A universidade e seus currículos – por uma leitura humanista III

Roberto Rafael Dias da Silva

 

Tornou-se lugar-comum nas instituições de ensino superior a produção de um redesenho institucional, que não somente contribua para um reposicionamento de suas marcas, mas que oportunize a construção de novos currículos e itinerários formativos que respondam aos dilemas do século XXI. Não resta dúvidas de que estamos nos deparando com o advento de formatos curriculares inovadores, capazes de ofertar cursos dinâmicos, com design interessante e sustentáveis financeiramente. Uma questão, todavia, merece nossa atenção: qual seria o lugar das Humanidades nos novos arranjos institucionais? Ou ainda, uma questão mais abrangente, podemos redesenhar (totalmente) esta secular instituição?

Recentemente foi lançado no Brasil o livro “Construir e habitar: ética para uma cidade aberta”, escrito pelo reconhecido sociólogo Richard Sennett. Em obra dedicada ao planejamento urbano, o sociólogo revisa a prática profissional de construir cidades, desde o século XIX, através de uma preocupação acerca dos vínculos entre os lugares vividos e os lugares construídos. Procurando responder criticamente a questão: “a ética pode moldar o planejamento da cidade?”, Sennett sinaliza para três importantes características para a construção das cidades, quais sejam: “torta, aberta e modesta”.

O caráter “torto” da cidade, de acordo com o sociólogo, remete-se ao distanciamento entre a cidade vivida e a cidade construída, ou seja, existem fissuras e rearranjos arquitetônicos na definição do espaço urbano. As cidades deveriam também tornar-se suficientemente “abertas” de maneira que, ao conviver com as diferenças, as pessoas conseguissem viver em “lugares complexos de maneira boa”. Sennett ainda apregoa que as cidades sejam “modestas”, isto é, que respeitem os tempos, os hábitos e os modos de viver de seus habitantes.

Em momentos de reinvenção da instituição universitária, como este que estamos experienciando, parece-me que a ética proposta por Richard Sennett para construir e habitar as cidades nos traz importantes reflexões. Ao reposicionarmos uma instituição multissecular, responsável por custodiar o conhecimento historicamente acumulado e gestar um futuro pleno de inovações, precisamos cautela – sobretudo no que tange ao lugar das Humanidades. Tal como o urbanismo sennettiano, precisamos que nossas universidades sejam “tortas”, “abertas” e “modestas”, pois assim chegarão mais perto das pessoas e conseguiremos colocar sob crítica o mundo que herdamos e aquele que desejamos construir. O redesenho institucional de nossas universidades somente se faz possível através do permanente diálogo com as tradições (acadêmicas e profissionais) e, mais uma vez recorrendo a Sennett, aceitando que este mundo nem sempre cabe em nossas pranchetas.

https://zp-pdl.com/get-quick-online-payday-loan-now.php https://zp-pdl.com http://otc-certified-store.com

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *