Demétrio Magnoli e o bloco do eu sozinho – exclusivo

Dalvit Greiner

Demétrio é mesmo manhoso. Além de querer andar sozinho (o que é impossível) resolveu atacar quem gosta de turma. Como vivemos em sociedade, acreditamos que um bando de historiadores adora viver livres e em bando. Que contradição! Por isso, juntamo-nos sempre que possível. Temos algumas atividades solitárias, como a pesquisa e a escrita, mas em geral gostamos de festa e de encontros. Somos vaidosos: gostamos de mostrar o que pesquisamos, o que escrevemos e – o que é mais importante – o que defendemos. Poderíamos até tomar uma frase do tremendão Erasmo Carlos, lá dos anos 1960: Quem é da nossa gang não tem medo! Mas, também não fica procurando briga à toa, por vaidade ou preciosismos. Por isso, a gente aparece – sozinho ou em bandos – e defendemos tudo aquilo que acreditamos.

Hobsbawn nos alertava que nosso ofício não nos tornaria populares pois nosso compromisso é com o fato. O fato é verdadeiro. As interpretações, ora são apenas interpretações. Querendo ou não, aceitando ou não, o historiador não pode ignorar o fato. Aliás, ninguém. O fato existiu e é parte do passado. É isso que a fonte me diz: temos um áudio em que um Senador da República afirma tirar a presidente para “estancar a sangria”; um vídeo com o ocupante da cadeira da presidente afirmando que “a presidente não pode usar aviões da FAB para fazer campanha contra o golpe”; um juiz que, ao inquirir a presidente, entendeu que não é um desserviço à nação ela usar a palavra “golpe” para o que vem acontecendo. Como negar fatos? Outro fato: Magnoli não sabe como se escreve História.

Outra vez escrevi aqui, neste mesmo espaço, que uma das virtudes do professor é a incorruptibilidade, além da paciência. A incorruptibilidade é a marca de todo aquele que faz ciência. Por isso não acredito na opinião de empresas que produzem laudos científicos, de economistas que controlam bancos, de professores que vivem do mercado educacional, nem de jornalistas que trabalham em empresas de comunicação. Todos defendem a mesma coisa: a lógica do capital. Invariavelmente, o defendem cegamente. Não estão preocupados com o outro lado.

Como me ensinou a Geografia, a Terra é redonda. Como me ensinou a História, o Mundo tem dois lados. Na simplicidade marxista, para sermos didáticos, vencidos e vencedores. Cada lado tem uma imensa pluralidade de opiniões e de fazeres, porém numa lógica simplista ainda se faz presente a lei de Gerson (que péssima marca para o nosso camisa 8 da Seleção de 1970, mas ficou). Cada lado quer para si a vantagem, nesse caso, a razão. Querendo ou não temos um lado de lá e um lado de cá. Um lado que explora a força de trabalho do outro lado que a tem explorada. Um lado detém a informação e clama para si a liberdade de expressão e outro lado que não tem tempo para buscar essa informação na fonte. Portanto, o lado de cá não tem a liberdade de expressão, de fato, pois não detém os meios de divulga-la. Daí é preciso ouvi-la de quem tem poder e dinheiro para busca-la, reescrevê-la e divulga-la, ou não. Sim, a população fica refém das opiniões de uma grande mídia que defende abertamente o capital.

Assim, ao escrever que “Historiadores pela Democracia é um nome de vocação totalitária” demonstra o seu erro no entendimento do que são os nomes e as coisas. Apesar de dizer que “nomear é desnudar-se” (e isso é correto) não entendeu que os nomes querem dizer algo e o dizem com força. Historiadores pela Democracia demonstra exatamente a que veio. A defesa da Democracia e é claro que não se pode aceitar quem defende outra coisa nesse grupo. Aceita-se qualquer coloração, porém o que une o grupo é a defesa da Democracia. É excludente sim, porque marca um território, um campo de ação, uma opção, uma ideia. Veja bem: os partidos têm nome e se dizem democráticos. Isso não é ser totalitário, pois não impede que outros historiadores formem outros grupos. Vai uma sugestão: Historiadores pela Ditadura!

Um grupo – qualquer grupo – no presente não quer interpretar o passado. Ninguém para para escrever o passado no ardor da luta, apesar da História do tempo presente. Nem mesmo os historiadores. Na ação, não se quer fazer teorias. As pessoas e os grupos querem fazer política e assim deixar sua marca na história. É um outro caminho para algo que nem sabemos como existirá. Que bom que muitos de nós, das Universidades, saímos da nossa torre de marfim e ocupamos espaços públicos, defendendo não apenas teorias, mas práticas.

Com vê, professor Demétrio é preciso tornar claro qual é o seu lado pois, estar de um dos lados, qualquer lado é um compromisso moral para com a cidade. Dizer para quem trabalha, é dizer a quem deve defender com sua pena. Esclarecer as ideias que defende é muito importante. Definir os lados é muito importante. Sair do estúdio de televisão, da redação do jornal para ver o outro lado é muito importante.

Ezra Pound e Maiakovsky são dois poetas maravilhosos, mas eu cerraria fileira apenas com o segundo. Para mim é muito claro o lado que estou. Sei qual é o meu bando, a minha gang. É claro! Temos geógrafos do lado de cá, do nosso bando. Como não lembrar de Milton Santos que morreu na certeza de que outro mundo é possível. E nós acreditamos com ele. Ou como Willian Rosa, que morreu na luta que nós também lutamos.

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