Revisitar os estudos sobre a docência – parte III

Roberto Rafael Dias da Silva

Em um diagnóstico crítico, Tardif e Lessard (2011) sublinham um caráter de mudança na composição contemporânea do trabalho docente, sobretudo no que concerne às representações sobre a instituição escolar. Em suas palavras, “a escola se parece com um estacionamento, e a função docente é assinalada a uma forma de vigilância”. Ainda examinando as questões contemporâneas acerca da docência, Nóvoa (2000), há quase duas décadas em uma conferência realizada no Brasil, destacava o fato de que estávamos experienciando naquele momento um “excesso de discursos”, articulado a uma “pobreza de práticas”. De forma paradoxal, parece que atualmente estamos sendo deslocados para outra posição.

Ao analisar a produção contemporânea dos cursos de formação inicial e continuada de professores, poderíamos constatar um deslocamento de suas agendas pedagógicas no decorrer da última década. Parece configurar-se uma ênfase nos conhecimentos da prática profissional, atribuindo-lhes maior capacidade heurística para explicar a docência. Em um estudo sobre os professores e sua formação, Popkewitz (2015) examina os modos pelos quais as atuais ciências da educação atribuíram centralidade conceitual e operacional para a noção de “prática”. Segundo Popkewitz, em um período de centralidade da aprendizagem ao longo da vida, predomina uma constatação de que a “‘prática’ é uma abstração que expressa teorias sobre o futuro ‘professor’ cosmopolita ideal, para ser atualizado mediante investigação que deve maximizar a utilidade do ‘sistema escolar’”. De acordo com o pesquisador, as práticas operariam como objeto de estudo destinado a modificar as práticas cotidianas e, ao mesmo tempo, definiriam as condições ideais de atuação e formação dos professores.

Ampliando a argumentação, conforme Popkewitz, as práticas seriam compreendidas como “teorias de desejos a materializar”. A opção pelas práticas delineariam uma forma mais “autêntica” para pensar as condições da escolarização e, concomitantemente, definiriam modos privilegiados de pensar e atuar nos processos formativos. Em outras palavras, do ponto de vista da epistemologia social descrita por Popkewitz, a centralidade das práticas definiria modos específicos de pensar e fazer docência.

Assim, poderíamos interrogar se a centralidade das práticas, mais que fabricar uma determinada configuração de formação de professores, não estaria engendrando uma específica forma de fazer docência. Novamente em aproximação a Popkewitz, poderíamos assinalar que “a prática é uma declaração teórica sobre um tipo de pessoa ideal que a investigação conceitua, calcula e mede para reconhecer suas características e capacidades”. O próprio professor torna-se alvo de uma teoria da mudança que, ao enfatizar as práticas, concebe novos modos de perícia profissional para os docentes contemporâneos e, de forma paradoxal, redefine as relações entre teoria e prática.

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