Pensando a Educação: repensando o pensamento!

Valter Machado da Fonseca

O que é o ato de pensar? O que é o ato de pensar senão a prática de dialogar conosco mesmos? Pensar significa realizar uma introspecção dentro de nossos próprios devaneios, em nossa própria angústia. Pensar talvez seja remexer em nossos sentimentos, em nossas emoções mais íntimas, mais profundas. Pensar talvez seja a recusa, insistente, persistente de aceitar as incongruências, o óbvio, a verdade da realidade profana do cotidiano. Pensar talvez seja a ousadia de dizer um retumbante, um sonoro “não” para nossas próprias dogmáticas verdades, consagradas universalmente ao longo da história humana em sua efêmera existência. Pensar é realizar a submersão nos labirintos mais profundos de nossa consciência, examinar e reexaminar de forma meticulosa a nossa condição de “ser” neste mundo. 

Pois bem, caros (as) leitores (as)! Definir o ato de pensar talvez seja uma tarefa das mais penosas. Talvez, ao tentar defini-lo estejamos de fato desconstruindo o próprio pensamento. Certa vez, um amigo me disse que o ato de pensar talvez seja uma maneira suave e dissimulada, até mesmo covarde de negar nossa própria essência enquanto seres humanos inacabados, imperfeitos, pois, ao detectarmos nossa própria incompletude, nosso inacabamento, mudamos nosso pensamento com o intuito de afirmar a ilusão de nossa “perfeição”. Que talvez este ato seja uma maneira discreta de desconstruir a nós mesmos. Talvez seja uma forma, uma expressão consciente de um processo inconsciente. Um processo interno de tentar falar de nosso estágio de incompletude humana, sem que seja preciso dizer as palavras, sem que seja preciso se submeter ao olhar e aos julgamentos alheios.

Pensar, meus camaradas, talvez seja “tirar um sarro” silencioso, escondido, de nossa própria imperfeição. Imperfeição que a prepotência humana acredita ser alguma forma de supremacia de nossa espécie sobre os demais seres vivos, tanto da Terra como de outros planetas e outras galáxias. Aliás, o ser humano tem a hipocrisia, a prepotência “suprema” de se achar superior à sua própria espécie. Ele tem a ousadia de, em seu completo estado de inacabamento, se achar um indivíduo pronto, perfeito, irrefutável, definitivo. E é nesta forma de pensar que acreditamos “enganar” nossa própria consciência, é nesta forma de pensar como seres supremos e não como sujeitos inacabados que residem as lacunas que podem ser preenchidas pelo pensamento repressor, totalitário, fascista. 

Quando repensamos o nosso “pensar”, chegamos à dolorosa conclusão de nossa condição de incompletude. Principalmente ao constatar que atacamos nossa própria espécie, matamos outros indivíduos, ceifando-lhes impiedosamente a vida. E fazemos isso, covardemente, em troca de que? De nada, absolutamente nada! Muitas das vezes (para não dizer a maioria delas) em troca de um pedaço medíocre de papel que chamamos de dinheiro. Será que esta é uma atitude de quem realmente pensa? Se isto é fruto do pensamento, talvez seja prudente que abominemos o próprio pensamento. A dita lógica da racionalidade humana sofre marcas profundas de nossa irracionalidade enquanto ser. Pensar exige o fato de realizar nossa objetivação, nas relações sociais com o outro, na percepção da nossa dimensão eminentemente social que nos faz verdadeiramente humanos. A nossa riqueza enquanto seres historicamente e socialmente construídos é a objetivação do sentido de “ser” ao invés do “ter”. 

Quando levantamos, pela manhã, pensamos o que faremos naquele dia. Pensamos no trabalho (alienado), cuja finalidade máxima é ganhar dinheiro. Ganhar dinheiro para que? Para comprarmos coisas, a maioria delas inúteis. Mas, o nosso pensamento ordena que compremos. É preciso comprar para fazer o dinheiro (papel, virtual ou não) circular e gerar mais dinheiro. E, para que gerar mais dinheiro? É preciso gerar mais dinheiro para enriquecer alguém, que em 99,99 % das vezes não somos nós. Mas, o nosso pensamento insiste que compremos. Monstruoso! Nosso pensamento nos ordena que consumamos produtos, em sua maioria inúteis, descartáveis. Mas a ordem é comprar para enriquecer alguém e, esse alguém não somos nós. Afinal, quem manda em nós? Quem somos nós, afinal? 

Assim, meus caros (as) amigos (as), é preciso tomarmos cuidado com nossos pensamentos! É necessário que saiamos da mediocridade de nos escondermos dentro de nós mesmos. É urgente que abandonemos a comodidade de nossa intimidade, em detrimento de interpretarmos a realidade concreta do mundo, das coisas do mundo. Como disse o “velho” Marx para os filósofos alemães: vocês pensaram o mundo, agora cabe a nós transformá-lo. É preciso que abandonemos o campo das ideias e do pensamento para intervir em nossa própria realidade, caso contrário, correremos o sério risco de atingirmos o estágio de pensar que realmente somos algo que jamais chegaremos a ser! O ato de pensar, talvez seja muito doloroso, pois muitas vezes significa expulsar de forma definitiva o horrível monstro que nos habita. Convém refletirmos sobre isto!


Imagem de destaque: MissLunaRose12

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