Por uma educação passível de questionamentos 

Bruna Gabrielle Lopes
Grazielle Tagliamento

A escola enquanto espaço de formação e socialização, ao longo da história, (re)produz diferenças e classifica as/os diferentes sujeitas/os, contribuindo para a (re)produção das normas sociais, tais como as normas regulatórias de gênero. Temáticas como gêneros e sexualidades, portanto, são urgentes nos currículos dos cursos voltados à formação de profissionais da educação, nas práticas pedagógicas com estudantes de diferentes idades e nos mais diversos contextos da educação formal e não formal, visto que a omissão e o desconhecimento sobre as diversas orientações sexuais e identidades/expressões de gênero invisibilizam a diversidade dentro do ambiente escolar, permitindo que ocorram processos de estigmatização e discriminação. Tais processos produzem graves consequências na vida das/dos estudantes que não se enquadram nos padrões sociais vigentes (SOUZA; SILVA; SANTOS, 2014).

Procedimentos de ensino, materiais didáticos, currículos e os demais processos que ocorrem no contexto escolar atuam como importantes tecnologias que visam o disciplinamento de corpos e vidas, do que é normal e do que não. Com isso, os marcadores da diferença, gênero, sexualidade, etnia/raça e classe, podem produzir opressões e desigualdades sociais para aquelas/es que fogem do suposto padrão, sendo assim ressaltada a indispensabilidade de questionar o que é ensinado nas escolas e como ocorrem esses processos de ensino. Pensar a formação e a atuação docente é requisito primordial para a implementação de propostas pedagógicas que foquem nas diferentes possibilidades de intervenções diante das violências enfrentadas pelas/os estudantes que fogem à norma heterossexual, branca e cisgênera (MORAES, 2017).

Cabe ressaltar também a relevância de refletir como são reguladas/os, normatizadas/os e vigiadas/os todas/os as/os sujeitas/os de acordo com seus gêneros, raças e classes nas mais diversas formas e contextos (LOURO, 2007), ponderando o quanto as práticas binárias e heteronormativas produzem desigualdades importantes. Inúmeras crianças e adolescentes vivenciam diariamente uma batalha para se manter dentro das escolas e para alcançarem a aprendizagem, sendo necessária a compreensão dos diferentes tipos de violência que se estabelecem no ambiente escolar para a formulação de políticas e intervenções de enfrentamento que visem acabar com essas violências (UNESCO, 2015).

Sem concordar com uma postura reducionista ou ingênua, supondo que toda a sociedade pode ser transformada a partir da escola ou que as relações de poder podem acabar em todas as instâncias, é indispensável problematizar e desestabilizar as conformidades do que é dado como “natural” (LOURO, 1997). É necessário que se reconheça que a escola, além de produzir e reproduzir conhecimentos, produz sujeitas/os de diferentes raças, gêneros, sexualidades e classes a partir de relações desiguais, apresentando-se comprometida com a manutenção de uma sociedade dividida; e que a prática escolar é também uma prática política que pode ser transformada e subvertida (LOURO, 1997).

Assim, para que a escola se constitua enquanto um ambiente capaz de garantir o convívio das diferenças e pluralidades, é fundamental que a equipe de profissionais da educação assuma um papel ativo e reconheça a temática de gêneros e sexualidades nas escolas enquanto uma possibilidade para o fazer pedagógico crítico e transformador (MORAES, 2017). É imprescindível que se pense o currículo escolar como um instrumento que pode ser de emancipação ou de opressão, de acordo com os caminhos que as/os docentes escolhem tomar. A educação é um ato político que deve passar por questões e reflexões fundamentais sobre a sociedade que se deseja ter.

 

Sobre as autoras
Bruna Lopes é mestranda em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

Grazielle Tagliamento é professora doutora do curso de psicologia da Universidade Positivo. Pesquisadora do NEPAIDS/USP. Ativista da LBL e da Rede LésBi Brasil.

Para saber mais
LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 6ª Edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: das afinidades políticas às tensões teórico-metodológicas. Educ. rev., Belo Horizonte, n. 46, p. 201-218,  Dez. 2007. DOI. 10.1590/S0102-469820070002000080. Acesse aqui.

MORAES, Silvia Piedade de. Práticas escolares: homofobia e resistências – a construção de um campo crítico de conhecimento. Revista Educação-UNG-Ser, v. 12, n. 1 ESP, p. 07-14, 2017. Acesse aqui.

SOUZA, Elaine de Jesus; SILVA, Joilson Pereira da; SANTOS, Claudiene. Diversidade sexual na escola: uma análise das representações sociais de educadores/as. Revista Educação e Cultura Contemporânea, v. 11, n. 25, 2014. p. 389 – 422. Acesse aqui.

UNESCO. La violencia de género relacionada con la escuela impide el logro de la educación de calidad para todos. Documento de política 17. 2015. Acesse aqui.


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