O pensamento anarquista

Antonio Carlos Will Ludwig

Ancorado em uma visão ampla podemos dizer que o anarquismo é uma concepção contrária a qualquer forma de organização baseada na hierarquia e a qualquer tipo de dominação, seja ela política, econômica, cultural ou religiosa. Faz a defesa de uma sociedade totalmente livre, incentivadora da cooperação, da ajuda mútua e da autogestão. Ao lado da social democracia e do socialismo ele integra uma doutrina política abrangente denominada progressismo que dentre várias particularidades pressupõe que o homem é um ser livre e racional, capaz de produzir uma organização comunitária desprovida de coação.

Os adeptos do anarquismo asseveram que ele assenta-se numa tendência libertária universal; que os homens, desde suas origens mais remotas, e durante um grande lapso, viveram em comunidades destituídas de Estado, fato que ainda perdura em alguns casos. Essa instituição é abominada pelos anarquistas, haja vista que, para eles, o Estado é sinônimo de atos de coerção e violência, os quais são negadores da liberdade. 

Do ponto de vista anarquista a liberdade é concebida como ausência ou pelo menos como carência de compulsão intencional. Nesse sentido, o desmantelamento do Estado significa a eliminação da causa mais relevante da coação, que tem o poder de intensificar até a quase plenitude as condutas de independência. Muitos anarquistas acreditam que as sociedades do futuro serão baseadas na autonomia e na ausência de linhas hierárquicas. O Estado deverá ser eliminado do cenário histórico juntamente com seus aparelhos de repressão. Caso alguma forma de governo permaneça, esta, provavelmente, será bastante minimizada e baseada no consentimento dos governados.

Os anarquistas tendem também a encarar a liberdade humana sob prismas diferentes. Alguns vêem as pessoas como seres autônomos, que elaboram seus projetos de vida independentemente do contexto social. Outros acreditam que a liberdade, e por consequência a afirmação da individualidade, é uma conquista obtida pelos homens vivendo em sociedade. 

Convém lembrar, entretanto, que há quem defenda que o anarquismo é, também, uma consequência, embora relativamente tardia, do Iluminismo e da Revolução Francesa. Com efeito, os adeptos dessa ideologia adotam o pressuposto de que os indivíduos são capazes de se modificarem e produzirem modificações por meio do desenvolvimento e aperfeiçoamento da razão. Depositam ainda bastante fé na educação, na generalização da alfabetização e na ampla oferta de livros.

Vale realçar, ainda, que o anarquismo tem um sério compromisso com a igualdade, tema básico do progressismo. Os seguidores de tal ideologia concebem que os seres humanos possuem certas necessidades físicas, mentais e culturais que devem ser atendidas igualmente no interior da sociedade. 

A esse respeito sabe-se que existem propostas divergentes. Há aqueles que propõem a coletivização dos meios de produção, cuja distribuição dos resultados seria baseada em critérios de trabalho. Outros defendem a posse comum tanto da propriedade quanto do que é produzido. A divisão dos bens se assentaria na necessidade de cada um. Um terceiro grupo aceita a propriedade privada desde que não haja exploração de outrem e que os contratos econômicos sejam mútuos. Finalmente, um conjunto de seguidores da ideologia anarquista abriga a ideia da derrubada do sistema capitalista, do Estado que lhe serve, bem como dos partidos e parlamento tendo em vista a reorganização da sociedade com base nas instituições sindicais.

No decorrer do tempo os anarquistas protagonizaram e participaram de várias ações. Em relação ao século presente podemos mencionar a criação do site Anarkismo.net que apareceu em 2005 junto com vários outros de diversos recantos do planeta, o Centro de Mídia Independente e as múltiplas feiras de livros. Se envolveram em movimentos antiglobalização liderados pela Ação Global dos Povos, fizeram protestos contra o avanço do neoliberalismo e algumas instituições que o representam, tais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, bem como em relação às guerras espalhadas pelo mundo. Muitas organizações anarquistas apareceram e têm se mostrado ativas em países do leste europeu desde o fim do regime soviético. Em nosso país temos a Federação Anarquista Gaúcha e a Federação Anarquista do Rio de Janeiro.

Embora o anarquismo seja um movimento relevante nos dias que correm ele tem recebido críticas daqueles que o estudam. Alguns dizem que o mesmo se aproxima muito da utopia, haja vista defenderem que a manutenção da ordem social requer o uso da ação repressiva. Outros asseveram que se trata de uma ideologia que seduz basicamente os jovens porquanto encontram-se atrelados em rivalidades contra qualquer forma de autoridade e em rebelião contra valores morais e sociais próprios das gerações mais antigas. Apesar desses senões inexistem elementos à vista que indiquem a sua derrocada no curto, no médio e no longo prazo. Ao contrário, o que se percebe é o dinamismo dos seguidores, seu visível fortalecimento e sua expansão em todas as regiões do mundo. 


Imagem de destaque: Freesvg

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *