Ailton Krenak: Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano/2020

Cleide Maria Maciel de Melo

Fascínio, estranhamento, curiosidade… foram meus sentimentos quando li Krenak pela primeira vez! O modo particular de disposição das palavras foi entrando corpo a dentro, como se tivesse imantado. E fui seguindo o curso das páginas, ligada ao fio da argumentação, temendo perder as ideias. Não que fossem novas! Mas, as palavras ditas “de dentro” ganharam força em mim, neste momento em que a Covid-19 me levou ao isolamento social, situação essa que tenho o privilégio de vivenciar num sítio da zona rural.

Ailton Krenak luta pelos direitos dos povos indígenas. A questão central que o mobiliza nesse embate é: somos mesmo uma humanidade? A noção de humanidade, restrita ao ser humano, que deixa de fora a Terra — com seus rios/mares, florestas, montanhas — é colocada em xeque. E a cultura dos povos originários é resgatada como experiência de vida em que homem e natureza são UM.

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Em Ideias para adiar o fim do mundo (Companhia das Letras), título que é uma provocação, o autor desdobra numa série de questões o problema central de sua ação (o Posfácio, escrito por Eduardo Viveiros de Castro, traz o título Perguntas Inquietantes). O autor critica as instituições que criamos para manter as estruturas de humanidade que pensamos ser (universidades ou organismos multilaterais como Banco Mundial, OEA, UNESCO, ONU). O Antropoceno, época em que os humanos substituíram a natureza como a força ambiental dominante na Terra, ampara essa imagem fixa da Terra e de humanidade à qual nos apegamos. O desequilíbrio provocado por essa dominação pode nos levar ao fim do mundo: uma interrupção do nosso estado de êxtase, a perspectiva da queda.

No ensaio O amanhã não está à venda, Krenak põe em relevo a pandemia provocada pela Covid-19 e o isolamento imposto a todos os humanos. A possibilidade de interrupção de uma das fontes que garantem nossa existência (energia elétrica, por exemplo), nos leva à incerteza sobre o dia de amanhã. Para o autor, quem está apenas adiando um compromisso, como se tudo fosse voltar ao normal, está vivendo no passado. O futuro é aqui e agora, pode não haver o ano que vem. [Esse texto constitui-se num dos capítulos do livro comentado a seguir.]

Em A vida não é útil (Companhia das Letras), Ailton Krenak denuncia a grande concentração de riqueza e demonstra que não se come dinheiro, ou seja, numa situação de escassez extrema é possível não ter o alimento disponível para a compra. Essa situação não seria improvável considerando que somos a praga do planeta, uma espécie de ameba gigante… A técnica, como a máquina de fazer coisas que nos separa da natureza, bem como o capitalismo que a alimenta e mantém, criam a ilusão de que não precisamos morrer. As escolas também são objeto de crítica quando reproduzem o sistema desigual e injusto. Critica também o mito da sustentabilidade como vaidade pessoal (a certificação pode conter uma mentira), denuncia as mentiras embaladas (como economizar água, fazer alimentação orgânica, andar de bicicleta…), critica o uso que fazemos das religiões. Para o autor, as religiões, a política, as ideologias se prestam muito bem a emoldurar uma vida útil. E a vida não é útil! Viver é fruição, é uma dança… viver a experiência de fruir a vida de verdade deveria ser a maravilha da existência. Não é destino viver na desgraça!

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Não somos uma humanidade… AINDA! Mas, se atentarmos para as denúncias feitas por Ailton Krenak, se ouvirmos suas sugestões para adiarmos o fim do mundo, temos chance!


Imagem de destaque: Ailton Krenak em entrevista ao projeto Produção Cultural no Brasil.

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