Quanto vale uma vida? Uma canção para Latasha

Alexandra Lima da Silva

Latasha era uma menina negra de 15 anos que não tinha medo. A música favorita dela era Stand By Me, de Ben. E. King. E assim como na letra da música, a noite chegou cedo demais para Latasha Harlins. Ela não teve tempo de realizar os muitos sonhos que tinha. Uma bala na nuca interrompeu Latasha. 

O curta Uma canção para Latasha, merecidamente, foi indicado ao Oscar 2021 na categoria melhor documentário de curta metragem. Em apenas 19 minutos, sabemos como foi a breve vida de Latasha Harlins, afroamericana nascida em janeiro de 1976. Através do emocionante áudio da melhor amiga, é possível saber que Latasha era estudiosa, gostava de basquete, e tinha o sonho de entrar para uma faculdade e se tornar advogada. 

Os relatos das amigas de infância de Latasha são carregados de dor, revolta e trauma. São mulheres negras que tiveram a juventude devorada pela violência e pelo convívio com a impunidade. 

Latasha foi assassinada a sangue frio porque a dona de uma loja de conveniência a considerou suspeita. Ela foi morta por causa de uma garrafinha de suco de laranja que custava 1,75. 

O absurdo na morte de Latasha se conecta com muitas outras. É impossível não relacionar a morte de Latasha com outros assassinatos. George Floyd foi morto por causa de uma nota de 20 dólares. Quase 30 anos separam as mortes de Floyd e Latasha. Ambas foram gravadas. O mundo todo assistiu. Floyd e Latasha se tornaram sementes, símbolos na luta pelo fim do extermínio da população negra. 

“Quando a noite tiver chegado. E a terra estiver escura. E a lua for a única luz que veremos. Não, eu não terei medo”. Latasha merece muitas canções, porque ela não é um número, não é uma estatística. A vida de Latasha importa para muita gente.


Imagem de Destaque: Divulgação / Netflix

 

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