Despertar: por outras pedagogias da natureza

Aleluia Heringer Lisboa

O meu raio de compaixão englobou tardiamente os animais. Sempre fui sensível ao sofrimento das pessoas e a destruição da natureza. Eles não me chamavam a atenção, apenas, compunham a paisagem. Estavam lá e existiam para nos servir. Me tornei vegana há 16 anos. O termo vegan foi utilizado pela primeira vez em 1944 por Donald Watson, e se refere a um modo de vida que busca excluir – na medida do possível e praticável – todas as formas de exploração e crueldade com os animais para qualquer propósito. Esse é o princípio e que, por exclusão, diz o que não é veganismo: uma organização, uma nova religião, novos mandamentos; um novo CNPJ com estatuto, regimento e líderes supremos.  

Com base nesse princípio dei início a um instigante despertar da minha própria vida. Desse processo de mudança – que, diga-se de passagem, é pessoal e intransferível – destaco cinco elementos. 

Primeiro, foi como se tivesse mudado de óculos, agora com lentes potentes que iluminaram a existência e a realidade dos animais não humanos que até então ignorava ou desconhecia. Segundo, veio junto com as novas lentes, novos ouvidos que me permitiram discernir sons e grunhidos de gritos de socorro e lamentos. Terceiro, minha mentalidade foi tomando nova configuração, pois a ética passou a questionar a minha própria moral. Um quarto elemento foi que reaprendi a comer, reeduquei o meu paladar, diversifiquei as cores e sabores das minhas refeições. Sempre cozinhei, mas foi preciso abandonar meus livros de receita e reescrever novos. Testei, errei, mas também aprimorei muitas receitas. Por último, nunca fui tão questionada. Quanto mais era bombardeada com perguntas, mais eu lia e me interessava pelo assunto. Me dei conta de um mundo que a cultura, a escola, a igreja, a sociedade, a indústria e a mídia, fizeram questão de apagar e cortar as conexões com outras áreas da minha, além de afastá-la do meu campo de visão. Não mudei de uma hora para outra, mas passei por um período de transição que durou três anos. 

Gostamos daquilo que já conhecemos. Apesar da plasticidade de nosso cérebro, os neurônios tendem a refinar caminhos já escolhidos. É mais econômico. Socialmente é assim que funciona também. Quando mudamos algo já estabelecido, o que mais encontramos são pessoas nos desestimulando. Quem quer fazer esse percurso precisará lidar com essas tensões, que são positivas e nos mobilizam para estressar os fundamentos de nossas convicções.  

Se no seu convívio próximo tem pessoas indo nessa direção, não as tenha como uma presença que ameaça, nem as desmobilizem. Aproxime-se. Sou adepta de atrair e despertar a curiosidade sincera das pessoas para o princípio da abolição animal, movimento que só fará bem para as pessoas, para o planeta e para os animais, afinal, “eu não preciso e eles não merecem”! 


Imagem de destaque: Morgan

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