Retorno às escolas pelo mundo: experiências na Espanha, em Portugal e na Austrália

Karina Lúcia Pereira*

Babita Faria

Coletivo Geral Infâncias

Há mais de nove meses, devido à pandemia, as escolas de 192 países fecharam. Cerca de 1,6 bilhão de alunos chegaram a ficar sem aulas presenciais. O processo de ensino remoto tem ampliado a exclusão do sistema escolar, evidenciando a necessidade pré existente de mudança. Como aponta Laís Martins, o contexto da pandemia deveria ser compreendido como uma oportunidade para redesenhar o currículo nas escolas, a partir de valores para o exercício da cidadania e respeito pela diversidade.

Francesco Tonucci, um defensor do aprendizado por experiências e vivências, diante do distanciamento social, aponta para a importância de se fazer da casa “um laboratório de descobrir coisas” e desse momento, uma oportunidade para rever o atual modelo de educação. Como alternativa, estudos como o Ser Criança é Natural tem mostrado os benefícios do contato com a natureza para o desenvolvimento da criança, por exemplo. Assim, o planejamento do retorno às escolas também é um momento para repensar a formação integral e os territórios de aprendizagem da criança, buscando construir espaços de ensino com maior presença da natureza e com o uso de espaços além muros.

Com frequência, nós do Coletivo Geral Infâncias retomamos o provérbio indiano que diz que “é preciso uma aldeia para educar uma criança”. Considerando as diferentes realidades vivenciadas pelas famílias durante a pandemia, as quais influenciam diretamente no papel que a escola desempenha na vida da criança, essa integrante da aldeia se faz ainda mais necessária. A seguir, apresentamos alguns depoimentos cedidos por brasileiros que moram fora do país e já passaram por experiências de retorno às aulas.

Segundo os relatos e notícias da mídia nacional e internacional, o retorno às escolas, com raras exceções, tem respeitado a curva em declínio. No exterior, os protocolos sanitários foram elaborados a nível nacional, com comunicação transparente entre escolas, responsáveis e governo, e com a participação direta do serviço de saúde local, sempre acionado quando há suspeita de casos de contaminação.

Em Barcelona, na Espanha, os pais da pequena Gaia, de 3 anos, receberam um protocolo extenso e rigoroso antes do retorno às aulas. As regras sanitárias – como o distanciamento mínimo de 1m entre alunos, o uso de máscaras pelos professores, a higienização constante dos espaços e das mãos, o envio de calçados extras para uso exclusivo na escola e a proibição da entrada dos pais nas áreas de convívio – tem sido medidas comumente adotadas.

Na cidade de Porto, em Portugal, Fernanda Lourenço diz que a escola da filha optou por protocolos menos rigorosos e mais humanizados. As crianças pequenas não usam máscara e também não há checagem de temperatura, mas o horário de intervalo dos pequenos e dos maiores é separado. Os novos protocolos exigem que os pais forneçam o material de uso para as sonecas, que os materiais da lancheira sejam etiquetados e que seja enviado um calçado extra para uso na escola. “Sempre ficam funcionários recebendo crianças na entrada, pegando materiais e recebendo as informações de saúde da criança e da família”, conta Fernanda. Não é permitido levar nenhum material fora da mochila, como bichos de pelúcia ou naninhas. Os pais também não devem entrar na escola, para evitar o contágio.

Já na Austrália, a brasileira Joana Nascimento nos conta que cada Estado tem se comportado de forma diferente. No Sul do país, com maior número de  casos, prevalece a quarentena com restrições rigorosas, bem como o ensino remoto para as crianças. No Estado Central, algumas regiões já estão retomando as aulas presenciais, focando na higienização das crianças. Porém, as professoras não usam máscaras, e já ocorreram casos de infecção.

Em meados de setembro, o retorno de casos em alguns países da Europa indicaram uma segunda onda de COVID-19. Mesmo seguindo os protocolos, em diversas escolas pelo mundo já são relatados surtos de contaminação, sobretudo nas escolas secundárias, com alunos mais velhos.

Para além de outros protocolos mencionados acima, em muitos lugares no Brasil, na impossibilidade das escolas ampliarem seus espaços, estão sendo propostos os regimes híbridos, com aulas virtuais e aulas presenciais com menos alunos nas instituições. Contudo, na prática, não há como seguir protocolos a risca sem levar em consideração as vidas e tantos sentimentos envolvidos em uma única decisão. Guardadas as devidas proporções da situação da pandemia em cada local, as experiências nos outros países nos mostram que não há uma receita de bolo para o retorno, mas é imprescindível uma política que se construa no diálogo entre governo, escolas e famílias.

Em meio a desafios e opiniões divergentes, deixamos aqui o aprendizado “da técnica do coração” passada por Fernanda Lourenço. Como podemos ver na foto, na impossibilidade de levar para a escola os objetos afetivos da filha, a mãe sugere uma brincadeira para nos lembrar de que o cuidado com as crianças e com quem amamos está, mesmo, em nossas mãos.

*Bacharel em Biblioteconomia, Especialista em Administração Pública, Servidora Pública Municipal. E-mail: kklupe61@gmail.com


Imagem de destaque: Fernanda Lourenço (Porto, Portugal)

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