Centenário de Paulo Freire – Editorial

Cíntia Borges de Almeida

Elaine A. Teixeira Pereira

Rita Cristina Lima Lages

Esperançar! Ação de dar ou ter esperança. Na condição de verbo requer a busca, o movimento de sair da inércia, de não desistir, de existir, resistir e jamais se conformar. O ano de 2021 é tempo/espaço para vivenciar este verbo. No Centenário de Paulo Freire, precisamos mergulhar na “Educação e Esperança” e fazer de outro modo, com novos sentidos, variados propósitos, com coragem e integridade. Como diriam os compositores Gilberto Gil e Caetano Veloso, “é preciso estar atento e forte” e, acima de tudo, manter a esperança dentro de nós e semeada em nossas ações. Esperançar é um ato revolucionário. O Pensar a Educação, Pensar o Brasil – 1822-2022 está voltado a este movimento. Nós, editoras do periódico Pensar a Educação em Revista, também assumimos este compromisso com você leitor, com você leitora!

Como parte da programação comemorativa ao Centenário de Paulo Freire planejada pelo Pensar a Educação, Pensar o Brasil – 1822-2022, o terceiro número, ano 07, do Pensar a Educação em Revista apresenta um balanço bibliográfico sobre o tema “Educação freiriana em contextos de mudanças sociopolíticas”. Consiste em um chamado para cada um e cada uma de nós movimentarmo-nos em busca de transformação, de (re)significação e de existência e resistência no campo docente.

O desafio lançado se pauta nas reformas educacionais dos últimos cinco anos e as implicações da pandemia para o trabalho do professorado, evidenciando o pensamento freiriano como fortalecimento da luta e da resistência para promover uma educação brasileira emancipatória, libertária, humanista e equitativa. Pensar o processo de escolarização diante das transformações que impactam a cultura escolar em um cenário desconhecido, de incertezas, de esfacelamento dos direitos sociais, a partir de uma perspectiva mais dialógica, incide na discussão sobre o compromisso profissional com ética e na inventividade da prática docente em tempos de descompromisso estatal com as políticas públicas educacionais e com a formação continuada do/a professor/a.

Ao considerarem os impactos sofridos por diversos setores da sociedade brasileira durante a crise sociopolítica que o país vem atravessando, a revisão promovida pelas pesquisadoras Profa. Ms. Lilian Moreira Cruz, Profa. Dra. Cláudia Celeste L. C. Menezes e pelo pesquisador Prof. Dr. Anderson Lins Rodrigues, docentes da Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC/BA e coordenadores do Programa Coletivo Paulo Freire; se apropria do pensamento de Paulo Freire nestes tempos de incertezas, e, em diálogo com as bibliografias de alguns estudiosos freirianos, propõe buscar forças inspiradoras  para pensar caminhos de resistência e luta, particularmente, na educação.  

Na primeira parte do artigo apresentado, ao selecionarem pontos de discussão nos estudos freirianos para enfrentarem a educação, com “conectividade, recriação, resistência e ousadia”, é possível observar os propósitos do trabalho e as características da escrita oferecidos por Cruz, Menezes e Rodrigues (2021). Com tom de esperança, as páginas redigidas anunciam a pluralidade de pontos de vista nas bibliografias selecionadas, embora tenham revelado convergência “na defesa da educação como prática da liberdade”.

Como a temática se constituiu em objeto de investigação? No texto desta edição, as revisoras e o revisor das bibliografias percorrem os caminhos referentes à formação de professoras e professores brasileiros, que dialogam e sustentam suas pesquisas em Paulo Freire como referencial teórico-prático, com destaque para a indicação de 10 autores/as, que em diferentes momentos, “contribuem significativamente ao fortalecimento dos aspectos críticos e humanistas da educação” : Fávero (2011); Menezes e Santiago (2014); Castro e Alavasim (2017); Scocuglia (2019); Silva e Barbosa (2019); Cruz,  Barreto e Ferreira (2020); Jesus e Razera (2020); Araujo et al (2021); Sales, Stascxak e Lima (2021); Holleben (2021). 

No mês de comemoração ao Centenário de Paulo Freire, em um contexto de pandemia e muitas dificuldades envoltas ao trabalho docente, a reflexão sobre práxis educativa deste intelectual é inspiradora no sentido da “repolitização do nosso olhar para realidade brasileira”. Para tanto, compreender o esfacelamento dos nossos direitos historicamente conquistados, pensar sobre a necessidade da nossa luta contra o retrocesso pedagógico, sem dúvida, é compromisso do professor e da professora para a conquista de políticas públicas educacionais, para o rompimento com uma educação bancária elitista, para o fortalecimento da diversidade e da pluralidade no espaço escolar, para a “reinvenção” de práticas docentes.

Em defesa de uma professora e de um professor engajado às experiências da comunidade escolar, assim como diante das dificuldades enfrentadas em contextos de enfrentamentos políticos, de crises e de falta de infraestrutura e precarização das condições de trabalho docente; a revisão bibliográfica proposta por Cruz, Menezes e Rodrigues (2021) reforça a importância de um movimento contínuo entre os envolvidos no processo educacional, assim como evoca a necessidade de que eles rompam com as mordaças, quebrem o silêncio e busquem uma prática libertadora, “trilhando caminhos de ascensão política por meio de uma prática dialógica”.

Como desfecho, com ênfase no “esperançar” como mola impulsora para nossas ações docentes, há um chamado a todas, todos e todes nós docentes para “planejar caminhos emancipatórios, libertadores, não elitistas e não excludentes para ofertar uma educação pública, longe das desigualdades e com direito à educação garantido” (CRUZ; MENEZES; RODRIGUES, 2021). Fica o convite à leitura na certeza de que, com luta, resistência e políticas públicas, faremos da escola e da educação um espaço democrático, justo e transformador.

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