Lucinete Gadelha da Costa
Falar do Giro do Bicentenário pelo Amazonas é pensar os sentidos da educação para todos os grupos populacionais, incluindo os diferentes tipos de instituições educativas e escolares. O curso de Licenciatura em Pedagogia do Campo da Universidade do Estado do Amazonas – UEA – Escola Normal Superior, se originou do Grupo de Estudos e Pesquisa em formação de professores para Educação em Ciências na Amazônia – GEPEC/UEA. O mesmo é realizado no Município de Carauari em uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável no estado do Amazonas, como resultado de uma ação originada da reivindicação de comunidades nelas existentes mediadas de forma coletiva pelo Fórum do Território do Médio Juruá, num movimento rico de articulação entre universidade e sociedade abrindo caminhos para um processo de construção de parcerias inicialmente com a Fundação Amazonas Sustentável – FAS e em processo envolvendo outros diferentes sujeitos coletivos até chegarmos ao Convênio com a CAPES.
A proposta formativa aponta preocupações na formação do professor, frente à realidade do contexto rural amazônico, em razão das relações históricas, bem como com a formação dos sujeitos com os quais ele irá trabalhar, crianças, jovens e adultos através dos processos educativos desenvolvidos nas escolas. O projeto pedagógico do curso tem como finalidade a construção de uma perspectiva formativa articulada ao compromisso frente ao contexto amazônico em que os sujeitos envolvidos no processo de formação de estudantes, professores e comunidade desenvolvam sua capacidade reflexiva possibilitando uma leitura crítica da realidade no campo educacional.
A perspectiva curricular fundamenta-se pelos princípios da Educação do Campo num desenho em que os componentes curriculares se articulam através dos eixos orientadores que direcionam os temas geradores em cada período na relação com as áreas do conhecimento e apresenta a pesquisa como eixo articulador. Dessa forma, salientamos aspectos importantes a serem considerados neste caminhar, onde o campo da escola pública na Amazônia é caracterizado pelos povos da floresta e ribeirinhos, que apontam para o trabalho com elementos teórico-práticos que ajudem esses sujeitos a refletirem acerca da sua realidade e das contradições engendradas pelo capital no intuito da busca de um projeto de sociedade em que eles próprios tenham autonomia de pensar e de agir.
O curso traz a defesa de uma formação de professores que se contrapõe a um ideário identitário fixo para as diferentes realidades do país e se abre para a perspectiva de uma formação contextualizada, pautada nos princípios da Educação do Campo, pois há uma dinâmica e singularidades inerentes a essa perspectiva que podem atender a tais demandas quando leva-se em consideração seus sujeitos com seus diferentes saberes e fazeres, com suas próprias dinâmicas de vida e que precisam ser respeitadas em suas singularidades. No nosso entendimento, não se constitui em algo fixo, mas processual, possibilitando aos sujeitos envolvidos reflexões e ações concretas na formação de professores e como desdobramento desta na ação da educação básica em nosso contexto amazônico.
Este movimento se constrói através do diálogo e decisões coletivas dos processos que vão desde a construção curricular da proposta na universidade, passa pela formação dos formadores e se alicerça nos encontros e discussões compostos por todos os envolvidos como movimentos sociais, universidade, alunos e demais parceiros apresentando grande potencial de uma construção curricular dinâmica e comprometida com os povos da Amazônia.
Sabemos que vários são os desafios quando se pretende construir um processo pedagógico que leve em consideração as características acima mencionadas com ênfase na sustentabilidade, ecologia, biodiversidade, legislação ambiental, ética e formação humana, turismo de base comunitária, políticas públicas, inclusão e educação especial e relação família e escola. Portanto, o curso de Pedagogia do Campo consiste em um desafio da construção de um movimento de significações na formação dos professores que também estarão envolvidos nos processos formativos de outros sujeitos, e em sua atuação enquanto sujeitos que se constroem num processo contínuo de busca da qualidade da vida das pessoas, podendo ainda dizer, do bem viver para o grupo e para si e, neste movimento, constroem-se as relações dialógicas e democráticas.
A Educação do Campo, no Amazonas, em seus espaços não formais, compreendida a partir dos espaços da floresta e da beira dos rios, considerando suas temporalidades, territorialidades e diversidades socioculturais, constitui-se como espaço de práxis da Educação popular e, neste processo, volta-se à construção da escola que queremos, sendo necessário olhar para hoje (sua realidade), buscando no ontem aquilo que a construiu para sua compreensão e reconstrução em função de um amanhã que, não necessariamente, tem que ser pensado como algo distante, mas sim, como uma construção presente em nossos cotidianos em que se faz necessário considerar as singularidades, os saberes e fazeres das camadas populares. Isto é pensar a independência, as pluralidades, as diversidades, os sentidos da educação para todos os sujeitos dos Brasis.
Neste sentido, buscamos neste processo formativo provocar e refletir sobre as questões como o ambiente, sustentabilidade entre outros na valorização dos movimentos sociais presentes nesses espaços em que as comunidades são habitadas por populações que constroem suas vidas por entre os rios e florestas, salientando a necessidade de um currículo de formação em que o conhecimento ou a construção deste, seja ponto central no caminhar em processo na formação dos sujeitos do campo, das águas e florestas no contexto amazônico.
1 – Professora na Escola Normal Superior da Universidade do Estado do Amazonas. Doutora em Educação. Grupo de Estudo e Pesquisa em Formação de Professores para a Educação em Ciências na Amazônia (GEPEC-UEA). E-mail: lcosta@uea.edu.br
Fonte: Acervo do Curso de Pedagogia do Campo