Admirável Mundo Novo

Pedro Henrique Ázara de Almeida1

O livro Admirável Mundo Novo é sem dúvidas uma das melhores distopias já existentes. Escrita entre 1931 e 1932, a obra de Aldous Huxley foi capaz de prever inúmeros acontecimentos do mundo atual, como controle de humor, controle genético e de massa, fato que consagrou e estabeleceu dentre os clássicos da literatura moderna. 

Resumidamente, a obra fala sobre uma sociedade em Londres, no ano 632 d.F. (depois de Ford) que se deixou a evoluir muito com o progresso científico baseado em uma ética com valores e princípios deturpados e invertidos. As pessoas deixaram de usar a Ciência e o Estado como ferramenta para o progresso consciente e passaram a ser escravizadas por estes, ou seja, todos os indivíduos trabalhavam apenas para o governo e não para o seu próprio bem.

De modo simples, os indivíduos eram construídos a partir de uma indústria que seria na vida real uma indústria automotiva de modelo fordista. Muitos métodos eram utilizados, um dos principais e que hoje em dia vêm ganhando muita fama é a hipnopedia, muito acreditada por diversos behavioristas. A hipnopedia é uma técnica de aprendizado na transmissão de conhecimento utilizando o inconsciente durante o sono, por meio de áudios gravados que ditam comportamentos e conhecimentos gerais. Nos dias de hoje, há diversos adeptos à esta ideia, inclusive técnicas que prometem aprender Inglês dormindo, todavia ainda não há nenhum estudo que prove a sua devida eficácia.

Criados para ocuparem um lugar pré-determinado na sociedade, esses indivíduos eram agrupados em 5 castas ordenadas hierarquicamente. No topo desta pirâmide estavam os Alfas, indivíduos física e intelectualmente mais preparados, que compunham a classe terciária (administradores, diretores, gestores etc), seguidos por Betas, Gamas, Deltas e Ípsilons, integrantes da classe trabalhadora, responsáveis por fabricar tudo que existia na distopia. Mas nem por isso os menos desenvolvidos eram descontentes: “E todos eram felizes com o cargo que ocupavam, pois durante o processo de produção, condicionavam os embriões a ‘amarem o seu destino social de que não podem escapa’.” (HUXLEY, 2009, p. 44).

Problemas psicológicos prolongados são inexistentes nesta sociedade (com exceção dos protagonistas), qualquer tristeza ou angústia era resolvido com uma dose de uma droga chamada S.O.M.A., que fazia com que as pessoas esquecessem completamente seus problemas e adquirissem um prazer momentâneo. Contudo, a principal mensagem de Aldous Huxley na obra foi o perigo do avanço científico, sem o real valor da Ciência como uma ferramenta que ajude o ser humano a evoluir de modo consciente e libertário. 

O grande poder tornou a Ciência como principal assistente do governo e da tirania, escravizando todas as pessoas através de um método muito engenhoso, que não se demonstrava autoritário (aparentemente) pois já eliminou todas as formas de pensar e questionar e agir. 

Apesar de a Ciência se mostrar uma arma de última geração na luta pela emancipação do homem, que está sempre se aprimorando, ela está sempre sujeita a vontades, intenções e interpretações de quem a produz, o que ocorre na obra. Muitas das descobertas científicas são feitas por um grupo ou até por um único cientista, e isso aumenta muito as chances desses indivíduos colocarem suas ideologias e parcialidade no método científico. Temos muitos exemplos disso na história, como o Eugenismo, Piltdown Man e a doença do Rosto de Bicicleta, inventada no século XIX para fazer com que mulheres parassem de pedalar.

A Ciência deve ser usada como um método de contribuição para a humanidade e não para levá-la à dependência da mesma. Infelizmente não é isso que está ocorrendo na atualidade, podemos ver muita dependência da indústria farmacêutica, tecnológica e alimentícia (alto uso de remédios para controle de humor, Rivotril, vício em aparelhos eletrônicos etc). 

As pessoas estão cada vez mais escravas do dinheiro, do governo e da tecnologia e isso faz com que elas não percebam a realidade na qual vivem (o que exatamente ocorre na obra de Aldous Huxley). Inclusive, um grande método para fazer com que indivíduos não se questionem sobre a sociedade na qual vivem, a maneira como ela funciona ou até mesmo questões mais filosóficas é usado em muitas distopias (Admirável Mundo Novo, 1984, Fahrenheit 451), é o chamado controle sobre o tempo e rotina de cidadãos. Simplesmente, preencha todo o horário diário deles com inúmeras atividades, das mais bobas até as mais complexas. Assim, portanto, ninguém terá tempo para usar sua mente, e então vivendo como um robô. 

Felizmente esse mundo pode ser reversível se o percebermos o quanto antes (isso inclui o governo também). Podemos citar o hábito de questionar-se das coisas, vulgo Ceticismo, o maior uso do intelecto, melhor ensino de Filosofia nas escolas, principalmente no ramo da Ética podem ser as melhores ferramentas para evitar com que as pessoas se tornem escravas de um governo tirano que tire-lhes a liberdade individual. 

É interessante comparar essa obra com 1984, ambos livros comentam muito sobre a liberdade do indivíduo, porém um fala sobre a liberdade geral da pessoa, incluindo assim espionagens, controle do passado e muito autoritarismo (muito mesmo). Já Admirável Mundo Novo mostra uma realidade onde as pessoas já são aprisionadas por si mesmas, desde criança com o uso de condicionamentos como a hipnopedia, portanto já não é tão necessário o uso de ferramentas autoritárias como polícia, espionagens, tortura etc. 

“Mas tão útil! Estou a ver que não gosta dos nossos grupos Bokanovsky, mas, garanto-lhe, eles são os alicerces sobre os quais está edificado o restante. São o giroscópio que estabiliza o avião foguete do Estado na sua marcha inflexível. – A voz profunda vibrava, fazendo-o palpitar, a mão. O gesticulante representa implicitamente todo o espaço e o impulso da irresistível máquina. O talento oratório de Mustafá Mond estava quase ao nível dos modelos sintéticos.” (HUXLEY, 2009). 

1 Estudante do Colégio Estadual Doutor Osmar Bicalho, cursando o 3º ano do Ensino Médio. 


Imagem de destaque: Circulo do Livro

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *