EDITORIAL DO JORNAL PENSAR A EDUCAÇÃO EM PAUTA Nº253, 13 DE SETEMBRO DE 2019
Quem nunca foi incluído não pode, de fato, ser excluído. A verdade é que, no Brasil, boa parte da população brasileira jamais foi incluída nos projetos de desenvolvimento econômico e social elaborados pelas elites brasileiras. Daí, a luta secular dos “esquecidos da terra” para participar não apenas dos bônus, mas também dos bônus desigualmente distribuídos pela sociedade capitalista periférica que aqui se implantou.
Desde a Independência, e inclusive ela, todos os movimentos de mudança de regime político no Brasil, foram grandes negociatas realizadas pelo alto, por nossas elites masculinas e brancas, sob o patrocínio ativo do capital nacional e transnacional, como uma forma de evitar transformações “bruscas” que pudessem nos colocar, societariamente, a caminho de uma sociedade mais justa, mais democrática e mais igualitária. As relações autoritárias, o Estado a serviço dos poderosos e as desigualdades sempre foram, em nosso país, defendidas violentamente pelas nossas elites como um valor constitutivo na nação brasileira.
Contra isso, o Grito dos Excluídos, que ocupou as ruas brasileiras no último dia 07 de setembro, ecoou o lamento triste, mas também as vozes potentes, de uma multidão de brasileiros e de brasileiras. Organizadas a partir de vários signos identitários, as pessoas voltaram às ruas para lembrar que a independência é, ainda hoje, quase 200 anos depois, mais necessária do que nunca.
A vergonhosa submissão do governo brasileiro aos ditames estadunidenses e a entrega de nossas riquezas ao capital transnacional são exemplos cabais de que a “independência nacional” parece não passar, para Bolsonaro et caterva, de uma vã filosofia oriunda do “marxismo cultural”. No mesmo movimento, a destruição do Estado Nacional e de sua capacidade de operar políticas públicas garantidoras dos direitos de todos os cidadãos e de todas as cidadãs, nos distancia de uma sociedade mais democrática e menos desigual e violenta.
Numa sociedade em que a “liberdade da pátria do jugo português” se fez sobre os ombros da população negra escravizada, em nossas bocas e ouvidos parece reverberar continuamente a última palavra do “Grito do Ipiranga”: ….Morte! ….Morte! ….Morte! ….Morte!
Mas não é de morte que o outro Grito, o dos Excluídos, veio falar. Pelo contrário, lembrar e ecoar as mortes da população negra, indígena, pobre e, mesmo, das florestas e rios e toda a vida que abrigam, protegem e nutrem, é apenas um dos momentos de uma potente mensagem de vida. É da vida que se trata e é por isso que os movimentos sociais e todo o ativismo são odiados pelos adoradores da necropolítica: eles não suportam a imensa criatividade e diversidade da vida, de todas as vidas.
Se, contra uma Política de Morte é preciso defender uma Pedagogia da Vida, contra o falacioso Grito do Ipiranga é preciso contrapor o poderoso Grito dos Excluídos. A contínua ocupação dos espaços públicos mostra que há, e sempre houve resistências aos desmandos do poder, mesmo que essa resistência não tenha sido suficiente para conter a barbárie que nos assola. Mas, não nos esqueçamos, é porque houve, e há resistência que os fascistas de plantão não logram realizar completamente seus intentos. É por isso que hoje, mais do que nunca, é preciso resistir!
Imagem de destaque: Grito dos Excluídos/Lula Marques