Os ginásios escolares na construção da sociedade piauiense

Edilene Lima da Silva1

A história como campo que estuda o passado da humanidade tem a memória como uma importante aliada na produção do conhecimento. Assim, quando esta advém das experiências vivenciadas em espaços e lugares, como a escola, a mesma passa a ser considerada memória social. Esta memória nos coloca diante de práticas e representações significativas a respeito da História da Educação, evidenciando aspectos culturais e educacionais peculiares de uma determinada época.

Desta feita, quando pensamos em educação escolar, rapidamente, nos vem à mente a imagem de prédios escolares. No Brasil, a implantação de escolas demorou a acontecer, devido a sua grande extensão territorial e a dificuldade em edificá-las. Por esse motivo, tivemos, por muito tempo, a atuação dos mestres-escolas, como geralmente eram conhecidos os professores que atuavam, principalmente, nas localidades mais afastadas dos centros urbanos, além do funcionamento de cadeiras isoladas em diversos municípios, especialmente na zona rural.

No Piauí, essa realidade não foi diferente, a implantação da educação escolar se deu com avanços e retrocessos, devido entre outras coisas às irregularidades nas formas de povoamento, com regiões densamente populosas e outras quase despovoadas. Amparo Ferro, pesquisadora em História da Educação piauiense, em seu estudo sobre Educação e sociedade no Piauí republicano, ao mostrar o panorama educacional no estado, constata que a educação sofria interferência política na contratação de professores. Deste modo, tínhamos o ensino sendo ministrado por pessoas sem uma formação específica para o exercício da docência, o que perdurou por muitos anos nas cidades do interior.

A história do ensino secundário no Brasil tem sua origem no período colonial com os seminários e colégios jesuítas. A ênfase dada era no ensino das humanidades. Ao longo da história foram surgindo outros estabelecimentos educacionais como os liceus provinciais e o Colégio de Pedro II, criado na Corte. Este último, considerado modelo a ser seguido por outras instituições de mesmo nível. Os estabelecimentos de ensino secundário recebiam as seguintes denominações: ginásios e colégios.

No Piauí, assim como no Brasil, as transformações sociais fizeram com que a demanda pelo ensino secundário crescesse e com ela à necessidade de novas escolas. Essa expansão se deu com a construção de Ginásios e a oficialização (a oficialização foi a estadualização das instituições de ensino privada) dos já existentes, em diversos municípios.  Na década de 60 e 70 do século XX, foi possível verificar um significativo aumento no número de matrículas no ensino secundário público do Estado, impulsionado pelo processo de urbanização que se instaurava no período. Esse crescimento demandou esforços no sentido de expandir o nível de ensino e o crescimento da estrutura física escolar, com o intuito de oportunizar aos jovens da época acesso à escolarização, bem como a aquisição de conhecimentos de graus mais elevados. 

Como legado educacional, tivemos a Campanha Nacional de Educandários de Ensino Médio Gratuitos, como foi o caso do Ginásio “Professor Filipino Osório” na cidade de Pedro II, no Piauí. Entretanto, no estado, a primeira cidade a receber esse modelo de Escola Cenecista foi Jaicós. Depois, houve a implantação de mais outros dois ginásios ainda na década de 1960, “Marcos Parente”, em Canto do Buriti; “Nossa Senhora de Fátima”, em Fronteiras.

A expansão da escolarização secundária pública amplia sua dimensão com a oficialização dos ginásios já existentes em diferentes localidades do estado. Como exemplo, em 1961, a oficialização do Ginásio Picoense, que passou a denominar-se Ginásio Estadual “Marcos Parente”. No mesmo caminho, outros municípios do estado expandiram esse nível de ensino, a fim de ampliar as possibilidades de instrução para a juventude. Foi o caso de Floriano onde o governo propôs a criação da Escola Normal “Monsenhor Lindolfo Uchôa”, com o oferecimento do ciclo ginasial e pedagógico para aquela municipalidade e, na cidade de Oeiras, a Escola Normal de Oeiras. 

As escolas normais, aqui mencionadas, ofereciam o grau ginasial (4 anos), onde ministravam as disciplinas obrigatórias do curso ginasial, as disciplinas de preparação pedagógica, além do grau colegial (3 anos) com disciplinas do colegial secundário, incluindo as disciplinas pedagógicas direcionadas à formação de professores primários. Este breve histórico traz um pouco da História da Educação no Piauí que, ao longo dos anos, teve os ginásios escolares como referência importante na construção de uma sociedade escolarizada.

 

1 – Mestre em Educação. Professora na educação básica no município de Teresina-PI.

 

Para saber mais: 

SOUZA, Higo Carlos Meneses de. Um ginásio para a mocidade picoense: cultura escolar de uma instituição de ensino secundário (1950-1971). Dissertação de Mestrado, 2019.


Imagem de Destaque: Ginásio Estadual Picoense (1960-1969).

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