Celebrações e rememorações das Independências de Sergipe e do Brasil

Joaquim Tavares da Conceição

Abrindo o Giro do Bicentenário em Sergipe, o texto a seguir traz as celebrações e rememorações das independências pelo estado e pelo Brasil. Em 8 de julho de 1820, o rei D. João VI decretou a emancipação política da Província de Sergipe d’El Rei, separando-a da Capitania geral da Bahia. Dois anos mais tarde, os sergipanos teriam outro acontecimento histórico a ser lembrado e comemorado, o “7 de setembro de 1822”, marco da Independência política do Brasil. Diante dessas duas significativas datas, em Sergipe, o ano 2020 foi tomado pelo espírito comemorativo do Bicentenário da Independência de Sergipe com a realização de atividades alusivas, ainda que replanejadas por conta da pandemia do Covid-19. No ano vindouro de 2022 será a vez de lembrar e/ou comemorar o bicentenário da Independência do Brasil!

Ao longo do Império e da República, essas Independências, de forma recorrente, foram relembradas e ensinadas nas escolas por meio de atividades e celebrações. Hastear as bandeiras, cantar os hinos, participar de desfiles cívicos ou de jogos, foram práticas marcantes nas trajetórias escolares de muitos sergipanos e tiveram a finalidade incutir valores relacionados à formação da identidade e/ou à nacionalidade e ao patriotismo.

Ainda no século XIX, essas práticas relacionadas às rememorações das Independências tiveram lugar de destaque nas cerimônias escolares na primeira capital da província de Sergipe, São Cristóvão. Com a transferência da capital para Aracaju, em 1855, as comemorações foram tomando diferentes sentidos e lugares marcantes no calendário escolar. Com o passar do tempo, as festividades em torno da “semana da pátria” o “7 de setembro”, tomou tamanha intensidade na cultura escolar que acabou superando as comemorações da emancipação política de Sergipe. 

 Uma marca de destaque na cultura sergipana, o “desfile de 7 de setembro” dos estabelecimentos escolares na capital Aracaju, especialmente na República, marcou de modo especial a forma de celebrar a Independência do Brasil. Ruas e avenidas da zona central da capital ficaram registradas na memória de gerações de sergipanos como lugares da realização dos desfiles cívicos escolares, com destaque para a avenida Barão de Maruim, que a partir dos anos de 1980 até os dias atuais se consolidou como o espaço dos desfiles cívicos escolares da “semana da pátria”. Escolas públicas e particulares, da capital e do interior, garantiam os preparativos – fardas de gala, adereços temáticos e a banda de música – para o grande dia de festividade e exibição institucional.

Aspecto do Desfile de “7 de Setembro” do Colégio de Aplicação da UFS

Os estabelecimentos escolares localizados no interior do estado também se faziam representar no desfile do “7 de setembro”. Para muitos estudantes era também a primeira oportunidade de conhecer a capital, Aracaju. De outro modo, escolas localizadas no espaço rural realizavam os desfiles internos em comemoração à “semana da pátria”. A imagem da capa deste texto ilustra um típico desfile interno em comemoração ao “Dia da Pátria” que ocorreu na Escola Agrícola Benjamin Constant, no ano de 1955. Observa-se, em primeiro plano, o pelotão dos alunos curso de Operário Agrícola e Ginasial; em segundo plano, as alunas do curso de Economia Doméstica Rural conduzindo os pavilhões e puxando o pelotão desse curso.  

Mas nem tudo foi festa. Mais contemporaneamente, manifestações estudantis de discordâncias a participação dos desfiles cívicos do “Dia da Pátria” existiram, especialmente para demonstrar oposição ao regime político ditatorial que se iniciou no Brasil a partir de 1964. Igualmente, se somaram críticas à exaltação de um patriotismo, muitas vezes, irrefletido, em torno das festividades da Independência e as denúncias das ausências ou esquecimentos de parcelas da população brasileira nessas celebrações. Nas celebrações cívicas, o negro, quando lembrado, quase sempre estava associado a um passado de escravidão, e os povos indígenas restritos a uma narrativa romantizada. Modos de representar esses povos que impediu, por muito tempo, refletir a respeito das lutas pelas liberdades e protagonismos deles em diferentes setores da sociedade sergipana e nacional.  

Que o espírito comemorativo do bicentenário da Independência do Brasil promova reflexões e posicionamentos que ouse mudanças. Que o espaço escolar e o das ruas se abram para o protagonismo dos excluídos e/ou esquecidos da história.  Que as celebrações promovam a valorização e o respeito à diversidade, às mulheres, aos povos e à cultura dos indígenas e dos afro-brasileiros. E que tudo isso aprimore a nossa condição humana de forma a revelar-se em nossa sergipanidade!

 

1 – Professor do Colégio de Aplicação da UFS. Líder do Grupo de Pesquisa em História da Educação: Memórias, sujeitos, saberes e práticas educativas (Gephed/CNPq/UFS). Coordenador do Centro de Memória do Colégio de Aplicação da UFS.

 

Para saber mais:
CONCEIÇÃO, Joaquim Tavares da. A pedagogia de internar. História do internato no ensino agrícola federal (1934-1967). São Cristóvão: Editora UFS, 2012, p. 162.

Acervo do Centro de Pesquisa, Documentação e Memória do Colégio de Aplicação da UFS (Cemdap).


Imagens: Desfile cívico interno em comemoração ao “Dia da Pátria” na Escola Agrícola Benjamin Constant (São Cristóvão/Sergipe). 1955.  Aspecto do Desfile de “7 de Setembro” do Colégio de Aplicação da UFS. Pelotão das bandeiras (Brasil / Sergipe). Farda de Gala. Avenida Barão de Maruim (Aracaju), 1983. 

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