A vigilância sobre o uso das tecnologias móveis na família e na escola. É proibido proibir?

Rômer Silva Castanheira*

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma

Até quando o corpo pede um pouco mais de alma

A vida não para

Enquanto o tempo acelera e pede pressa

Eu me recuso, faço hora, vou na valsa

A vida é tão rara

(Lenine)

A pesquisa e seus objetivos:

A pesquisa ora apresentada, ainda em processo, intitulada A vigilância sobre o uso das tecnologias móveis e os discursos na família e na escola. É proibido proibir?, objetiva compreender quais pressupostos são encontrados na construção dos discursos das famílias e da escola no que tange a proibição e vigilância por membros dessas duas instituições, no momento de interação de crianças com idades até 05 anos com aparatos tecnológicos, mais precisamente tecnologias móveis celular e tablet. A partir desse contato e do controle exercido pela família e pela escola, pretendo verificar de que forma e em que se baseiam as práticas de vigilância, proibição e controle.

Palavras Chave: Tecnologia, Vigilância, Infância

Introdução: Em um primeiro momento, tinha como proposta a observação de crianças na faixa etária entre 0 a 5 anos utilizando tecnologias móveis em diferentes espaços de convivência como na escola e na família, mas fui surpreendido com a regra de proibição do uso desses dispositivos por parte da escola e com as concepções presentes nas falas da Secretária de Educação e dos gestores de uma das escolas pesquisadas, motivo pelo qual, num primeiro momento, alterei o local de pesquisa realizando a observação no meio familiar.

Fiz, então, contato com quatro famílias que tinham em comum a presença de crianças com a faixa etária selecionada para a pesquisa. Em conversa com os pais das crianças dessas famílias e observando em diversas visitas realizadas, percebi o quão é diferente o posicionamento dos pais, fato esse que me despertou muito interesse de entender essa diferença.

Uma das quatro famílias não autorizou a observação com a criança, pais esses receosos com o fato de eu como pesquisador prejudicar a formação da criança e até mesmo induzir práticas com o uso de celulares nas brincadeiras dessa criança. Me senti desconfortável, mas fui até as outras três famílias que me autorizaram a observar essa relação criança e tecnologia móvel.

Ao conviver com as outras três famílias, percebi que as crianças tinham determinados limites e que os pais estipulavam horários, estabeleciam cronogramas e em conversas informais colocavam posicionamentos de controle e vigilância no uso e no tipo de conteúdo a ser acessado.

Como já tinha percebido a proibição do uso dos dispositivos móveis nas escolas e por parte da Secretaria de Educação do Município, além da negativa de observação por parte de uma das famílias selecionadas, momento em que optamos por modificar novamente o foco da pesquisa, agora buscando compreender os discursos e práticas de controle, vigilância e proibição na família e na escola, o que acreditamos ser mais interessante e que se encontra mais presente nos debates sobre infância e tecnologia nos dias atuais.

Alterações no decorrer do percurso são inevitáveis, tanto que modificamos pela terceira vez o objetivo central da pesquisa, mas mantendo a mesma temática de entrada no Mestrado em Educação que é a relação tecnologia e infância.

Metodologia: Assim, a pesquisa passou de uma perspectiva com viés etnográfico para uma baseada na análise do discurso francesa com autores como Foucault e Orlandi. Tendo como material empírico, os enunciados das famílias e da escola.

Até o momento foi possível traçar o perfil das quatro famílias pesquisadas que são bem diferentes uns dos outros, brevemente ressaltados nesse resumo. A primeira família, constituída por quatro pessoas, não se sentiu a vontade quando propus a observação de um de seus filhos quanto ao uso das tecnologias. O pai da criança me informou posteriormente que até aceita realizar uma entrevista, mas que não queria atrelar minha presença dentro da casa dele, à possibilidade de fortalecer o uso de celular por seu filho, o que tanto lhe preocupa.

Já a segunda família, também com quatro membros, se posicionou bem diferente da primeira família convidada, sendo totalmente disponíveis e abertos a minha presença nos ambientes familiares e se comprometeram em participar posteriormente da entrevista que pretendo realizar. O uso das tecnologias em conversa com os pais é constante e pelo pouco que percebi, há uma liberdade de acesso a essa inovação.

Quanto à terceira e a quarta família da pesquisa, com três membros cada, pai, mãe e criança, foi possível perceber que suas concepções e práticas parecem estar entre a preocupação exagerada da primeira família e a liberdade total da segunda. Assim, recebi o aval para observação inicial de seus filhos e eles aceitaram meu convite para a entrevista posterior sobre proibição e vigilância, o que juntamente com as outras duas citadas, ajudarão e muito nas reflexões e análises de minha dissertação.

A estrutura atual do texto de qualificação se inicia com um trecho da canção Paciência do cantor Lenine, do disco “Na Pressão” de 1999, que se posiciona no meio da antítese aceleração e calma, características que resumem uma linha do tempo dos modos de vida e das tecnologias presentes em diversos momentos na sociedade.

É interessante pensar que se antes tínhamos que ir munidos de papéis e canetas até bibliotecas para realizar nossas pesquisas, hoje trocamos o lápis pelo mouse, folhas por monitores, telas e teclados que já estão com aplicativos de pesquisa que fazem boa parte de tudo que teríamos que fazer. Adentramo-nos em um novo mundo regado por adventos tecnológicos, um mundo digital repleto por inovações e disparidades, com claras diferenças de acesso, inclusão e exclusão.

Nesse momento as crianças estão totalmente imersas nas tecnologias e são chamadas de nativos digitais, geração alfa dentre outras denominações e por isso, na parte de revisão bibliográfica do texto de qualificação, abordo a questão da tecnologia e das mudanças sociais ocasionadas desde o surgimento da prensa até hoje com o uso desenfreado de smartphones, celulares e tablets – as tecnologias móveis.

Segundo Santaella (2003, p.14), é certo também que, em cada período histórico, a cultura fica sob o domínio da técnica ou da tecnologia de comunicação mais recente. Dessa forma conceituo tecnologia conversando com autores como Levy, Castells e Martino e perspectivas da educomunicação nessa temática com importantes contribuições de Soares e Kaplun.

Como problematizo questões voltadas a proibições e vigilância, insiro no relatório de qualificação uma noção do que acontece no país. Insiro também as bases legais que proíbem ou restringem o uso dos celulares e demais aparatos tecnológicos nas escolas o que vai ao encontro com as perspectivas de minha ação no campo.

Também realizei, por um lado, pesquisa no Banco de Teses do Portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), momento importante na definição do foco de pesquisa e de quais caminhos percorrer. E, por outro, pesquisa em portais de noticias e sites noticiosos que veicularam essa temática, o que junto com a visão acadêmica do banco de teses enriquecerá minha pesquisa ao analisar o discurso dos sujeitos pesquisados.

Resultados esperados e proposta futura: Depois da qualificação serão feitas as entrevistas com as famílias e a análise das entrevistas já feitas com a Secretária de Educação do Município, com a Diretora e o Vice Diretor da escola selecionada no início da pesquisa, dentre outros atores da pesquisa.

Sobre as entrevistas na escola e nas famílias proponho alguns questionamentos sobre o uso das tecnologias pela família: em que situações a família usa a tecnologia? Por quanto tempo a família utiliza dispositivos móveis por dia? A família tem o costume de utilizar redes sociais, dispositivos, aplicativos, celulares, smartphones e tablets na frente das crianças? Sobre o uso das tecnologias pelas crianças: que sites acessa? Por quanto tempo? Sobre a vigilância e controle dos pais: Que tipo de vigilância os pais exercem quanto ao uso desses aparatos?  Há restrição de conteúdo acessado pelas crianças? Por que e como se dá essa vigilância?

Pretendo enriquecer a perspectiva teórico/metodológica com outros autores como Rivoltella, Girardello, Coscarelli, Ana Elisa Ribeiro, Marc Prensky, Eucídio Arruda, dentre outros.


REFERÊNCIAS

SANTAELLA, Lucia. Cultura e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo, SP: Editora Paulus, 2003.

*Mestrando em Educação pela Universidade Federal de São João del Rei

Imagem de destaque: Alexander Dummer

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