignidade das pessoas.  E desta opção, é claro, nem sempre as  próprias professoras e professores estão a salvo. Então, um desafio maior ainda é como, numa sociedade racista, machista, homofóbica, desigual… manter a utopia de uma escola democrática, inclusiva e igualitária. Felizmente, há um número enorme de professoras e professores que, cotidianamente, sustentam tal utopia!

Mas, no Brasil, ocupam-se as professoras e os professores da defesa da própria escola contra os movimentos obscurantistas e antidemocráticos, boa parte deles, nos últimos anos, encastelados no próprio Estado brasileiro.  As destruições das estruturas de Estado e do conjunto das políticas públicas, e não apenas as educativas, impactam sobremaneira o exercício da docência e tem encontrado nas professoras e nos professores, sobretudo da educação básica, um foco de resistência contínuo e tenaz.

Nas últimas décadas, ao contrário das caricaturas e dos preconceitos que circulam socialmente, têm sido o movimento das professoras e dos professores da educação básica uma das forças de construção de um país mais igualitário e democrática, ao mesmo tempo em que se  mobilizam contra a destruição em curso do país. Não é sem razão, portanto, que são as professoras e os professores os principais alvos de ataques e agressões físicas e simbólicas dos movimentos autoritários no Brasil.

Hoje, mais do que nunca, muito mais do que ansiar por uma idealizada e idílica sala de aula, as professoras brasileiras, sobretudo da escola básica, têm sido uma força política fundamental contra a destruição do Brasil e o aumento das desigualdades, inclusive as escolares, ainda que não apenas. Reconhecer essa força, essa atuação e a importância da docência nestes tempos sombrios em que as tecnologias parecem tomar o lugar das pessoas, das relações e dos afetos, é de fundamental importância se não queremos sucumbir ao niilismo, à tristeza e à falta de perspectivas para a crianças, adolescentes e, mesmo, para as pessoas adultas.

A tristeza e o medo não são bons conselheiros para fazer política. A boa política, aquela que sonha e constrói mundos melhores está diretamente relacionada à nossa capacidade de alegrar e festejar. Assim, ainda que em tempos sombrios e autoritários, somos instados a continuar comemorando e festejando o DIA DA PROFESSORA/DO PROFESSOR, pois é preciso continuar construindo utopias e a sonhar um país que seja digno de todas, todos e todes que o habitam!


Imagem de destaque: Prefeitura de Olinda

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